quinta-feira, 27 de novembro de 2014

CONFERÊNCIA XX - A VIDA SEXUAL DOS SERES HUMANOS

Nesta conferência Freud inicia com a questão: O que é sexual? Será que está relacionado apenas a reprodução ou a obtenção de prazer? Ou são as duas alternativas? E como as pessoas se posicionam frente ao sexo? Segundo Freud, o sexual é geralmente tomado como algo secreto, de que quase nada deve  ser dito.

Numa tentativa de normatizar ou padronizar aquilo que seria sexual, até pelas questões morais que envolviam a sexualidade, principalmente na época em que foi escrito esta conferência  (1916-1917). O sexual seria algo que diria respeito ao corpo, que ocorria a partir da puberdade, onde duas pessoas de sexos opostos teriam um ato sexual, onde a finalidade seria o prazer, mas principalmente a reprodução da espécie. Tudo aquilo que desviasse deste padrão, seria denominado de perversão.

Erotismo anos 20
Freud questiona o conceito de sexo vigente, e subverte o termo perversão: do desvio de padrão moral em relação ao sexo à  perversão presente na infância, com papel fundamental na função sexual no adulto. .

Freud aborda os diversos caminhos da sexualidade no sujeito adulto, que diferem do modelo vigente. Definindo dois grupos:

·         Quando há na pessoa uma mudança de objeto sexual com a finalidade de obter prazer sexual:



Homossexualidade:  no sujeito homossexual  somente as pessoas de seu próprio sexo podem excitar seus desejos sexuais, "Pessoas do outro sexo, e especialmente os órgãos sexuais destas pessoas absolutamente não constituem para eles objeto sexual e, em casos extremos, são objetos de repulsa." S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917)

Essa  modificação de objeto sexual não é considerada por Freud como perversão. O homossexual é aquele que assume posição, enquanto outros sujeitos que vivem os mesmos desejos vivem em conflito com sua homossexualidade latente. 


Outra possibilidade de mudança de objeto sexual:  trata-se da renuncia na união de dois genitais. O investimento é em alguma outra parte ou região do corpo. (Por exemplo, substituem a vulva pela boca ou pelo ânus.) Neste caso, pode ocorrer ainda a repulsa pelo órgão genital do parceiro, "Outros há que, realmente, ainda mantêm os genitais como um objeto - não, porém, por causa da função destes, mas de outras funções em que o genital desempenha um papel, seja por motivos anatômicos, seja por causa de sua proximidade. Neles, constatamos que as funções excretórias, que foram postas de lado como impróprias, durante a educação das crianças, conservam a capacidade de atrair a totalidade do interesse sexual." S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917)


Há quem abandone totalmente o genital como objeto sexual, e tomaram alguma outra parte do corpo como o objeto que desejam e investem sexualmente ( seio de mulher, um pé, ou uma trança de cabelos.) 



Fetichistas: são pessoas que abandonam totalmente qualquer parte do corpo do parceiro. Seu interesse, investimentos e satisfações sexuais giram em torno da presença de determinados objetos (peça de roupa íntima, sapato).  "Ainda mais atrás, nesse séquito, se enfileiram essas pessoas que requerem de fato o objeto total, mas fazem a este exigências muito definidas - estranhas e horríveis exigências - até mesmo a de que esse objeto devesse tornar-se um cadáver indefeso e de que, usando de uma violência criminosa, transformem-no num objeto no qual possam encontrar prazer. Mas basta com essa espécie de horror!" S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917) 

         Quando há na pessoa mudança na finalidade dos desejos sexuais: Ao invés da finalidade do desejo sexual, que seria o ato sexual, ocorre uma transformação, onde a satisfação sexual se dá num ato inicial ou preparatório.



Voyeur: São pessoas cujo desejo consiste em olhar outras pessoas, ou palpá-las, ou espiá-las durante a execução de atos íntimos, ou pessoas que expõem partes do corpo que deveriam estar encobertas, na obscura expectativa de poderem ser recompensadas, serem olhados por esse outro.

Sádicos/masoquistas: Causar sofrimento e tormento a seus objetos lhe satisfaz sexualmente: Nos masoquistas o prazer consiste em sofrer toda espécie de tormentos e humilhações de seu objeto amado, seja simbolicamente, seja na realidade.



A substituição da finalidade pelo simples fantasiar de seus atos.

“Ainda existem outros em que diversas dessas precondições anormais estão unidas e entrelaçadas; e, por fim, devemos nos lembrar de que cada um destes grupos pode ser encontrado sob duas formas: ao lado daqueles que procuram sua satisfação sexual na realidade, estão os que se contentam simplesmente com imaginar essa satisfação, que absolutamente não necessitam de um objeto real, mas podem substituí-lo por suas fantasias.” S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917)

Na prática clínica psicanalítica, Freud cita duas situações relacionadas a sexualidade que são fundamentais no funcionamento psíquico: 

 - Nos neuróticos, os sintomas são substitutos da satisfação sexual 
  
Histeria: qualquer parte do corpo da histérica pode ser investida como um órgão sexual pela via do sintoma. 

"Os sintomas da histeria realmente nos levaram a considerar que os órgãos corporais, além do papel funcional que desempenham, devem ser reconhecidos como possuidores de uma significação sexual (erógena) e que a execução da primeira dessas tarefas é perturbada se a segunda fizer exigências demasiadas. Inúmeras sensações e inervações, que encontramos como sintomas de histeria, em órgãos que não possuem conexão evidente com a sexualidade, revelam-se a nós, assim, como tendo o caráter de realização de impulsos sexuais pervertidos em relação aos quais outros órgãos adquiriram a significação das partes sexuais." S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917)

Para encontrarmos o caminho desta "perversão" na histeria é necessário percorrermos o caminho da interpretação do sintoma, pois a histérica não quer saber disso, sabe somente do mal estar que lhe aflige. Esse dialeto entre corpo erógeno, sexo, e linguagem é inconsciente. 

Neurose obsessiva: existe a pressão de impulsos sexuais sádicos excessivamente intensos, mas que são pervertidos quanto ao seu fim. Os sintomas na neurose obsessiva servem como defesa contra esses desejos sádicos. Portanto há uma luta entre a satisfação e a defesa. Quanto mais há satisfação, mais haverá defesa que aparecem como auto recriminações ao sujeito. Há uma excessiva sexualização no toque, no olhar, que na luta da defesa, retornam como: obsessão por lavar-se, temor de tocar.

Será que é possível distinguir seres humanos que apresentam a sua sexualidade normal e outros que apresentam uma sexualidade "perversa"? Já que mesmo na neurose os caminhos da sexualidade, a obtenção da satisfação sexual se mostra distorcida. se dá através do sintoma? 

A sexualidade ‘pervertida’ não seria senão uma sexualidade infantil cindida (dividida) em impulsos separados.

Por que os impulsos sexuais (desejos, investimentos e satisfações em relação aos objetos) só surgiriam na puberdade? Será que a sexualidade só estaria relacionada aos órgãos genitais? Claro que não, a sexualidade inicia desde muito cedo na vida de cada um de nós. Abordar a sexualidade na infância é abordar os impulsos e investimentos sexuais a objetos, sem que haja ainda o ato sexual propriamente dito ou satisfação sexual calcada nos genitais. Na infância esses impulsos e investimentos aparecem de uma maneira caótica, por isso perversa.  

"As crianças possuem tudo aquilo que se pode descrever como vida sexual, a justeza de nossas observações e a explicação para o fato de encontrarmos tantas afinidades entre a conduta das crianças e aquilo que mais tarde é condenado como perversão." S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917)

A mãe satisfaz as necessidades básicas do bebê, o mantendo alimentado e  quentinho. Os impulsos sexuais surgem junto a essas primeiras satisfações. O bebê por sua vez, mesmo sem fome, em outro momento, após esta primeira satisfação, reinvestirá novamente nesse objeto (seio materno), a fim de reencontrar aquele primeiro prazer.  

As primeiras satisfações que ocorrem na vida do bebê, advém da satisfação de suas necessidades, e um "além" proporcionado pelo seio materno. A satisfação de prazer surge da  excitação própria da boca do bebê em contato com o seio.. Surgindo então a boca como uma zona erógena. O seio é um objeto interno ou externo do bebê?

"Se um bebê pudesse falar, ele indubitavelmente afirmaria que o ato de sugar o seio materno é de longe o ato mais importante de sua vida. E nisto o bebê não se engana muito, pois nesse único ato está satisfazendo de uma só vez as duas grandes necessidades vitais. Por isso, não nos surpreenderemos ao saber, por meio da psicanálise, quanta importância psíquica conserva esse ato durante toda a vida. Sugar ao seio materno é o ponto de partida de toda a vida sexual, o protótipo inigualável de toda satisfação sexual ulterior, ao qual a fantasia retorna muitíssimas vezes, em épocas de necessidade. Esse sugar importa em fazer o seio materno o primeiro objeto do instinto sexual." S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917)

Em determinado momento, do prazer encontrado no contato boca/seio materno é deslocado ao prazer encontrado no investimento do próprio corpo do bebê(polegar ou sua própria lingua).  Quando o bebê volta essa busca de prazer  a seu próprio corpo, descobre que pode obter prazer em si mesmo sem consentimento do mundo externo. Esse momento é denominado Auto erotismo. 

Duas características decisivas da sexualidade infantil: Ela surge ligada à satisfação das principais necessidades orgânicas e se comporta de maneira auto-erótica. 

Em que momento o mundo externo retorna a vida do bebê como fonte de investimento e obtenção de prazer? Ou o bebê se "nutre" de duas fontes, uma que advém do seio ou substituto e uma segunda fonte do auto erotismo? 



Não interessa se a satisfação encontrada advém de uma maneira externa ou interna. Todo prazer é sentido como advindo de dentro e o desprazer advindo de fora.  Trata-se de uma satisfação no corpo e que se encerra ali, no próprio corpo. Não se trata de um corpo considerado um todo, sendo tomado como objeto de investimento libidinal, mas partes de um corpo vivido como fragmentado, sem unidade.

Quando o bebê urina ou evacua também obtém prazer em seu corpo (sentido nos órgãos excretórios). A cada dia, o bebê consegue obter mais prazer neste ato, através das excitações das zonas erógenas da membrana mucosa. Entretanto esta sensação prazerosa advinda de dentro do próprio corpo se depara com o imperativo do controle educacional dos esfincteres advindo do mundo externo(mãe ou educadores): A criança não pode mais obter prazer a partir de suas funções excretórias, mesmo assim, em relação as fezes, a criança dá  imenso valor a seu produto: por ser uma fonte de prazer no corpo e por ser um presente produzido por ela, que presenteia ou não à mãe. 
  
Sobre o controle esfincteriano adquirido pelas crianças, Freud diz: "Então, pela primeira vez, a criança é obrigada a trocar o prazer pela respeitabilidade social. No início, sua atitude para com suas excreções é muito diferente. Não sente repugnância por suas fezes, valoriza-as como parte de seu próprio corpo, da qual não se separa facilmente, e usa-as como seu primeiro ‘presente’ com que distingue as pessoas a quem preza de modo especial. Mesmo depois de a educação ter atingido seu objetivo de tornar essas tendências incompatíveis com a criança, esta continua a atribuir elevado valor às fezes, considerando-as ‘presentes’ e ‘dinheiro’. Por outro lado, parece considerar com especial orgulho a proeza de urinar." S. Freud. Conferência XX -  A vida sexual dos seres  humanos. (1916-1917)

A criança pequena se satisfaz  através de investimentos num  objeto externo, mas também na satisfação obtida em suas próprias zonas erógenas, as quais as genitais estão incluídas.  A masturbação inicia muito cedo na vida da criança e é uma forma também de satisfação no próprio órgão. Freud não delimita a questão da masturbação a satisfação do órgão, mas a deixa em aberto para novas indagações.

O pênis para criança é fonte de interesse, prazer e frustrações. Até determinado momento na constituição da criança, todos os seres tem pênis, até que ela descobre que nem todos  seres o tem: para o menino isso pode ser uma ameaça a esse objeto que é fonte de prazer, no caso da menina, não ter pênis é uma constatação. Com essas idas e vindas sobre a sexualidade e a diferença anatômica entre os sexos e as identificações constrói-se aquilo que é masculino e aquilo que é feminino, Entretanto essas descobertas sobre a diferença entre os sexos não é sem perdas, frustrações, privações, e a castração como pano de fundo. Enfim o Complexo de Édipo. 

A sexualidade também é fonte de curiosidade e investigação sobre a origem da vida para criança. As investigações sobre a sexualidade iniciam cedo: questionamentos sobre a origem dos bebês(da onde nascem os bebês?). As crianças percebem que o pai tem algo haver com seu nascimento, mas não conseguem relacionar que o mesmo órgão que se urina, se faz bebê e com isso a criança constrói hipóteses e conclusões sobre a sua origem e sua história de vida. 

A infância não é tão inocente, pura e isenta de qualquer satisfação de prazer, muito pelo contrário. A criança tem que lidar com uma intensidade de excitações, desejos, investimento em objetos. A sexualidade é também para criança uma fonte de  questionamentos. Ninguém sai ileso da infância, até porque a criança constrói essa "fábula sobre a sexualidade", calcada em imagens, em fala dos pais por vezes depreciativas, em não ditos, em segredos, em imperativos.  E essa construção da criança repercute na vida da pessoa em todos os aspectos. 
O sexual não pode ser visto somente pelos genitais, ou visando a reprodução. A sexualidade de cada um é diversificada e com suas excentricidades. É impossível pensar a sexualidade sem a marca do seu tempo, desarticulada de conceitos morais. Entretanto, há sempre diferença entre o que as pessoas falam de sua sexualidade, daquilo que as pessoas fazem no sexo. 




Ao me debruçar sobre este texto, fiquei pensando na sexualidade na contemporaneidade. Antes o sexo era algo encoberto, marcado de segredos. Que não deixa de ter a sua graça Atualmente a sensação que tenho é de excesso: de informação, de explicites do sexual, do "pode tudo", inclusive pode não querer fazer sexo, são os assexuados. 

Quais marcas no sujeito, o nosso tempo deixará?   O que transmitiremos as próximas gerações? 


Paula Adriana
Praticante de psicanálise

email: paulaadriana.couto@gmail.com

  



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O que quer uma mulher? A busca pelos ideais contemporâneos e o frequente encontro com a insatisfação.


Toda mulher busca para si um traço que a identifique como mulher. ela não existe como um todo. A mulher esta sempre em busca um traço, uma marca, um contorno como a maquiagem, roupas exuberantes, enfim algo que recubra sua falta fundamental.

Nosso primeiro espelho é o olhar de nossos pais. Nosso corpo é marcado pelo investimento pulsional desses e por seus ideais narcísicos. Desde o nascimento e durante toda infância somos em parte objeto de manipulação pelos outros, mas somos também sujeitos. 

Antes do nosso nascimento, somos seres falados, caracterizada pelos desejos dos pais. Nosso nome é escolhido, nosso lugar é determinado e expectativas são projetadas para nós, mas não estamos totalmente passivos nessa constituição, apesar de estarmos alienados no desejo do Outro. Somos a princípio banhados pelas palavras maternas, por seus toques que delimitam nosso corpo e marcam em nossa carne o seu desejo materno.

Na adolescência nos deparamos com um corpo em transformação, vivenciamos o luto do nosso corpo infantil, momento em que colocamos em xeque as palavras dos nossos pais, apesar de essas palavras ainda serem referência.  Ë nesse momento também que damos maior importância ao bombardeamento de revistas, filmes, anúncios de publicidade, que nos fornecem a imagem do que é ser uma mulher. Os ideais massacrantes da cultura que parte de um padrão irrealizável.  

Num primeiro momento acreditamos que com esforço pessoal será possível a aquisição dessa imagem perfeita: estudo, trabalho e academia seriam meios para se adequar a esse modelo. Pertencer a um suposto grupo de mulheres que ao mesmo tempo são sexys e femininas e/ou fálicas e feministas,  porém por mais que a mulher busque isso e a sociedade imponha esses modelos sobre o que é ser uma mulher, essa questão esta sempre aberta, o que torna a mulher a cada dia  mais insatisfeita. Não há “A mulher” como um grupo, cada mulher constitui sua feminilidade e seu modo de lidar com a castração de uma maneira singular, talvez por isso existam tantos modelos de roupas, maquiagens e cortes de cabelos femininos, é como se cada mulher precisasse afirmar-se como única. Mas como ser mulher? Talvez uma saída seja parar de buscar essas referências imaginárias do que supostamente deveria ser uma mulher e simplesmente ser mulher a partir de sua singularidade.

Talvez a busca de controlar o corpo, a sua forma, encobre uma dificuldade em voltar-se para si e buscar os próprios desejos, escolhas pessoais, a própria forma: de ser mulher, mãe, esposa, profissional, filha. Enfim, todas as possibilidades que o feminino contém. A feminilidade é uma construção e é imprescindível rejeitarmos um modelo pré-fabricado, do que é ser mulher, em favor de buscarmos nosso próprio estilo.

Luto e melancolia (1917)


Neste artigo Freud discutiu a Melancolia, fazendo uma analogia com o estado de luto. Ambas condições são decorrentes da perda de determinando objeto, importante ao sujeito. (objeto amoroso, liberdade, ideal, pátria). Dois textos anteriores são articulados neste texto: Sobre o Narcisismo: Uma introdução (1914), onde o Eu e sua constituição são colocados em pauta  e As Pulsões e seus destinos (1915) o viés econômico da pulsão e do aparelho psíquico.

O que é a Melancolia e o que é o Luto?

O luto é uma reação à perda de algum objeto. No luto supõe-se um tempo de elaboração. Algo muito querido se foi, e o luto precisa ser elaborado. Alguns fenômenos são próprios ao momento do luto, como por exemplo a suspensão do interesse pelo mundo externo. Entretanto após este período, ocorre a  superação, e a vida  segue com novos investimentos. Na melancolia, há uma estado de animo profundamente doloroso, há também a suspensão do interesse pelo mundo externo. Na melancolia, nem sempre há um objeto concretamente perdido, ou por vezes há um objeto que se perdeu, mas o melancólico não consegue nomeá-lo: " (...) o doente não consegue nem dizer, nem apreender conscientemente o que perdeu..." S. Freud. Luto e melancolia (1917)

Existem traços em comum entre luto e melancolia: desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar e a inibição de toda e qualquer atividade.

A melancolia evolui do estado de animo profundamente doloroso e o desinteresse pelas coisas do mundo externo à depreciação de si mesmo, chegando por vezes ao delírio de punição de si mesmo. A inibição no melancólico é enigmática porque absorve a pessoa completamente.  O eu se torna pobre e vazio. No luto é o mundo que se torna pobre e vazio.

A perda na melancolia é também inconsciente. O melancólico retorna a libido que investia no objeto supostamente perdido ao eu(narcisismo secundário - Psicose). Diferentemente da paranoia(outra estrutura psicótica), onde este reinvestimento no eu, traz consigo a ilusão de integridade na forma de certeza, a megalomania. Na melancolia, o reinvestimento no eu traz a depreciação de si mesmo e o rebaixamento da auto-estima. Por que isso ocorre, já que há um reinvestimento na libido no eu?

Freud sobre a Melancolia:
"O paciente representa seu ego para nós como sendo desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível, ele se repreende e se envilece, esperando ser expulso e .punido. Degrada-se perante todos, e sente comiseração por seus próprios parentes por estarem ligados a uma pessoa tão desprezível. Não acha que uma mudança se tenha processado nele, mas estende sua auto-crítica até o passado, declarando que nunca foi melhor. Esse quadro de um delírio de inferioridade (principalmente moral) é completado pela insônia e pela recusa a se alimentar, e o que é psicologicamente notável por uma superação da  pulsão que compele todo ser vivo a se apegar à vida." S. Freud. Luto e melancolia (1917)

Existe algo no melancólico que lhe consome. Junto ao objeto perdido, o melancólico perdeu  parte de seu eu, entretanto reinveste a libido em parte deste eu como se este fosse o objeto, isso causa conflito psiquicamente: as acusações atribuídas a si próprio, por vezes violentas, ou de caráter radicalmente críticos  se ajustam a outra pessoa, aquele objeto supostamente amado. As auto-recriminações a si próprio, são  recriminações feitas a um objeto amado que são  deslocadas do objeto ao eu da pessoa.

Por que ocorre esse deslocamento na melancolia tornando a vida desta pessoa por vezes insuportável? A libido livre não foi deslocada para outro objeto, retornou ao eu da pessoa. De uma maneira que há uma identificação do Eu com o objeto perdido. "Assim a sombra do objeto caiu sobre o Eu do melancólico." S. Freud. Luto e melancolia (1917)  Sendo assim, as recriminações,e julgamentos atribuídos ao objeto deslocam-se ao eu, a mercê da instância julgadora, a consciência moral: como se fosse um objeto, o objeto perdido.



A consciência moral oriunda do próprio eu (até esse momento, na Obra de Freud o conceito de supra-eu não foi construído), torna-se prevalecente. A consciência moral torna o eu sem atributos favoráveis. 

Segundo Freud:
"Uma ou duas coisas podem ser diretamente inferidas no tocante às pré-condições e aos efeitos de um processo como este. Por um lado, uma forte fixação no objeto amado deve ter estado presente; por outro, em contradição a isso, a catexia objetal deve ter tido pouco poder de resistência." S. Freud. Luto e melancolia (1917)

Neste texto há uma explicação de Otto Rank sobre a contradição a fixação do melancólico ao objeto amado e  perdido:

1.     A escolha objetal na melancolia é efetuada numa base narcísica, Frente a qualquer obstáculo há um retrocesso do investimento ao eu, na forma de uma identificação narcísica. 
2.     Essa identificação se torna substituto do investimento erótico. Caso haja conflito no par amoroso, isso não é impeditivo, pois o investimento já retrocedeu ao eu. Não existindo assim par amoroso (eu-objeto), mas sim, a relação é de (eu-eu). 
3.     Há uma regressão de um tipo de escolha objetal para o narcisismo original. 
4.    Na melancolia há um retorno a uma fase primitiva: o eu do sujeito tenta incorporar a si esse objeto, fase oral ou canibalista da constituição da libido. 

A identificação na melancolia é diferente da identificação na neurose, freud diz:

Sobre as identificações na neurose:"Também nas neuroses de transferência as identificações com o objeto de modo algum são raras; na realidade, constituem um conhecido mecanismo de formação de sintomas, especialmente na histeria. Contudo, a diferença entre a identificação narcisista e a histérica pode residir no seguinte: ao passo que na primeira a catexia objetal é abandonada, na segunda persiste e manifesta sua influência, embora isso em geral esteja confinado a certas ações e inervações isoladas. Seja como for, também nas neuroses de transferência a identificação é a expressão da existência de algo em comum, que pode significar amor. A identificação narcisista é a mais antiga das duas e prepara o caminho para uma compreensão da identificação histérica, que tem sido estudada menos profundamente."S. Freud. Luto e melancolia (1917)


  • O sadismo e o ódio contra o Eu,  presentes na melancolia:

Essa depreciação e tortura a si mesmo presente na melancolia  e na neurose obsessiva (neurose de transferência) confere uma satisfação da pulsão, pela via do sadismo e do ódio a um objeto que retornou ao eu da pessoa. Esse impulso sádico é em direção ao objeto, mas como isso foi incorporado, volta-se ao eu da pessoa. (RETORNO DA PULSÃO EM DIREÇÃO AO PRÓPRIO EU. 



Na melancolia  há satisfação pela via do sadismo através da autopunição, mas também uma satisfação vivida indiretamente, pela via do ódio. Uma vingança em relação ao objeto, através da identificação. O objeto amado torna-se o objeto odiado. (REVERSÃO AO SEU OPOSTO)

Desta dupla "satisfação", Freud diz:
"Afinal de contas, a pessoa que ocasionou a desordem emocional do paciente, e na qual sua doença se centraliza, em geral se encontra em seu ambiente imediato. A catexia erótica do melancólico no tocante a seu objeto sofreu assim uma dupla vicissitude: parte dela retrocedeu à identificação, mas a outra parte, sob a influência do conflito devido à "ambivalência", foi levada de volta à etapa de sadismo que se acha mais próxima do conflito." S. Freud. Luto e melancolia (1917)

  • A natureza do suicídio presente na melancolia: 
Na melancolia há um desinvestimento objetal e um retorno desta libido no eu, pela via da identificação, como se o objeto fosse "incorporado", o que causaria no eu a hostilidade e o julgamento a si mesmo, como se fosse aquele objeto perdido. Esse suposto objeto presente no eu da pessoa, vai ganhando intensidade, resultando muitas vezes em suicídio. A pessoa se mata como se matasse o objeto. Há um abandono do Eu, em favor do objeto, o tocante é que este objeto está em si. 
  • Mania
A melancolia por vezes é cíclica: do estado melancólico ao estado de mania. Estados opostos de uma mesma "doença". O conteúdo da mania, em nada difere da melancolia,  ambas desordens lutam com o mesmo "complexo", mas que, provavelmente, na melancolia o eu sucumbe ao complexo, ao passo que no estado de  mania há um domínio. 

A alegria, a exultação ou o triunfo, que nos fornecem o modelo normal para a mania, dependem das mesmas condições econômicas. No estado melancólico há um grande dispêndio de energia libidinal no investimento no suposto objeto perdido, a mania advém justamente de libertação deste quantum de energia psíquica. 

A mania segundo Freud: "Se reunirmos essas duas indicações, encontraremos o seguinte. Na mania, o ego deve ter superado a perda do objeto (ou seu luto pela perda, ou talvez o próprio objeto), e, conseqüentemente, toda a quota de anticatexia que o penoso sofrimento da melancolia tinha atraído para si vinda do ego e "vinculado" se terá tornado disponível. Além disso, o indivíduo maníaco demonstra claramente sua liberação do objeto que causou seu sofrimento, procurando, como um homem vorazmente faminto, novas catexias objetais." S. Freud. Luto e melancolia (1917)

Por que no luto normal não há um estado posterior de mania, já que houve a perda de objeto, o investimento, e um grande dispêndio de energia para elaboração do luto?

No luto, esse dispêndio de energia gasto é justamente à elaboração, feito pouco a pouco, num objeto do mundo externo. Na melancolia  o dispêndio de energia foi num objeto sem nome, incorporado ao eu, investido e não elaborado. O trabalho na melancolia é no sentido da manutença do objeto no eu. Outro ponto importante que deve ser ressaltado é que na melancolia existem aspectos inconscientes que não são lineares, e que fornecem "satisfação". 

Luto: "Cada uma das lembranças e situações de expectativa que demonstram a ligação da libido ao objeto perdido se defrontam com o veredicto da realidade segundo o qual o objeto não mais existe; e o ego, confrontado, por assim dizer, com a questão de saber se partilhará desse destino, é persuadido, pela soma das satisfações narcisistas que deriva de estar vivo, a romper sua ligação com o objeto abolido. Talvez possamos supor que esse trabalho de rompimento seja tão lento e gradual que, na ocasião em que tiver sido concluído, o dispêndio de energia necessária a ele também se tenha dissipado." S. Freud. Luto e melancolia (1917)

Melancolia: "No trabalho da melancolia, portanto, a consciência está cônscia de uma parte que não é essencial, e nem sequer é uma parte à qual possamos atribuir o mérito de ter contribuído para o término da doença. Vemos que o ego se degrada e se enfurece contra si mesmo, e compreendemos tão pouco quanto o paciente a que é que isso pode levar e como pode modificar-se. De forma mais imediata, podemos atribuir tal função à parte inconsciente do trabalho, pois não é difícil perceber uma analogia essencial entre o trabalho da melancolia e o do luto. Do mesmo modo que o luto compele o ego a desistir do objeto, declarando-o morto e oferecendo ao ego o incentivo de continuar a viver, assim também cada luta isolada da ambivalência distende a fixação da libido ao objeto, depreciando-o, denegrindo-o e mesmo, por assim dizer, matando-o. É possível que o processo no Ics. chegue a um fim, quer após a fúria ter-se dissipado quer após o objeto ter sido abandonado como destituído de valor. Não podemos dizer qual dessas duas possibilidades é a regular ou a mais usual para levar a melancolia a um fim, nem que influência esse término exerce sobre o futuro curso do caso. O ego pode derivar daí a satisfação de saber que é o melhor dos dois, que é superior ao objeto." S. Freud. Luto e melancolia (1917)

Será?
Neste texto Freud abordou questões importantes em relação ao narcisismo e a economia psíquica, entretanto, a partir da segunda tópica, com os conceitos de pulsão de morte, Supra-eu e a ideia de dor psíquica relacionada a pulsão de morte, talvez traga uma posição mais importante sobre o luto e a melancolia. 
Este texto:  Luto e melancolia (1917) é fundamental quando pensamos a depressão, mal da contemporaneidade. 


Paula Adriana
Psicanalista

e-mail: paulaadriana.couto@gmail.com



terça-feira, 4 de novembro de 2014

Conferência XVII - O Sentido dos sintomas - S. Freud (1916-1917)



Na conferência 17, "O sentido dos sintomas", Freud afirma que para a psicanálise o sintoma é rico em sentido e está tramado com os tecido da vida e o vivenciar das pessoas que os portam. 
Na clínica, frente a cada pessoa, por vezes me pergunto: Qual o sentido disto que o sujeito construiu  para ser/estar no mundo, que por vezes lhe causa tanto mal estar?
No momento em que foi escrito. o sentido dos sintomas, o trabalho analítico consistia em analisar, interpretar, traduzir, procurar as significações cifradas, deformadas para satisfazer o desejo inconsciente recalcado sem ofender a consciência moral do sujeito. 
O psicanalista diferente do médico, não trabalha diretamente sobre o sintoma. Qual a relação psicanálise e sintoma e a  medicina e o sintoma ?
O médico descreve o sintoma e os diagnostica como doença, medica sintomas, e acredita e "faz" acreditar que cura a doença. Já para o psicanalista o sintoma é essencial, porque através dele o inconsciente está em ação. 

O dizer de Freud sobre o trabalho do psiquiatra e do psicanalista:

"Na última conferência (Psicanálise e psiquiatria), expliquei-lhes que a psiquiatria clínica atenta pouco para a forma externa do conteúdo dos sintomas individualmente considerados, que a psicanálise, entretanto, valoriza precisamente este ponto e estabeleceu, em primeiro lugar, que os sintomas têm um sentido e se relacionam com as experiências do paciente." Conferência XVII - Os Sentidos dos sintomas - S. Freud (1916-1917)

Antes de abordarmos o sentido do sintoma, acredito que seja importante conceituar o que é um sintoma na medicina e em psicanálise: Na medicina o sintoma é um sinal de alguma coisa, indica uma doença que afeta um organismo.  Em psicanálise o sintoma é um sinal e substituto de uma satisfação pulsional que não se realizou para o sujeito. Enfim, se em medicina o sintoma é sinal de doença, em psicanálise ele é "substituto" da doença, ele é metáfora dela ou, é a própria doença. 

O sintoma nos ditos do analisante parecem não ter sentido, causam certa estranheza àquele que o escuta, sendo assim, o que Freud quer dizer quando diz que o sintoma tem sentido?

De acordo com a experiência particular de cada um, as coisas são percebidas sob um ponto de vista. Como se cada um tivesse uma perspectiva particular de vivenciar determinada experiência. Dizer que o  sintoma tem um sentido, é  como se houvesse um fio condutor que ligasse os fatos, sensações, sentimentos, de acordo com a experiência de cada um. As coisas terem sentido, ou a busca por um sentido é próprio ao humano, em qualquer estrutura psíquica, portanto há sentido até no próprio delírio da psicose ou no sonho. A questão do sentido é bem diferente na neurose e psicose, em ambos há uma conexão com a vida do sujeito, mesmo quando não parece haver. 


"Os sintomas neuróticos têm, portanto, um sentido, como as parapraxias e os sonhos, e, como estes, têm uma conexão com a vida de quem os produz. ("Conferência XVII - Os Sentidos dos sintomas - S. Freud (1916-1917))

Quando pensamos em sintoma neurótico, não podemos perder de vista que o sintoma existe porque houve alguma privação libidinal na atualidade, que colocou em movimento uma introversão libidinal para o terreno da fantasia(modo de  satisfação pulsional, sem que ocorra o teste da realidade). Sempre há privação, portanto o sintoma é próprio do sujeito neurótico.

Freud escolhe a neurose obsessiva para exemplificar o sentido do sintoma. Será que essa escolha foi aleatória, ou existe algo peculiar a neurose obsessiva em relação ao sentido dos sintomas?


"Essa neurose, conhecida como neurose obsessiva, não é tão comum como a universalmente conhecida histeria. Não é, se assim posso expressar-me, tão indiscretamente ruidosa; comporta-se mais como assunto particular do paciente, prescinde quase que completamente dos fenômenos somáticos e cria todos os sintomas da esfera mental. A neurose obsessiva e a histeria são as formas de doenças neuróticas em cujo estudo baseou-se inicialmente a psicanálise, e em cujo tratamento, também, nossa terapia realiza seus triunfos. Mas a neurose obsessiva, na qual o enigmático salto do mental para o físico não desempenha nenhum papel, se nos tornou, através dos esforços da psicanálise, realmente mais compreensível e conhecida do que a histeria, e temos constatado que ela apresenta muito mais flagrantemente determinadas características extremas da natureza da neurose." (Conferência XVII - Os Sentidos dos sintomas - S. Freud (1916-1917))


A neurótico obsessivo  ocupa-se de pensamentos em que realmente não está interessado. Ele tem noção de que há impulsos e ações nele que lhe parecem muito estranhos. Esses atos não lhe dão satisfações, entretanto não consegue parar de fazê-lo.


Essas obsessões( ideias fixas, preocupação contínua) por vezes não tem significação, ou ainda são vividos como algo sem importância para o sujeito. Esses pensamentos ou atos apresentam um tom de absurdo, que por vezes tomam a vida do sujeito, pois promovem uma intensa atividade psíquica e que desgastam o sujeito. 

Por outro lado o neurótico obsessivo tem pensamentos assustadores, com certa crueldade que o tenta por vezes a cometer crimes, na mesma medida o sujeito se resguarda de executá-los recorrendo a proibições, renúncias, e restrições em sua liberdade. Enfim o próprio sujeito a partir de proibições e restrições a sua liberdade defende-se de seus próprios pensamentos de crueldade. O sujeito cria rituais, atividades obrigatórias, que se tornam tarefas fatigantes e que não consegue se desvencilhar. 



Por que ou para que alguém "criaria" em si, atos tão intensos e absurdos que ao mesmo tempo tão desimportantes para viver a vida,  que toma grande parte da sua vida e por vezes restringindo sua liberdade? 


O caminho mais fácil, mas também ingênuo,  seria mandar o sujeito parar de fazer aquele ato. Ou explicar que aquele ato faz mal a ele. Ou ainda dizer ao sujeito: "Olha o que grande mal você faz a si mesmo."

Freud diz: 
"Ele(neurótico obsessivo) próprio gostaria de fazê-lo, pois está perfeitamente lúcido, compartilha da opinião dos senhores acerca de seus sintomas neuróticos, e até mesmo expressa-a espontaneamente aos senhores. Só que ele próprio não consegue ajudar-se a si mesmo. O que é posto em ação, em uma neurose obsessiva, é sustentado por uma energia com a qual provavelmente não encontramos nada comparável na vida mental normal. Existe uma coisa apenas, que ele pode fazer: realizar deslocamentos, trocas, pode substituir uma ideia absurda por outra um pouco mais atenuada, em vez de um cerimonial pode realizar um outro. Pode deslocar a obsessão, mas não removê-la. A possibilidade de deslocar qualquer sintoma para algo muito distante de sua conformação original é uma das principais características desta doença."(Conferência XVII - Os Sentidos dos sintomas - S. Freud (1916-1917))



Qual a direção de trabalho analítico com a neurose obsessiva, já que o sujeito sabe do seu mal estar, sabe até como poderia resolve-lo? Entretanto não consegue fazê-lo, ao contrário seu sintoma o atormenta. 
Por vezes é  perceptível ao neurótico obsessivo sua contradição (Incoerência entre .atos ou ditos sucessivos)  intensa e visível. Junto a isso, há no  neurótico obsessivo  uma dúvida e indecisão intensa, que faz com que o sujeito permaneça no mesmo lugar. tudo isso causa a restrição de sua liberdade e a perpetuação  de  seus sintomas.  




"Ao mesmo tempo, o neurótico obsessivo inicia seus empreendimentos com uma disposição de grande energia, freqüentemente é muito voluntarioso e, via de regra, tem dotes intelectuais acima da média. Geralmente atingiu um nível de desenvolvimento ético satisfatoriamente elevado; mostra-se super consciencioso, e tem uma correção fora do comum em seu comportamento. Os senhores podem imaginar que não é pouco o trabalho que se requer para se poder penetrar, por pouco que seja, nessa miscelânea de traços de caráter e de sintomas. E, de início, não pretendemos nada mais do que compreender alguns desses sintomas e conseguir interpretá-los."

Freud se utiliza de dois exemplos para demonstrar a configuração da neurose obsessiva e a possibilidade de trabalho, não vou utilizá-los neste texto. Vale a pena lê-lo, porque nos dá uma interessante visão do sentido dos sintomas e o trabalho do psicanalista. 


É importante ressaltar que após a escrita dessas conferências, muitas mudanças vieram na teoria. Freud escreve a segunda tópica, onde existe uma nova configuração de aparelho psíquico mais complexa, a chamada segunda tópica (eu/supereu/isso), além disso Freud produziu uma modificação na sua teoria das pulsões inserindo a pulsão de morte. Essas novas configurações trouxeram uma nova luz a questão do sintoma. 
Referencias:
Ocariz, Maria Cristina. O sintoma e a clínica psicanalítica: O curável e o que não tem cura. Via lettera editora. São Paulo. 2003.
Safouan, Moustapha. Seminário: Angústia,sintoma,inibição. Campinas SP. 1989.