terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Como medir o tempo?


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Estou quase de férias, menos coisas a fazer e em compensação mais tempo para pensar, para cuidar do tempo livre, sendo assim decidi pensar no tempo....

Se estamos fazendo algo que nos dá prazer o tempo voa, mas em compensação, quando estamos fazendo algo chato ou tedioso o tempo não passa. Enfim, como é possível pensar a mensuração do tempo pelo prazer e desprazer e não no tempo medido em segundos ou minutos? O valor que damos ao tempo  depende de nossa subjetividade.

Pensar no tempo, é nos deparar com a liberdade que o tempo ocioso nos dá, podemos fazer o que quisermos, ou fazer nada. Em compensação,  na atualidade, "não fazer nada" é ir completamente ao avesso das demandas sociais, àquilo que é supostamente correto, principalmente, nesta época de final de ano.

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"Time is money" que mentira cabeluda. "Tempo é dinheiro" é exclusivo àquele que  visa o lucro. Tempo não  é dinheiro, ao contrário vendemos nosso tempo por dinheiro, por pouco dinheiro ou muito dinheiro, mas com este mesmo dinheiro que obtemos com nosso trabalho, com o gasto do nosso tempo, podemos somente comprar coisas, e claro sobreviver, mas não podemos entrar numa loja, e comprar "tempo."Enfim, o tempo que vendemos à alguém, já está vendido e pronto. "Perdeu playboy"

Agora, quando se esgota o tempo que temos de vida, não recebemos aviso prévio, não somos avisados que o nosso tempo terminou. Morremos simplesmente. Alguns vivem 5 anos, ou 60 anos, outros ainda 104 anos, mas a morte é sempre inesperada. Não temos o menor controle sobre o nosso tempo de vida. Tentamos controlar nosso tempo, mas não temos controle algum, e infelizmente também, quase nunca  pensamos em aproveitar o tempo de uma maneira prazerosa, como se cada dia fosse o último dia.

Agora, se pensarmos no tempo como algo finito, continuamos a não controlar o tempo, mas podemos utilizar o tempo de maneira interessante. Trabalhar com aquilo que a gente ama, e não só porque teremos mais dinheiro ou poder, mas pelo próprio prazer do minuto a minuto. Conviver com aqueles que desejamos, sorrir quando tivermos vontade e chorar também, por que não? Enfim o tempo está ai para ser utilizado como um bem precioso ou usar como qualquer coisa. A escolha é de cada um.
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Paula Adriana Neves Couto
Psicanalista
Consultório: Av Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Minha leitura : As cinco lições de psicanálise (1909) Freud.

QUINTA LIÇÃO

Freud na quinta lição inicia abordando a relação entre as insatisfações das necessidades sexuais (componentes eróticos pulsionais) na vida em civilização, e os sintoma como uma via de satisfação, dolorosa diga-se de passagem. O neurótico utiliza-se do sintoma para satisfazer parcialmente ou integralmente suas necessidades sexuais. Como os sintomas exercem este papel de substitutos das satisfações ? Segundo Freud, o indivíduo distancia-se da realidade, utilizando-se a fantasia para encontrar as satisfações do sintoma. 

É possível entender a resistência como algo inerente ao tratamento, pois abrir mão da satisfação que o sintoma proporciona é uma tarefa árdua ao neurótico, além disso o sintoma é composto de vários elementos que são dirimidos lentamente ao longo do trabalho.  

Sobre a resistência, Freud diz: "Não somente o eu do doente se recusa a desfazer o recalque por meio da qual se esquivou de suas disposições originárias, como também pode a pulsão sexual não renunciar à satisfação vicariante  enquanto houver dúvida de que a realidade lhe ofereça algo melhor." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

O neurótico foge da realidade como esta se apresenta, dura e  na maioria das vezes desprazerosa. O recalque é o caminho que  armazena os impulsos pulsionais no inconsciente. Os desejos infantis são recalcados no inconsciente, desde as primeiras fases da vida sexual, ou seja, desde os primeiros investimentos libidinais. Houve algum primeiro momento de satisfação total? Não, mas houveram satisfações parciais. 

No sintoma, há regressão tanto do ponto de vista temporal: a libido regride ao momento anterior, onde houve uma suposta satisfação. Formal: emprega os meios psíquicos originários e primitivos para manifestação da mesma necessidade. Sobre esses dois aspectos Freud diz: "Sob ambos os aspectos a regressão orienta-se para a infância, restabelecendo um estado infantil da vida sexual." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Diferentes dos outros animais, o humano é mortal, sexual e falante e isso traz perdas, pois sabemos que um dia iremos morrer, nossos desejos sexuais são singulares e o ato de falar é um sinal de que algo faltou, porque se estivéssemos satisfeitos não precisaríamos falar. Temos limites, A realidade comparada a fantasia é sempre insatisfatória, o neurótico mantém uma vida de fantasia, onde de alguma forma consegue satisfazer parcialmente suas necessidades e realizar seus desejos. Freud diz: "Nestas fantasias há muito da própria natureza constitucional da personalidade e muito dos afetos recalcados." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

O neurótico almeja uma satisfação impossível e se utiliza do sintoma para amenizar sua dor de ser humano. Entretanto Freud, num pequeno recorte abaixo, fala de uma correlação entre a realidade e a fantasia e uma suposta satisfação para alguns poucos que conseguem. Será que isso seria possível? 

