Para iniciar nossa conversa sobre os diversas possibilidades da feminilidade e a psicanálise. Nada como abordar a relação fundamental entre mãe e bebê e suas consequencias na constituição da subjetividade do bebê:
O recém nascido quando
nasce, ainda está inacabado, nascem numa prematuridade impressionante, por longo tempo, são
dependentes de cuidados da mãe ou de um outro cuidador. Neste primeiro momento
do bebê é impossível pensarmos em imagem de si, ou de linguagem como uma
maneira de comunicação.
O primeiro grito do bebê é
somente um grito a fim de que se satisfaça uma necessidade: a fome. A mãe ou
cuidadora interpreta esse grito e dá um significado a ele: “ fulano está
chorando, o bebê deve estar com fome, vou dar um leite bem gostosinho para você”
A mãe em sua relação com o
seu filho, além de suprir uma necessidade, geralmente dá um banho de afeto
neste bebê. Porque através de seu toque, sua fala peculiar, transmite algo a
esse bebê. O bebê por sua vez, a partir desses primeiros contatos com a mãe,
vai “construindo” a partir de seu desejo um lugar que é próprio.
A partir destas primeiras experiências de satisfação, o bebê quando
grita responde a estimulação interna, mas antecipa o cuidado, a voz, o cheiro
da mãe que virá atendê-lo. Sendo assim, o bebê vai criando, um mundo de
significações, nuances e sutilezas.
O bebê mesmo em total
dependência não é totalmente passivo. Ele responde às palavras e cuidados da
mãe a partir de sua singularidade, suporta mais ou menos tempo de espera,
“fisga” o desejo dos pais, “fazendo-se comer.”
De alguma forma, ele “cria” uma maneira de atrair seus pais a ele.
Entretanto para que ocorra
este processo é necessário que o bebê encontre significantes disponíveis para
que possa escolher e utilizar: um corpo familiar, mitos. E quem fornece isso ao
bebê são os próprios pais.
De alguma maneira, as
vezes essa transmissão fica impossível, constituindo assim uma barreira ao
desejo:
1.
A diferença entre o bebê sonhado e
fantasiado e o bebê da realidade.
2.
A adaptação a realidade: um bebê exige
cuidados. Cuidados corporais básicos, mas também afeto.
3.
Aquele que nasce tem características
próprias, que são geralmente significadas pelos pais: “o nosso bebê parece com
o vovô.” Apesar da alienação a qual o bebê está envolvido, há uma brecha para
as diferenças individuais, o bebê entra com algo que é seu.
Essas diferenças e
adaptações entre o bebê sonhado e a realidade são a princípio bastante saudáveis
e interessantes, pois propicia ao bebê aparecer como único. De maneira geral a
mãe de forma espontânea e inconsciente interage com o bebê que nasceu e realiza
sua função de libidinização e incorporação simbólica. Quando essa relação de
alguma maneira não ocorre ou aparece de forma desencontrada poderão ocorrer
efeitos importantes na constituição do sujeito, chegando a quadros de autismo.
Podemos refletir sobre
algumas situações que impõe certa dificuldade na relação mãe-bebê:
·
O momento mágico do nascimento vem junto ao
momento trágico do diagnóstico. Um nome científico vem esmagar a possibilidade
de um sujeito único, o bebê passa a ser um “síndrome de tal.”
·
Um bebê com dificuldades de gerar uma mãe.
Um bebê que não responde aos estímulos, que não consegue fisgar sua mãe em seu
desejo. Há bebês que necessitam de uma maior estimulação
·
Ou ainda uma mãe que não consegue
estabelecer a função materna.
Em nossa sociedade ainda
há uma crença no instinto materno, entretanto como demonstrado acima, a relação
mãe-bebê é bastante complexa, Ela se dá de maneira supostamente natural quando
não há desencontros. Mas os desencontros e os obstáculos estão ai, para serem
vividos e cuidados. Enfim, existem inúmeras situações que podem ocorrer entre
mãe e bebê que podem dificultar a constituição do sujeito. Um cuidado, um olhar
para esse possível desencontro e a busca por um profissional, são saídas
relevantes para esse impasse. A creche, escola e familiares têm papel
fundamental.
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