quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ser mulher...

Somos seres constituídos pela falta: à medida que estamos inseridos na cultura, somos homens ou mulheres, não podemos fazer tudo que nos dá prazer, alias, aquilo que é prazer para alguns é desprazer para outros, enfim é impossível sermos completos, preenchidos, apesar de almejarmos isso o tempo todo.
Somos seres que nascemos como consequência de  uma falta. A mulher por sua  constituição é não toda, e segundo Freud apresenta o penisneid, a inveja do pênis e o desejo de ser mãe advém justamente desta falta. Enfim, nascemos do desejo, pois há falta, há movimento.
Ter um bebê, segundo Freud é uma das saídas para feminilidade. Esse bebê (menino ou menina) vai ocupar pelo menos por um tempo, o lugar de falo para esta mãe. A mulher quando está grávida, imagina este bebê, cria inúmeras expectativas. Enfim, existe um bebê imaginado
Quando o bebê real nasce, geralmente não há uma intersecção entre o bebê imaginado e o bebê real. Para que ele ocupe o lugar de falo no desejo da mãe, é necessário um “banho de imaginário neste bebê real”. O bebê real é insustentável. Aquilo que faz esse recobrimento é o narcisismo. Neste primeiro momento, apesar de já ter nascido. O bebê, é uma parte do corpo da mãe, mas para isso, há uma suposição: falta algo a ela para este bebê preencher.
Ai está um curto circuito, o bebê só preenche porque há falta, mas também por um longo tempo vai perceber a mãe como preenchida. Até que num determinado momento: existe a percepção da mãe  como castrada. A mãe é não toda.
Na menina a  percepção da falta da mãe a conduz à sua própria falta. É um momento fundamental, pois a mãe é seu objeto de amor e de identificação. A relação mãe menina é passional e esse desenlace é devastador. A figura paterna não faz essa substituição (da mãe para o pai, como no caso dos meninos).Não há um deslocamento instintual da mãe para o pai. Há uma decepção.
A menina desloca-se para o pai, porque nele está a possibilidade de receber o falo. No Édipo: a menina se identifica com a mãe, e o seu objeto de amor é o pai, entretanto como não ocorreu uma substituição, o amor que a menina tem pelo pai, é um deslocamento da relação que a menina tinha com sua mãe. A figura paterna recobre apenas uma parte desta passionalidade entre mãe e filha,  há um fracasso na metáfora paterna, pois a menina como a mãe é não toda e seria impossível esta substituição.Quanto a saída do Édipo,  Freud propões três possibilidades de saídas:
ü  Maternidade
ü  Aceita a sua falta: Máscara fálica.
ü  Retorna a fase anterior – posição masculina/homossexual.
Como mulher e praticante da psicanálise  sempre penso: como lido com a falta estrutural já que é inerente? Será que cada estrutura tem um jeito próprio de lidar com isso? Como isso se reflete na realidade e na clínica?

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