"O homem enérgico e vencedor é aquele que pelo próprio esforço consegue transformar em realidade seus castelos no ar. Quando esse resultado não é atingido, seja por oposição do mundo exterior, seja por fraqueza do indivíduo, este se desprende da realidade, recolhendo-se aonde pode gozar, isto é, ao seu mundo de fantasia, cujo conteúdo, no caso de moléstia, se transforma em sintoma. Em certas condições favoráveis, ainda lhe é possível encontrar outro caminho dessas fantasias para a realidade, em vez de se alhear (afastar-se) dela definitivamente pela regressão ao período infantil." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Essa intersecção entre a realidade e a fantasia é impossível de se realizar, porque o humano é pulsional, não quer o que deseja ou deseja o que não quer. Sempre a realidade é faltosa. Quando alcança alguma coisa, já quer outra coisa.

Em Freud, ainda neste momento, haveria  indivíduos neuróticos, psicóticos e perversos, mas também aqueles que seriam saudáveis, sem qualquer problema psíquico. Diferente de como eu vejo, pois penso a neurose, psicose e perversão como estruturas e não como estados de doença ou não. Sendo assim essa parte do texto fica confusa, mas tentarei construir algo:

"Quando a pessoa inimizada com a realidade possui dotes artísticos(psicologicamente ainda enigmáticos) podem suas fantasias transmudar-se não em sintomas senão em criações artísticas; subtrai-se desse modo à neurose e reata as ligações com a realidade. (Cf. Rank, 1907). Quando com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses preciosos dons, é absolutamente inevitável que a libido, seguindo a origem da fantasia, chegue ao reavivamento dos desejos infantis, e com isso à neurose, representante, em nossos dias, do claustro aonde costumavam recolher-se todas as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver."As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

"Seja-me lícito referir neste ponto o que de mais importante pudemos conseguir pelo estudo psicanalítico dos nervosos, e vem a ser que as neuroses não têm um conteúdo psíquico que, como privilégio deles, não se possa encontrar nos sãos; segundo expressou C. G. Jung, aqueles adoecem pelos mesmos complexos com que lutamos nós, os que temos saúde perfeita. Conforme as circunstâncias de quantidade e da proporção entre as forças em choque, será o resultado da luta a saúde, a neurose ou a sublimação compensadora.  As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Segundo Freud a diferença do neurótico e o não neurótico(supostamente saudável) não está no conteúdo recalcado. O que faz um indivíduo adoecer é o caminho  percorrido pela libido na busca por satisfações substitutivas, ou seja, o sintoma é uma via dolorosa de investimento libidinal, mas existem outras vias de satisfação, exemplo sublimação.

Os primeiros investimentos libidinais do indivíduo  com o mundo externo são às figuras da mãe e do pai, e são justamente os afetos, as imagos, ideias e representações pulsionais envolvidos nestes primeiros e primitivos investimentos que são recalcados. Por que são recalcados? O recalque ocorre sob no mínimo dois aspectos: porque são grandes quantidades de carga de excitação envolvido nestes investimentos para um corpo infantil despreparado, e são desejos sexuais incestuosos e parricidas que são interditados.

Esses conteúdo pulsionais em qualquer tempo, em situação privilegiada são reinvestidos libidinalmente, promovendo a revivência destes antigos "amores". - transferência.

"Senhoras e senhores. Não lhes falei até agora sobre a experiência mais importante, que vem confirmar nossa suposição acerca das forças instintivas sexuais da neurose. Todas as vezes que tratamos psicanaliticamente um paciente neurótico, surge nele o estranho fenômeno chamado "transferência", isto é, o doente consagra ao médico uma série de sentimentos afetuosos, mesclados muitas vezes de hostilidade, não justificados em relações reais e que, pelas suas particularidades, devem provir de antigas fantasias tornadas inconscientes. Aquele trecho da vida sentimental cuja lembrança já não pode evocar, o paciente torna a vivê-lo nas relações com o médico; e só por este ressurgimento na "transferência" é que o doente se convence da existência e do poder desses sentimentos sexuais inconscientes. " As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Durante o trabalho analítico ocorre a transferência (não é uma situação exclusiva da análise, pode ocorrer a transferência nas diversas relações humanas) e consequentemente os sintomas entram em cena. O analista a partir desta situação transferencial colocada, trabalha com o paciente até os sintomas dissolverem-se. Segundo Freud: "A transferência surge espontaneamente em todas as relações humanas e de igual modo nas que o doente entretém com o médico; é ela, em geral, o verdadeiro veículo da ação terapêutica, agindo tanto mais fortemente quanto menos se pensa em sua existência. A psicanálise, portanto, não a cria; apenas a desvenda à consciência e dela se apossa a fim de encaminhá-la ao termo desejado." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Freud aborda os obstáculos à aceitação das ideias psicanalíticas até aquele momento (1909) pelos médicos ou pelos leigos:

    • Há certo determinismo na vida psíquica. Existe algo no próprio indivíduo que ele não acessa quando deseja. Existe uma parte de nós inacessível, se movimenta a partir deste determinismo. 
    • Existe uma divisão psíquica entre as instâncias: pré consciente/consciente e o inconsciente, o conflito existente entre estas instâncias e principalmente o medo de que a psicanálise traga a tona aspectos inconscientes, supostamente armazenados e protegidos são também obstáculos a aceitação da psicanálise. Aquela ideia de que se não mexer em alguma coisa que está quieta, a ideia permanecerá "adormecida". Entretanto, Freud já percebe a influência cabal do inconsciente nos processos conscientes, principalmente nas supostas moléstias psíquicas. 
Freud faz uma analogia bem interessante entre o trabalho  da psicanálise e o do cirurgião:  "(...)Todos sabem, porém, que o cirurgião não deixa de examinar, palpando o foco da moléstia, quando tem em vista realizar uma operação que há de proporcionar a cura completa. Ninguém pensa já em incriminá-lo pelos inevitáveis incômodos do exame nem pelos fenômenos pós-operatórios, desde que a operação tenha bom êxito e que, mediante a agravação passageira do mal, o doente alcance a definitiva supressão do estado mórbido. Em relação à psicanálise, as condições são semelhantes; pode ela reivindicar os mesmos direitos que a cirurgia; a exasperação (irritação) dos incômodos que impõe ao doente durante o tratamento é, uma vez observada a boa técnica, incomparavelmente menor que a infligida pelo cirurgião, e em geral nem deve ser tomada em consideração diante da gravidade da moléstia principal." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Outro obstáculo a aceitação da psicanálise está na questão: O que ocorre ao final do trabalho psicanalítico com os impulsos pulsionais supostamente libertados do recalque?

O desejo infantil no inconsciente é investido pela libido insistentemente, mantendo-se com grande carga de excitação,  portanto tem muito mais força, do que quando advém a consciência, nesta outra instância a tendência é o enfraquecimento. A partir da consciência essas moções pulsionais antes super excitadas, percorrem outros caminhos, ou seja,aquilo que estava fixo no inconsciente, se movimenta.

Quais os meios para tornar esses impulsos pulsionais  inofensivos à vida do indivíduo? Desses meios há vários. 

--> Na consciência ao invés do recalque há o julgamento de condenação. Há possibilidade de colocar em palavras, portanto há movimento.

"Como o indivíduo na época se achava ainda incompletamente organizado, não pôde senão recalcar a pulsão inutilizável; mas na força e madureza de hoje, pode talvez dominar perfeitamente aquilo que lhe é hostil." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

--> A sublimação é outra saída a esses impulsos pulsionais (desejos infantis). Freud tem vários conceitos sobre a sublimação. Reinvestimento libidinal nestes impulsos pulsionais, entretanto de maneira dessexualizada.

-->  Certa parte dos desejos libidinais recalcados devem ser satisfeitos diretamente, através da atividade sexual.  O indivíduo neurótico substitui parte de sua atividade sexual pelo sintoma, em contrapartida a medida que diminui os sintomas, sua vida sexual deve tornar-se mais interessante.

Esse finalzinho do texto achei genial, porque Freud fala do desejo como algo que mantem o indivíduo vivo e desejante:

"Não sei se da parte dos senhores considerarão como presunção minha a admoestação com que concluo. Atrevo-me apenas a representar indiretamente a convicção que tenho, narrando-lhes uma anedota já antiga, cuja moralidade os senhores mesmo apreciarão. A literatura alemã conhece um vilarejo chamado Schilda, de cujos habitantes se contam todas as espertezas possíveis. Dizem que possuíam eles um cavalo com cuja força e trabalho estavam satisfeitíssimos. Uma só coisa lamentavam: consumia aveia demais e esta era cara. Resolveram tirá-lo pouco a pouco desse mau costume, diminuindo a ração de alguns grãos diariamente, até acostumá-lo à abstinência completa. Durante certo tempo tudo correu magnificamente; o cavalo já estava comendo apenas um grãozinho e no dia seguinte devia finalmente trabalhar sem alimento algum. No outro dia amanheceu morto o pérfido animal; e os cidadãos de Schilda não sabiam explicar por quê.
Nós nos inclinaremos a crer que o cavalo morreu de fome e que sem certa ração de aveia não podemos esperar em geral trabalho de animal algum." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição