Nesta
semana pretendo abordar a constituição do sujeito articulando ao desejo. Falar sobre este tema cabe
em primeiro lugar diferenciar aquilo que é o “Eu” e aquilo de que se trata, “o
sujeito em psicanálise”. E como o desejo se articula a essa constituição.
Em
psicanálise o sujeito não é somente o “eu”, a imagem que a pessoa apresenta no
cotidiano, nos relacionamentos com os outros, ou aquilo que o sujeito supõe de
si, essas significações fazem parte do eu ideal, que é constituído pelos ideais
dos Outros primordiais. Isto também faz parte do registro imaginário. Já o
sujeito do inconsciente, é desejo. Um ser barrado, marcado pelo gozo do sexo
que o divide. Determinado por uma série de significantes que obedece, uma
determinada lógica.
Mas se o sujeito é desejo, o que é o
desejo?
Em
Freud, o desejo é inconsciente, um impulso a fim de reproduzir uma satisfação
original, algo que foi perdido, e que sua presença é marcada pela falta. Trata-se
da busca pelo objeto perdido. Segundo Nasio (2007), a partir do complexo de
Édipo, momento da passagem de um desejo selvagem para um desejo socializado. Ocorre
a aceitação forçada e dolorosa, de que os desejos jamais serão satisfeitos em
sua totalidade. Essa experiência ficará registrada no inconsciente e perdurará
até o final da vida, como uma fantasia que definirá a identidade sexual,
constituindo a fixação de pontos de conflitos afetivos e no caso do desejo
inesperado e intenso, acompanhado de um prazer da mesma proporção. A fantasia
resultante dará origem a uma futura neurose.
Em
Lacan, o desejo do sujeito advém do desejo do Outro. Este Outro é prévio ao
sujeito, e determinado pelo simbólico. O desejo desloca-se na cadeia
significante. Diferente de Freud, em Lacan o objeto jamais existiu, o que
existe é uma falta, não existindo a completude, a possibilidade de uma
satisfação parcial é possível. Esta falta é inerente.
Na
constituição do sujeito, num primeiro momento há uma relação entre mãe, e bebê
sem mediação, frente ao real. Neste momento, o bebê é o falo da mãe, numa
posição de objeto de gozo do Outro. Posteriormente o bebê se assujeita ao
Outro, do desejo e da linguagem, abdicando
de sua subjetividade. Entretanto é a partir deste assujeitamento, o bebê é
inserido na linguagem. Só é possível existir desejo se existir linguagem.
A separação
entre o desejo do Outro e o sujeito do desejo, se dá a partir do Édipo, que
ocorre em três tempos lógicos: num primeiro tempo o Outro primordial ainda
impera, a relação consiste de uma tríade: mãe, bebê e falo, o pai aparece
apenas como potência, o bebê ainda se mantém como falo da mãe. Neste primeiro
tempo ocorre à frustração. No segundo tempo do Édipo o pai entra em cena como
detentor do falo, e interdita mãe e filho, momento da privação. Resultando assim
à castração no Outro, a queda do falo imaginário na mãe. No terceiro tempo do Édipo o
pai como morto, momento da castração simbólica e inscrição do significante do
nome-do-pai.
A
lei é inserida pela linguagem, algo não natural que obriga o sujeito a
renunciar a mãe. O sujeito neurótico, diante da dialética fálica de ser ou ter
o falo, “opta” ter o falo, o que lhe possibilita no futuro ser homem ou mulher
e ser um ser sexual. A lei e o desejo são faces da mesma moeda, pois é a partir
da interdição ao incesto que o desejo do sujeito emerge.
Lacan vai além de
Freud, no que diz respeito à neurose, colocando-a como uma defesa frente à
castração no Outro. O sujeito frente ao real do sexo, causada pela constatação da
falta no Outro e da queda da própria posição fálica. No real não há
simbolização, deixando sempre um resíduo. Em relação à neurose Lacan amplia sua investigação
para outros aspectos: a relação do sujeito ao Outro, ao falo, em relação à
fantasia. Consequentemente a posição do sujeito quando articulada ao desejo e
ao gozo do Outro.
Sendo assim, o sujeito se constitui a partir do Outro e é a partir da interdição, do corte, de uma perda e uma aposta.
LAZNIK, C. (2004) A voz da sereia: o autismo e os impasse na constituição do sujeito. Salvador: Ágalma.
LAZNIK, C. (2004) A voz da sereia: o autismo e os impasse na constituição do sujeito. Salvador: Ágalma.
LEITE, P. (1992)
A negação da falta: cinco seminários para
analistas kleinianos. São Paulo:Relume-dumará.
NASIO, (1993) Cinco lições sobre a
teoria de Jacques Lacan. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar
MANNONI, M. (1999) A criança sua “doença” e os Outros. São
Paulo: Via lettera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário