Na teoria lacaniana, o desejo do sujeito, advém do desejo do Outro. Este Outro
é anterior ao sujeito, determinado pelo simbólico.
Segundo Roza (1992), em Hegel, o desejo
do homem é o desejo de um outro desejante, como consciência. O desejo estaria
investido numa luta pelo prestígio com o outro, com o intuito de ser
reconhecido. Este outro esta presente, é contra quem se luta.
Num primeiro momento, haveria a
consciência de-si, humano ingênuo e
passivo. O indivíduo, sem relação com um outro, com a certeza e a ingenuidade
de uma criança, numa relação de contemplação ao objeto de abstração.
Num segundo momento, o humano já em
contato com o exterior, e em oposição a este exterior, é consciente de-si e para-si (além de si), este para-si
ocorre à medida que se tem consciência de-si.
Em suas relações com os objetos, este humano encontra-se numa posição ativa,
tentando incorporá-lo, a fim de que este faça parte dele. Quando ocorre essa incorporação
do objeto, há subjetividade, pois esta é fruto da incorporação. Em relação à incorporação
dos objetos Roza (1992) afirma:
“O sujeito surge
somente a partir do Desejo. É pela ação de assimilar o objeto que o homem se vê
como oposto ao mundo exterior. O primeiro desejo é um desejo sensual: o desejo
de comer, por exemplo, através do qual o homem procura suprimir ou transformar
o objeto assimilando-o. Nesta medida, toda ação surgida do Desejo é uma ação
“negatriz”, pois tem por objetivo a destruição ou transformação do objeto para
que o desejo possa ser satisfeito. No lugar da realidade objetiva (destruída ou
transformada), surge uma realidade subjetiva pela assimilação ou interiorização
do objeto. ”
O desejo do sujeito, em Hegel é um vazio, a ser satisfeito pelo objeto, é constituído, à medida que o objeto é transformado e incorporado. O objeto poderá ser natural ou não, entretanto só existirá desejo humano, quando o objeto não for natural. A fim de que se constitua um eu humano, é necessário o desejo de um outro, pois o que se deseja é o desejo do outro.
O desejo do sujeito, em Hegel é um vazio, a ser satisfeito pelo objeto, é constituído, à medida que o objeto é transformado e incorporado. O objeto poderá ser natural ou não, entretanto só existirá desejo humano, quando o objeto não for natural. A fim de que se constitua um eu humano, é necessário o desejo de um outro, pois o que se deseja é o desejo do outro.
Segundo Roza (1992), em Hegel, um
sujeito, só se constitui como sujeito desejante, se obtiver o reconhecimento do
seu desejo. E isto se dá a partir do embate com o outro, entretanto neste
embate entre as duas partes, não há morte de ninguém, pois a outra parte
precisa sobreviver, para que reconheça o desejo do sujeito.
Em Lacan, o Outro se apresenta como inconsciente e inconsistente. Inconsistente no sentido da falta, e é justamente, por essa causa inscrita no Outro, que o Outro diz respeito ao desejo do sujeito. A partir da falta no Outro, que se é levado a buscar aquilo que falta no sujeito.
É ao desejo do Outro, o grande Outro, da ordem simbólica que institui a Outra cena do Inconsciente freudiano.
Segundo Dor (1989), o desejo, advém da diferença entre necessidade e demanda. A necessidade seria o elemento bruto da pulsão, que impõe a experiência. A demanda, por sua vez, é o que, da pulsão, consegue passar a fala, anulando, convertendo nela o bruto da necessidade, entretanto é impossível que toda necessidade se transformeem demanda. O desejo é a
diferença inevitável entre necessidade e a demanda, impossível de ser suprimida,
fazendo sempre existir um significado a mais.
Em Lacan, o Outro se apresenta como inconsciente e inconsistente. Inconsistente no sentido da falta, e é justamente, por essa causa inscrita no Outro, que o Outro diz respeito ao desejo do sujeito. A partir da falta no Outro, que se é levado a buscar aquilo que falta no sujeito.
É ao desejo do Outro, o grande Outro, da ordem simbólica que institui a Outra cena do Inconsciente freudiano.
Segundo Dor (1989), o desejo, advém da diferença entre necessidade e demanda. A necessidade seria o elemento bruto da pulsão, que impõe a experiência. A demanda, por sua vez, é o que, da pulsão, consegue passar a fala, anulando, convertendo nela o bruto da necessidade, entretanto é impossível que toda necessidade se transforme
Segundo Santoro (2006), o desejo, que
se separa da necessidade, por ser falta a
ser, para além da demanda, inscreve a criança numa relação imperecível, com
o desejo do Outro. O desejo do Outro, se aloja na mesma insígnia da falta, por
isso não se destrói. É nesse ponto, que se constitui como objeto potencial do
desejo do Outro, possível de preencher a falta do Outro.
O significante barra a necessidade, e
produz a pulsão. A pulsão é o resultado da operação do significante sobre a
necessidade, e que produz um resto. Esse algo que escapa é o desejo. A pulsão é
definida por Lacan como resultado do funcionamento do significante, isto é da
demanda do Outro.
3.1 O Gozo
Durante a constituição do sujeito, há
entre mãe e bebê, uma relação sem mediação, anterior à ordem simbólica. Neste
primeiro momento, entre ambas as partes, há uma relação calcada numa suposta unidade.
A criança a mercê dos “caprichos” da mãe, como imperativo: goza! O bebê diante
do real do sexo. Que cederá ante ao significante e que é anulada pela função
paterna.
“O que eu chamo de
gozo, no sentido em que o corpo experimenta, é sempre da ordem da tensão, do
esforço, do gasto, inclusive da façanha. Incontestavelmente, existe gozo no
nível em que começa a aparecer à dor, e sabemos que é só neste nível da dor que
se pode experimentar toda a dimensão do organismo que de outro modo permanece
velada.”
O gozo, diz respeito à pulsão de morte, a tendência do “além
do princípio do prazer”, vivida em geral pelo sujeito como uma transgressão,
que produz angustia: trata-se da busca pelo gozo absoluto, algo que jamais
existiu, O sujeito, ao mesmo tempo, que não renuncia ao propósito de
satisfação, procura proteção contra o perigo da pulsão.
“Esse gozo do
Outro, cada um sabe a que ponto é impossível, e contrariamente mesmo ao mito
que evoca Freud, a saber, que eros seria se fazer um, justamente por isso os sujeitos
se arrebentam, porque em nenhum caso dois corpos podem fazer um por mais que se
abracem.”
Segundo Nasio(1993), o local por
excelência do gozo é o corpo. O inconsciente goza no corpo, o gozo não é o
prazer, mas o estado que vai além do prazer, ele é uma tensão excessiva,
inversamente ao prazer que é um rebaixamento das tensões.
Todo desejo inclui algum gozo, (a
renúncia já é uma satisfação), portanto o gozo não deve ser tomado literalmente
como necessariamente patológico.
“O gozo é aquilo que não serve para nada – mas que temos o
direito de usá-lo, abusá-lo – mas não muito – não que isso tenha alguma
utilidade, mas temos que usá-lo.”
Segundo Nasio (1993), todo ser humano
goza, não há como ficar sem gozar, porque o corpo exige satisfação, sempre parcial,
à medida que é atravessado pela linguagem. Há uma perda irremediável, a impossibilidade
do gozo absoluto, da felicidade ao mais elevado grau. O neurótico goza do gozo
fálico-parcial permitido pela Lei do pai simbólico: "Você pode gozar de
qualquer uma outra mulher, menos desta que é a minha e, ao mesmo tempo, sua
mãe".
O gozo do Outro é um estado hipotético, trata-se do escoamento total de energia, sem nenhum limite, estado ideal, que o neurótico imagina no Outro, ao mesmo tempo fascinante e aterrorizante. O Outro é um lugar vazio, um ser imaginário a quem é atribuída uma demanda. A busca de todo sujeito é retornar a um estado mítico, primitivo, paradisíaco, no qual nada lhe falte.
O gozo do Outro é um estado hipotético, trata-se do escoamento total de energia, sem nenhum limite, estado ideal, que o neurótico imagina no Outro, ao mesmo tempo fascinante e aterrorizante. O Outro é um lugar vazio, um ser imaginário a quem é atribuída uma demanda. A busca de todo sujeito é retornar a um estado mítico, primitivo, paradisíaco, no qual nada lhe falte.
“É claro que o que aparece nos corpos,
com essas formas enigmáticas que são os caracteres sexuais – que são apenas
secundários – faz o ser sexuado. Sem dúvida. Mas, o ser, é o gozo do corpo como
tal, quer dizer, como assexuado (…)”
Segundo Nasio (1993), além do gozo do
Outro, há outros tipos de gozo: O gozo do ser é um gozo fora-da-linguagem, que
suporta o corpo como tal e não o corpo mortificado pela linguagem. Do lado
desse gozo, está o gozo feminino, um gozo que, assim como o gozo do corpo é
inacessível, por não corresponder a nenhum desejo e, portanto, não pode ser de
forma alguma apreendido ou significantizado. O gozo fálico: relaciona-se a
energia que conseguiu se deslocar ao exterior, durante essa descarga parcial. O
prazer possível de ser atingido aquele com o qual o ser humano se contenta
parcialmente. É aquela instancia do gozo relativo a pedaços e partes do corpo:
o olhar, a dor e a voz. O mais gozar: é o plus
de gozar, seu antecedente é o conceito freudiano de ganho de prazer. Trata-se
do excesso de gozo como recuperação de uma perda. Neste caso o sintoma estaria
relacionado, pois o sintoma é o modo como cada sujeito sofre em sua relação com
esse plus de gozo, com esse excesso de gozo. Enfim o mais gozar relaciona-se à
quantidade de energia que foi retida.
Enquanto o desejo designa a falta, fazendo
com que o sujeito se desloque em objeto em objeto, sem jamais encontrar a realização
total. O gozo advém do real, onde não há mediação do simbólico, momento onde o
bebê estava à mercê do desejo do Outro, como falo, um momento de ilusão de
completude. Já o objeto causa do desejo, o objeto a, é fundamentalmente faltante. É justamente a falta que o torna
causa do desejo, esta divisão subjetiva no sujeito que leva o objeto a tomar o
lugar desta falta.
3.2 Objeto a
O objeto a é originário da lacuna existente entre o desejo da criança, e o
desejo da mãe. A criança deseja a capacidade de desejar da mãe.
Segundo Fink (1998), a criança tenta
descobrir de alguma maneira, o que permanece indecifrável, no desejo do Outro,
Lacan chama esta incógnita de X. O desejo do Outro começa a funcionar como
causa do desejo da criança.
A causa de seu desejo pode se tornar a
forma da voz de alguém, um determinado olhar que alguém lhe dirige. Este objeto
dá a criança, a ilusão de completude, afastando-a da divisão subjetiva
inerente. E quem fornece esta ilusão, é a fantasia (S/ ◊ a), cujo matema significa: o sujeito
dividido em relação ao objeto a.
O objeto a é uma parte destacada da
imagem do corpo, não é o seio, não é o corpo da mãe, mas tem como função
sustentar a “falta a ser”. A
substituição de uma falta por outra falta.
Não é o “Das ding”, mas é algo
que vem em seu lugar. É um índice e resíduo da coisa, aquilo que permanece da
perda absoluta, é um furo, uma falta central onde se organizam os
significantes. Enfim, objeto a é uma letra que expressa uma ausência,
a impossibilidade, pois toda satisfação que advém é fugaz. Fazendo
constantemente o objeto a renascer
em outro lugar, fazendo-o deslizar de
significante a significante.
Segundo Balbure(1994), este objeto, é o
eco da divisão inerente no aparelho psíquico, marcando a falta estrutural do
sujeito. A partir desta falta, o sujeito estará sempre buscando, e
lamentando-se por não encontrar um objeto que tampone esta falta. O sujeito, no
decorrer de sua vida, encontrará diversos substitutos, deste objeto que faz
falta. Uma ilusão, que faz o sujeito movimentar-se. A pulsão é a responsável em
contornar a objeto a, e retornar a fonte, entretanto, como este objeto é uma
falta, o resultado deste contorno é marcar a falta. A satisfação será sempre
parcial, permanecendo para sempre a insatisfação, fazendo com que a pulsão
permaneça em movimento.
Enquanto o objeto a é a causa real e indivisível
do desejo, algo além da significação, como real, não significando nada. A parte
significantizável do desejo é o falo, como significante da falta ou da incompletude
fundamental
3.3
O falo
O
falo é um símbolo que vem no lugar da perda estrutural, objeto supostamente
“possível” de tamponar o vazio. É no significante fálico que gravita a questão
do desejo. O desejo é uma
defesa contra a demanda do Outro. O que o outro lhe demanda? Que o sujeito lhe
de o complemento que lhe falta - o falo.
A criança descobre em determinado
momento, que não é tudo para a mãe, que não pode completá-la, e que sua mãe
deseja algo além dela – o falo. Este aponta sempre para esse lugar vazio, é
aquilo que vetoriza o desejo da mãe e da criança, que regula o ser ou não ser,
o ter ou não ter.
Segundo Fink (1989) o falo é um
significante, ele é o significante do desejo. O objeto a é a causa real e indivizivel do desejo, o falo é o “nome do
desejo”, tornando pronunciável.
No Seminário, As Formações do Inconsciente (1957-1958), Lacan afirma que o falo é o
significante do desejo do Outro:
“O falo representa a intrusão do impulso vital como tal, o
que não pode entrar na área do significante sem ser barrado, isto é, recoberto
pela castração”
“No lugar em que se
manifesta a castração no Outro, isto é, na mãe - e isto tanto para a menina
como para o menino. É o desejo do Outro que é marcado pela barra (barre)”.
O
falo é o significante da falta, seu movimento indica a falta dentro da
estrutura como um todo. A castração se refere a perda primordial que coloca a
estrutura em movimento, o falo é o significante desta perda.
Segundo
Fink(1989), a função fálica é a função que institui a falta, a função alienante
da linguagem. Esta função desempenha um papel crucial na definição da estrutura
masculina e feminina. O homem é determinado pela função fálica. A mulher não é
dividida da mesma forma que o homem, em relação a ordem simbólica, a mulher é
não-toda, demarcada ou limitada. Enquanto o prazer no homem é determinado
totalmente pelo significante. O prazer na mulher é determinado em parte pelo
significante, mas não totalmente, a mulher é não toda.
A constituição do sujeito se dá em
parte em torno do lugar do falo: na criança, mãe e pai, e da dialética fálica no
bebê. A relação do bebê com o falo é muito
importante, enquanto este é objeto de desejo da mãe. O bebê ao ocupar o lugar
de falo materno, preenche um lugar que já está previamente constituído Para o bebê
esse falo é imaginário, para a mãe o falo é simbólico, porque ela já está
inserida no sistema simbólico.
Referências:
Roza, 1992, Freud e o inconsciente. P.141
Roza, 1992, Freud e o inconsciente. P.141
Lacan(1999) Seminário 05. As Formações do
inconsciente. p.95.
Lacan
(1998) Seminário 11 Os quarto conceitos
fundamentais em psicanálise p 106
Lacan,(1985)
Seminário 20. Mais, ainda. p. 11.
Lacan,(1985)
Seminário 20. Mais, ainda. p.15)
Lacan (1999) Seminário 05. As Formações
do inconsciente p.313
Lacan (1999) Seminário 05. As Formações
do inconsciente. p.406
DOR, J. (1989) Introdução à leitura
de Lacan: o inconsciente estruturado como linguagem; trad. Carlos Eduardo
Reis. Porto Alegre: Artes Médicas.
FINK, B. (1998) O sujeito lacaniano: entre a
linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
NASIO, (1993) Cinco lições sobre a
teoria de Jacques Lacan. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar
ROZA,L. (1992) Freud
e o inconsciente.Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
SANTORO, C. (2006) Clínica psicanalítica e ética. Reverso. 28(53), p.61-66.
NASIO, (1993) Cinco lições sobre a
teoria de Jacques Lacan. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar
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