quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ainda o amor....


Para a psicanálise o amor surge do desamparo e da percepção da finitude: Freud em “Inibição, Sintoma e Ansiedade” (1926 ), descreve o extenso período em que o recém nascido da espécie humana acha-se em condição de desamparo e dependência. O bebê humano chega ao mundo em condições de inconclusão ou seja,  ele nasce totalmente dependente de outro ser, sua mãe.
A mãe(cuidador) lhe apresenta o amor através de seus cuidados, pois além de satisfazer as necessidades básicas do bebê a mãe lhe dá amor.  Quando o bebê tem a percepção  que é uma entidade separada da mãe, e ainda não tem condições de viver sem ela. O bebê passa a percorrer a trilha do amor e do desejo.  A separação da mãe significa autonomia e singularidade, mas também é uma grande fonte de ansiedade e angústia. A única forma de solucioná-la é pela via do amor. A partir desta primeira relação, normalmente com a mãe, surgirão alguns padrões, que determinarão a forma como serão conduzidas as relações afetivas futuras.
A percepção da finitude acontece mais tarde, e gera grande angústia. O homem percebe, ainda que na maioria das vezes com pouca clareza, que  tanto seu nascimento quanto sua morte independem da sua vontade. A percepção de sua impotência mais a percepção da separação e, conseqüentemente sua solidão, originam o desejo de libertar-se através da união com outro ser humano: amor.
Em qualquer investimento que fazemos, o desejo é peça fundamental, pois ele nos impulsiona Em nossas buscas imaginárias ou reais. Por que dentre milhões de pessoas, a paixão ocorre por apenas uma?”.  “Cada amor é a peça que falta no próprio desejo”.
No amor romântico, procura-se recuperar os amores dos primeiros desejos, encontrando no presente, figuras amadas do passado: o pai ou a mãe inacessíveis da paixão edipiana, a mãe do amor incondicional da infância, a união simbiótica na qual dois “eus”  confundem-se, como foi outrora.
A partir do encontro amoroso, surgem as diversas maneiras de relacionar-se, mas independente da forma de amar, existe a questão do retorno ao primeiro desejo. Para ele o amor complementar – nasce a partir das expectativas de que o outro, possa preencher a solidão e diminuir a dor. Idealiza-se o amor antes mesmo de encontrá-lo. É o reencontro com as próprias expectativas: a de que outra pessoa  resolva ou preencha suas faltas. O desejo sexual, na maioria das vezes ocorre pela angústia e não pela erotização, propriamente dita.
Chico Buarque, conhecido cantor e compositor brasileiro, coloca muito claramente a situação do amor idealizado na música, através da metáfora do entrelaçar das pernas ou da desordem do armário embutido.....onde existe a idéia da fusão entre o sujeito e o parceiro.

Eu te amo

                                                                        
   (Chico Buarque de Holanda)

Ah, se já perdemos a noção da hora, se juntos já jogamos tudo fora, me conta agora como hei de partir....
Ah, se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios, rompi com o mundo queimei meus navios. Me diz pra aonde ainda posso ir....
Se nós, nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir...
Sim, entornaste a nossa sorte pelo chão, se na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu...
Como se na desordem do armário embutido, meu palito enlaça seu vestido, e o meu sapato ainda pisa  no teu.
Como se nos amamos feito dois pagãos, teus seios, ainda estão nas minhas mãos, me explica com que cara ainda vou sair. Não, acho que estas só  fazendo de tonta, te dei meus olhos para tomaste conta, agora conta como hei de partir

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