A direção do tratamento
na neurose.
É possível falar em direção de
tratamento em psicanálise?
O analista dirige a análise, quando não dirige o analisando.
A regra fundamental em psicanálise é a associação livre. O
analisando em análise fala o que lhe vem a cabeça. Sendo assim o seu discurso habitual se desloca.
A partir do discurso analítico o analisante fala e retoma sua
história, seus mitos, suas dores e seus amores. Enfim , o sujeito "vê" o mundo por uma lógica particular e a partir das diversas identificações que vão sendo construídas no decorrer de uma vida. No decorrer da análise busca encontrar um sentido (verdade) que o nomeie.
A medida que passa a ouvir-se, percebe seus equívocos na
fala, seus paradoxos. E começa a implicar-se com aquilo que é falado. O analista
por sua vez através de suas intervenções favorece esse caminho/descaminho.
“Não é certeza, não é garantido, mas o analista é o único que
tem a chance de ser intérprete”.(lacan). Ele responde de um lugar justamente
por já ter recebido notícias de sua própria falta, de que não há um único
sentido, enfim o analista já teve notícia da castração.
Na análise o inconsciente é colocado em jogo, através do analista, pois a princípio o analisando geralmente não quer saber disso.
Desta forma, podemos
dizer que interpretação é o que objetiva uma análise: uma interpretação
não-toda de um sujeito dividido entre inconsciente e consciente. Enfim
sempre existirá um “resto” o umbigo do sonho pelo dizer de Freud inacessível.
Poderíamos nos perguntar, então, se a psicanálise, como
dispositivo clínico, não seria prejudicada por esse ponto de umbigo. A resposta
é não. Ao contrário, a psicanálise é a única teoria clínica que comporta uma
impossibilidade de saber no seu interior, o que a faz ser totalmente diferente
de todas as outras teorias e dispositivos de intervenção clínicos.
A partir da relação transferencial, o analista transmite uma
mensagem: “É você quem detém o texto e as respostas que procura, mas sou eu que
o dirigirei a elas”.
Frente a um não saber por parte do analisando, o analista
coloca em palavras algum tipo de significado, mas sempre algo incoberto, sempre
cuidando para não trazer um significado que não foi colocado pelo analisante. O
analista põe em palavras alguma coisa a ser transmitida. Transformando um
significado em significante.
Antes de iniciar uma análise
A pessoa pensa que seu problema é se adequar ao mundo,
adequar sua palavra a coisa.
Se ela ganha bem, ela é feliz. Se deixa de ganhar bem, é
infeliz
Se seu namorado lhe diz “Eu te amo, ela é feliz. Se isso não
ocorre é infeliz.”
O problema de sua
existência esta numa relação direta entre ela e o mundo, ou seja, entre a
palavra e o objeto, esta assujeitada a uma verdade referencial.
Enfim existe um objeto bem definido pelo qual se queixa e do qual ela
procura se curar. O mal-estar refere-se a essa coisa ruim que está fora do
sistema lingüístico que a língua nomeia.
Quando está em análise
O sujeito sai da verdade referencial para a verdade
contextual. A verdade não é mais buscada fora da língua, mas na própria
língua. A verdade é buscada na
associação livre, e não numa referência fora dela.
Um exemplo clássico, a carta 69 de Freud a Fliess: “Não
acredito mais na minha neurótica”, ou seja, não acredito mais na minha teoria
das neuroses. Até esse momento Freud acreditava que a histérica havia sofrido
de fato abuso e seu sofrimento era decorrente dessa sedução. Ao observar que
várias histéricas diziam a mesma coisa, Freud só tinha duas opções: ou achar
que todo pai era perverso, inclusive o seu, ou que havia algo comum ao discurso
histérico. Ele percebe que não se refere a um objeto fora, mas que é uma
construção própria da pessoa.
Referências:
Referências:
VEGH, I. As intervenções
do analista. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2001
QUINET A. 4+1condições
da análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
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