Bebida
é água,
Comida
é pasto,
Você
tem sede de que?
Você
tem fome de que?
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
Comida – Arnaldo Antunes
Pulsão
A Articulação necessidade, demanda e desejo
Diferente de
outros animais não vivemos pela
necessidade. Não temos um objeto específico que nos satisfaça. Não comemos
somente porque temos fome.
Somos seres:
falantes, sexuais e mortais.
E isso faz toda a diferença entre o humano e
os animais, pois temos a dimensão de nossa finitude, as coisas da vida tem um
tempo, mesmo que não queiramos saber disso, a morte já está colocada desde o
início. Escolhemos nossos parceiros sexuais, somos mulheres, homens e afins e
temos uma breve impressão do que isso significa. Nossa fala tem algo além do
que palavras. Somos sujeitos divididos, pelo eu e o inconsciente, pelo desejo e
o gozo. E como ocorre essa subversão do instinto à pulsão. Da necessidade a
demanda e desejo. O que faz ser o que somos?
O recém
nascido a princípio é apenas um ser
constituído pelo real do seu corpo, num total desamparo. Quando tem fome, sede
e isso não é satisfeito o bebê grita. Esse primeiro momento o que está em jogo
é a satisfação de uma necessidade
O processo pulsional manifesta-se inicialmente no recém nascido
pelo surgimento de um desprazer, decorrente de um estado de tensão inerente à
fonte de excitação da pulsão. Este
grito é interpretado pela mãe, que se coloca como Outro provedor(tesouro dos
significantes), sendo aquela que traz o objeto que satisfaz a necessidade. Para
que isso aconteça é necessário que esse Outro provedor forneça uma significação
ao grito(APELO) daquele ser que esta ali., transformando a necessidade em
demanda.
O objeto é ofertado e proposto, sem que o
recém nascido busque e sem que lhe seja dado ter uma representação psíquica.
Esse processo desenrola-se num registro intrinsecamente orgânico e de pura
necessidade, uma vez que a pulsão se satisfaz sem mediação psíquica. Portanto
neste primeiro momento, sua origem é de um prazer imediato relacionada com a
redução do estado de tensão.
O grito da
criança é interpretado pelo Outro como uma demanda de satisfação: a mãe escuta
essa demanda como se fosse dirigida para ela.
Essa primeira
experiência de satisfação deixará um traço mnésico, no aparelho psíquico. Esse
traço trata-se de uma imagem/percepção do objeto que proporcionou a satisfação.
Quando o estado de desprazer reaparecer o traço mnésico será reativado, a
imagem/percepção serão reinvestidos, entretanto a manifestação pulsional não
pode mais aparecer como uma pura necessidade, uma necessidade ligada a uma
representação mnésica da satisfação passada com a percepção do acontecimento
presente. Haverá uma confusão entre a representação passada e o objeto real.
A demanda está
nesse apelo que o sujeito faz em busca de um complemento que é o objeto que
pode satisfazê-lo. E nessa demanda desenrola o desejo. A demanda é a satisfação
do status quo ante.
Num primeiro tempo, a criança tende a
satisfazer-se com uma satisfação alucinatória, posteriormente após várias
repetições, ela distinguirá a imagem mnésica da satisfação da real. A criança
vai orientar suas buscas pelo objeto real a partir desta satisfação mnésica,
esta satisfação alucinatória funcionará como um modelo e será buscado na
realidade para satisfazer a pulsão.
Somos seres inseridos na linguagem, na
cultura e isso tem consequências. Apesar deste primeiro grito ser um imperativo
da necessidade. Esse bebê que grita, mesmo sem saber, já está inserido na
linguagem. Ele já foi falado pelos pais, tem um nome, tem um sexo anatômico,
enfim tem uma história. E dia a dia vai
se apropriando dela a partir dos referenciais e apropriações que o bebê vai fazer disso.
Enfim, suas satisfações serão buscadas a
partir desta imersão na linguagem, que parte o bebê irá construir, parte advirá
do Outro provedor. É a pulsão que tem o papel de encontrar ou não um objeto de
satisfação da realidade que será intrinsecamente relacionado a realidade
psíquica.
Referências:
QUINET, A. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2000.
OCARIZ , M.C. O sintoma e a clínica psicanalítica.São
Paulo: Via Lettera, 2003.
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