sábado, 7 de julho de 2012

Articulação necessidade, demanda e desejo


Bebida é água,

Comida é pasto,

Você tem sede de que?

Você tem fome de que?

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...

Comida – Arnaldo Antunes

Pulsão
A Articulação necessidade, demanda e desejo
Diferente de outros animais  não vivemos pela necessidade. Não temos um objeto específico que nos satisfaça. Não comemos somente porque temos fome.

Somos seres: falantes, sexuais e mortais.
 E isso faz toda a diferença entre o humano e os animais, pois temos a dimensão de nossa finitude, as coisas da vida tem um tempo, mesmo que não queiramos saber disso, a morte já está colocada desde o início. Escolhemos nossos parceiros sexuais, somos mulheres, homens e afins e temos uma breve impressão do que isso significa. Nossa fala tem algo além do que palavras. Somos sujeitos divididos, pelo eu e o inconsciente, pelo desejo e o gozo. E como ocorre essa subversão do instinto à pulsão. Da necessidade a demanda e desejo. O que faz ser o que somos?
O recém nascido a princípio é  apenas um ser constituído pelo real do seu corpo, num total desamparo. Quando tem fome, sede e isso não é satisfeito o bebê grita. Esse primeiro momento o que está em jogo é a satisfação de uma necessidade
O processo pulsional  manifesta-se inicialmente no recém nascido pelo surgimento de um desprazer, decorrente de um estado de tensão inerente à fonte  de excitação da pulsão. Este grito é interpretado pela mãe, que se coloca como Outro provedor(tesouro dos significantes), sendo aquela que traz o objeto que satisfaz a necessidade. Para que isso aconteça é necessário que esse Outro provedor forneça uma significação ao grito(APELO) daquele ser que esta ali., transformando a necessidade em demanda.

 O objeto é ofertado e proposto, sem que o recém nascido busque e sem que lhe seja dado ter uma representação psíquica. Esse processo desenrola-se num registro intrinsecamente orgânico e de pura necessidade, uma vez que a pulsão se satisfaz sem mediação psíquica. Portanto neste primeiro momento, sua origem é de um prazer imediato relacionada com a redução do estado de tensão.

O grito da criança é interpretado pelo Outro como uma demanda de satisfação: a mãe escuta essa demanda como se fosse dirigida para ela.

Essa primeira experiência de satisfação deixará um traço mnésico, no aparelho psíquico. Esse traço trata-se de uma imagem/percepção do objeto que proporcionou a satisfação. Quando o estado de desprazer reaparecer o traço mnésico será reativado, a imagem/percepção serão reinvestidos, entretanto a manifestação pulsional não pode mais aparecer como uma pura necessidade, uma necessidade ligada a uma representação mnésica da satisfação passada com a percepção do acontecimento presente. Haverá uma confusão entre a representação passada e o objeto real.

A demanda está nesse apelo que o sujeito faz em busca de um complemento que é o objeto que pode satisfazê-lo. E nessa demanda desenrola o desejo. A demanda é a satisfação do status quo ante.
 Num primeiro tempo, a criança tende a satisfazer-se com uma satisfação alucinatória, posteriormente após várias repetições, ela distinguirá a imagem mnésica da satisfação da real. A criança vai orientar suas buscas pelo objeto real a partir desta satisfação mnésica, esta satisfação alucinatória funcionará como um modelo e será buscado na realidade para satisfazer a pulsão.

Somos seres inseridos na linguagem, na cultura e isso tem consequências. Apesar deste primeiro grito ser um imperativo da necessidade. Esse bebê que grita, mesmo sem saber, já está inserido na linguagem. Ele já foi falado pelos pais, tem um nome, tem um sexo anatômico, enfim tem uma história.  E dia a dia vai se apropriando dela a partir dos referenciais e apropriações  que o bebê vai fazer disso.

Enfim, suas satisfações serão buscadas a partir desta imersão na linguagem, que parte o bebê irá construir, parte advirá do Outro provedor. É a pulsão que tem o papel de encontrar ou não um objeto de satisfação da realidade que será intrinsecamente relacionado a realidade psíquica.

Referências:


QUINET, A. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

OCARIZ , M.C.  O sintoma e a clínica psicanalítica.São Paulo: Via Lettera, 2003.


Nenhum comentário:

Postar um comentário