segunda-feira, 16 de julho de 2012

A constituição do sujeito: DESEJO


Nesta semana pretendo abordar a constituição do sujeito articulando ao desejo. Falar sobre este tema cabe em primeiro lugar diferenciar aquilo que é o “Eu” e aquilo de que se trata, “o sujeito em psicanálise”. E como o desejo se articula a essa constituição.

Em psicanálise o sujeito não é somente o “eu”, a imagem que a pessoa apresenta no cotidiano, nos relacionamentos com os outros, ou aquilo que o sujeito supõe de si, essas significações fazem parte do eu ideal, que é constituído pelos ideais dos Outros primordiais. Isto também faz parte do registro imaginário. Já o sujeito do inconsciente, é desejo. Um ser barrado, marcado pelo gozo do sexo que o divide. Determinado por uma série de significantes que obedece, uma determinada lógica.

Mas se o sujeito é desejo, o que é o desejo?

Em Freud, o desejo é inconsciente, um impulso a fim de reproduzir uma satisfação original, algo que foi perdido, e que sua presença é marcada pela falta. Trata-se da busca pelo objeto perdido. Segundo Nasio (2007), a partir do complexo de Édipo, momento da passagem de um desejo selvagem para um desejo socializado. Ocorre a aceitação forçada e dolorosa, de que os desejos jamais serão satisfeitos em sua totalidade. Essa experiência ficará registrada no inconsciente e perdurará até o final da vida, como uma fantasia que definirá a identidade sexual, constituindo a fixação de pontos de conflitos afetivos e no caso do desejo inesperado e intenso, acompanhado de um prazer da mesma proporção. A fantasia resultante dará origem a uma futura neurose.

Em Lacan, o desejo do sujeito advém do desejo do Outro. Este Outro é prévio ao sujeito, e determinado pelo simbólico. O desejo desloca-se na cadeia significante. Diferente de Freud, em Lacan o objeto jamais existiu, o que existe é uma falta, não existindo a completude, a possibilidade de uma satisfação parcial é possível. Esta falta é inerente.

Na constituição do sujeito, num primeiro momento há uma relação entre mãe, e bebê sem mediação, frente ao real. Neste momento, o bebê é o falo da mãe, numa posição de objeto de gozo do Outro. Posteriormente o bebê se assujeita ao Outro, do desejo e da linguagem, abdicando de sua subjetividade. Entretanto é a partir deste assujeitamento, o bebê é inserido na linguagem. Só é possível existir desejo se existir linguagem.

A separação entre o desejo do Outro e o sujeito do desejo, se dá a partir do Édipo, que ocorre em três tempos lógicos: num primeiro tempo o Outro primordial ainda impera, a relação consiste de uma tríade: mãe, bebê e falo, o pai aparece apenas como potência, o bebê ainda se mantém como falo da mãe. Neste primeiro tempo ocorre à frustração. No segundo tempo do Édipo o pai entra em cena como detentor do falo, e interdita mãe e filho, momento da privação. Resultando assim à castração no Outro, a queda do falo imaginário na mãe.  No terceiro tempo do Édipo o pai como morto, momento da castração simbólica e inscrição do significante do nome-do-pai.

A lei é inserida pela linguagem, algo não natural que obriga o sujeito a renunciar a mãe. O sujeito neurótico, diante da dialética fálica de ser ou ter o falo, “opta” ter o falo, o que lhe possibilita no futuro ser homem ou mulher e ser um ser sexual. A lei e o desejo são faces da mesma moeda, pois é a partir da interdição ao incesto que o desejo do sujeito emerge.

Lacan vai além de Freud, no que diz respeito à neurose, colocando-a como uma defesa frente à castração no Outro. O sujeito frente ao real do sexo, causada pela constatação da falta no Outro e da queda da própria posição fálica. No real não há simbolização, deixando sempre um resíduo. Em relação à neurose Lacan amplia sua investigação para outros aspectos: a relação do sujeito ao Outro, ao falo, em relação à fantasia. Consequentemente a posição do sujeito quando articulada ao desejo e ao gozo do Outro.
Sendo assim, o sujeito se constitui a partir do Outro e é a partir da interdição, do corte, de uma perda e uma aposta.
LAZNIK, C. (2004) A voz da sereia: o autismo e os impasse na constituição do sujeito. Salvador: Ágalma.
LEITE, P. (1992) A negação da falta: cinco seminários para analistas kleinianos. São Paulo:Relume-dumará.

NASIO, (1993) Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

MANNONI, M. (1999) A criança sua “doença” e os Outros. São Paulo: Via lettera.  

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