sexta-feira, 6 de julho de 2012


Para iniciar nossa conversa sobre os diversas possibilidades da feminilidade e a psicanálise. Nada como abordar a relação fundamental entre mãe e bebê e suas consequencias na constituição da subjetividade do bebê:

O recém nascido quando nasce, ainda está inacabado, nascem numa prematuridade impressionante, por longo tempo, são dependentes de cuidados da mãe ou de um outro cuidador. Neste primeiro momento do bebê é impossível pensarmos em imagem de si, ou de linguagem como uma maneira de comunicação.

O primeiro grito do bebê é somente um grito a fim de que se satisfaça uma necessidade: a fome. A mãe ou cuidadora interpreta esse grito e dá um significado a ele: “ fulano está chorando, o bebê deve estar com fome, vou dar um leite bem gostosinho para você”

A mãe em sua relação com o seu filho, além de suprir uma necessidade, geralmente dá um banho de afeto neste bebê. Porque através de seu toque, sua fala peculiar, transmite algo a esse bebê. O bebê por sua vez, a partir desses primeiros contatos com a mãe, vai “construindo” a partir de seu desejo um lugar que é próprio.

A partir destas primeiras  experiências de satisfação, o bebê quando grita responde a estimulação interna, mas antecipa o cuidado, a voz, o cheiro da mãe que virá atendê-lo. Sendo assim, o bebê vai criando, um mundo de significações, nuances e sutilezas.

O bebê mesmo em total dependência não é totalmente passivo. Ele responde às palavras e cuidados da mãe a partir de sua singularidade, suporta mais ou menos tempo de espera, “fisga” o desejo dos pais, “fazendo-se comer.”  De alguma forma, ele “cria” uma maneira de atrair seus pais a ele.

Entretanto para que ocorra este processo é necessário que o bebê encontre significantes disponíveis para que possa escolher e utilizar: um corpo familiar, mitos. E quem fornece isso ao bebê são os próprios pais.

De alguma maneira, as vezes essa transmissão fica impossível, constituindo assim uma barreira ao desejo:

1.    A diferença entre o bebê sonhado e fantasiado  e o bebê da realidade.

2.    A adaptação a realidade: um bebê exige cuidados. Cuidados corporais básicos, mas também afeto.

3.    Aquele que nasce tem características próprias, que são geralmente significadas pelos pais: “o nosso bebê parece com o vovô.” Apesar da alienação a qual o bebê está envolvido, há uma brecha para as diferenças individuais, o bebê entra com algo que é seu. 

Essas diferenças e adaptações entre o bebê sonhado e a realidade são a princípio bastante saudáveis e interessantes, pois propicia ao bebê aparecer como único. De maneira geral a mãe de forma espontânea e inconsciente interage com o bebê que nasceu e realiza sua função de libidinização e incorporação simbólica. Quando essa relação de alguma maneira não ocorre ou aparece de forma desencontrada poderão ocorrer efeitos importantes na constituição do sujeito, chegando a quadros de autismo.

Podemos refletir sobre algumas situações que impõe certa dificuldade na relação mãe-bebê:

·         O momento mágico do nascimento vem junto ao momento trágico do diagnóstico. Um nome científico vem esmagar a possibilidade de um sujeito único, o bebê passa a ser um “síndrome de tal.”

·         Um bebê com dificuldades de gerar uma mãe. Um bebê que não responde aos estímulos, que não consegue fisgar sua mãe em seu desejo. Há bebês que necessitam de uma maior estimulação

·         Ou ainda uma mãe que não consegue estabelecer a função materna.

Em nossa sociedade ainda há uma crença no instinto materno, entretanto como demonstrado acima, a relação mãe-bebê é bastante complexa, Ela se dá de maneira supostamente natural quando não há desencontros. Mas os desencontros e os obstáculos estão ai, para serem vividos e cuidados. Enfim, existem inúmeras situações que podem ocorrer entre mãe e bebê que podem dificultar a constituição do sujeito. Um cuidado, um olhar para esse possível desencontro e a busca por um profissional, são saídas relevantes para esse impasse. A creche, escola e familiares têm papel fundamental.

Nenhum comentário:

Postar um comentário