O
amor romântico na atualidade é uma experiência que na maioria das vezes é percebida
como uma recompensa aos obstáculos que a vida apresenta, vivido como uma recompensa. Sendo assim,
a vivência de um amor supostamente daria a garantia da perfeição e complementação. Qualquer diferença ou
obstáculo que os parceiros encontrem não é sentido e percebido como amor.
Em
nossa cultura o amor romântico aparece em toda parte: na literatura e teatro -
romances como Romeu e Julieta e no Mito Tristão e Isolda que consistem Na
exaltação do amor. Ambas histórias apresentam obstáculos aos parceiros.
Obstáculos gratuitos, mas que levam os protagonistas a sofrerem e lutarem pela
realização desse amor e finalmente quando conseguem superá-los, criam
obstáculos imaginários, separando–se definitivamente. Os dois casais acabam
morrendo, em nome desse sentimento, exaltando a possibilidade do amor eterno. Nos
contos de fada, como Cinderela e a Bela Adormecida, os parceiros lutam para
realizarem seu amor. Geralmente o casal mal se conhece e a história refere-se à
fase da conquista e quando finalmente, os parceiros conseguem ficar juntos, a
história termina, com a metáfora: “Casaram-se e foram felizes para sempre”.
Nas
novelas da TV, via de regra, vale tudo em nome do amor e da felicidade. O casal
passa a novela inteira lutando para ficarem juntos, passando por diversos
obstáculos: inveja e inimizades e, quando finalmente conseguem ultrapassar
todas as dificuldades, a novela termina. Penso que nessas histórias, existe uma
exaltação do amor e não dos parceiros, ama-se o fato de amar. Apaixona-se pela
paixão.
Quase todas as pessoas em nossa cultura, estão
aprisionadas pela idéia de que só é possível haver felicidade se existir um
grande amor. Não importa muito se a relação amorosa é limitante ou tediosa.
Qualquer coisa é melhor do que ficar sozinho. O fundamental é ter alguém ao
lado, o restante constrói-se ou modifica-se como num passe de mágica. Busca-se
então desesperadamente o amor pelo medo da solidão. A pessoa amada não é
percebida com clareza, mas através de uma névoa que distorce o real.
Para
manter-se envolto na névoa que cobre o amor romântico, depois de algum tempo, é
necessário que o outro corresponda à idealização, evitando qualquer intimidade
real, calando-se sobre os pensamentos e sentimentos mais íntimos, bem como
evitando o aprofundamento do relacionamento físico. Enfim esta visão do amor romântico idealizada construída no decorrer dos tempos é geralmente um impecilho à vida real, pois uma relação de amor é construída por dois seres humanos reais, sujeito a qualidades e defeitos. Sujeitos também a obstáculos diários, a tristezas e alegrias. Talvez, colocar a relação amorosa como algo real, com seus altos e baixos, seja a única possibilidade de viver uma relação com o amor.
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