As concepções sobre o amor romântico foram se modificando no decorrer dos tempos. Mudanças externas inseridas pela sociedade. Num primeiro momento pela necessidade de manter a ordem, estabilidade e o controle das riquezas existiu o casamento por conveniência e o amor era colocado como algo da fantasia. Não existia a consequência: nos amamos e por isso nos casamos.
A Igreja e outras instituições estipularam uma série de valores e normas dirigidas ao amor. Inicialmente o amor só poderia existir se fosse por Deus. Já na sociedade de cortesia o amor por Deus é deslocado para a imagem da Dama, que não se trata de alguém real, mas algo inatingível. Os casamentos nesta época eram feitos por “arranjos comerciais”. O amor real não existia, podia somente ser vivido na fantasia do “enamorado” e do poeta.
O amor cortês foi a primeira manifestação do amor como hoje conhecemos: uma relação pessoal. Surgiu no século XII com os trovadores pertencentes à nobreza da Provença, mais tarde estendeu-se a outras regiões da Europa. Até então, o que havia era o desejo sexual e a busca de sua satisfação, muito diferente da experiência do apaixonar-se vivida por esses jovens. Do amor fazem parte a aventura e a liberdade e não as obrigações e as dívidas. A virtude era o atributo que isentava esse amor de toda carnalidade. Os trovadores nunca cantavam o amor consumado. A maioria rejeitava claramente todo desejo de possuir suas damas. Exaltavam o amor infeliz, eternamente insatisfeito.
Poesia do amor cortês, a exaltação do amor, a visão da mulher idealizada e a não concretização do amor.
(Sem Título)
Preguntar-vos quero por Deus,
senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bom prez (1),
que pecados foron os meus
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
Pero (2) sempre vos soub'amar
des aquel dia que vos vi,
mais que os meus olhos em mi,
e assi o quis Deus guisar (3)
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
Des que vos vi, sempr' o maior
bem que vos podia querer,
vos quiji (4) a todo meu poder;
e pero quis nostro senhor
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bom prez (1),
que pecados foron os meus
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
Pero (2) sempre vos soub'amar
des aquel dia que vos vi,
mais que os meus olhos em mi,
e assi o quis Deus guisar (3)
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
Des que vos vi, sempr' o maior
bem que vos podia querer,
vos quiji (4) a todo meu poder;
e pero quis nostro senhor
que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
D. Dinis
Os casamentos nesta época eram considerados uma maneira de manter a ordem, riqueza e a reprodução. O matrimônio impõe o sério e a compostura. Nas relações entre os cônjuges poderia existir estima, mas não o amor. A paixão, o desejo, o impulso sexual eram entendidos como desordem e perturbação.
Em nossa cultura, concepções a respeito do amor romântico foram transformando-se e atualmente na sociedade atual as pessoas estão buscando consumir; o efêmero para proteger-se contra a intimidade, tornando–se indiferentes umas as outras. Esse fato não ocorre somente com o amor romântico, mas com as atitudes e comportamentos.
Apesar de vivermos numa sociedade consumista e efêmera, o amor romântico tem um grande espaço na realidade e no desejo de cada indivíduo. O amor passa a ser uma meta. Tenta-se a cada relacionamento encontrá-lo, mas ao mesmo tempo, as dificuldades e a intimidade que o amor real exige não são toleradas. Enfim busca-se um relacionamento amoroso, mas para acontecer a intimidade, nossas imperfeições e as dos outros vêm a tona. Será que estamos dispostos a pagar este preço?
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