terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Como medir o tempo?


Resultado de imagem para tempo


Estou quase de férias, menos coisas a fazer e em compensação mais tempo para pensar, para cuidar do tempo livre, sendo assim decidi pensar no tempo....

Se estamos fazendo algo que nos dá prazer o tempo voa, mas em compensação, quando estamos fazendo algo chato ou tedioso o tempo não passa. Enfim, como é possível pensar a mensuração do tempo pelo prazer e desprazer e não no tempo medido em segundos ou minutos? O valor que damos ao tempo  depende de nossa subjetividade.

Pensar no tempo, é nos deparar com a liberdade que o tempo ocioso nos dá, podemos fazer o que quisermos, ou fazer nada. Em compensação,  na atualidade, "não fazer nada" é ir completamente ao avesso das demandas sociais, àquilo que é supostamente correto, principalmente, nesta época de final de ano.

Resultado de imagem para tempo
"Time is money" que mentira cabeluda. "Tempo é dinheiro" é exclusivo àquele que  visa o lucro. Tempo não  é dinheiro, ao contrário vendemos nosso tempo por dinheiro, por pouco dinheiro ou muito dinheiro, mas com este mesmo dinheiro que obtemos com nosso trabalho, com o gasto do nosso tempo, podemos somente comprar coisas, e claro sobreviver, mas não podemos entrar numa loja, e comprar "tempo."Enfim, o tempo que vendemos à alguém, já está vendido e pronto. "Perdeu playboy"

Agora, quando se esgota o tempo que temos de vida, não recebemos aviso prévio, não somos avisados que o nosso tempo terminou. Morremos simplesmente. Alguns vivem 5 anos, ou 60 anos, outros ainda 104 anos, mas a morte é sempre inesperada. Não temos o menor controle sobre o nosso tempo de vida. Tentamos controlar nosso tempo, mas não temos controle algum, e infelizmente também, quase nunca  pensamos em aproveitar o tempo de uma maneira prazerosa, como se cada dia fosse o último dia.

Agora, se pensarmos no tempo como algo finito, continuamos a não controlar o tempo, mas podemos utilizar o tempo de maneira interessante. Trabalhar com aquilo que a gente ama, e não só porque teremos mais dinheiro ou poder, mas pelo próprio prazer do minuto a minuto. Conviver com aqueles que desejamos, sorrir quando tivermos vontade e chorar também, por que não? Enfim o tempo está ai para ser utilizado como um bem precioso ou usar como qualquer coisa. A escolha é de cada um.
Resultado de imagem para tempo


Paula Adriana Neves Couto
Psicanalista
Consultório: Av Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Minha leitura : As cinco lições de psicanálise (1909) Freud.

QUINTA LIÇÃO

Freud na quinta lição inicia abordando a relação entre as insatisfações das necessidades sexuais (componentes eróticos pulsionais) na vida em civilização, e os sintoma como uma via de satisfação, dolorosa diga-se de passagem. O neurótico utiliza-se do sintoma para satisfazer parcialmente ou integralmente suas necessidades sexuais. Como os sintomas exercem este papel de substitutos das satisfações ? Segundo Freud, o indivíduo distancia-se da realidade, utilizando-se a fantasia para encontrar as satisfações do sintoma. 

É possível entender a resistência como algo inerente ao tratamento, pois abrir mão da satisfação que o sintoma proporciona é uma tarefa árdua ao neurótico, além disso o sintoma é composto de vários elementos que são dirimidos lentamente ao longo do trabalho.  

Sobre a resistência, Freud diz: "Não somente o eu do doente se recusa a desfazer o recalque por meio da qual se esquivou de suas disposições originárias, como também pode a pulsão sexual não renunciar à satisfação vicariante  enquanto houver dúvida de que a realidade lhe ofereça algo melhor." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

O neurótico foge da realidade como esta se apresenta, dura e  na maioria das vezes desprazerosa. O recalque é o caminho que  armazena os impulsos pulsionais no inconsciente. Os desejos infantis são recalcados no inconsciente, desde as primeiras fases da vida sexual, ou seja, desde os primeiros investimentos libidinais. Houve algum primeiro momento de satisfação total? Não, mas houveram satisfações parciais. 

No sintoma, há regressão tanto do ponto de vista temporal: a libido regride ao momento anterior, onde houve uma suposta satisfação. Formal: emprega os meios psíquicos originários e primitivos para manifestação da mesma necessidade. Sobre esses dois aspectos Freud diz: "Sob ambos os aspectos a regressão orienta-se para a infância, restabelecendo um estado infantil da vida sexual." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Diferentes dos outros animais, o humano é mortal, sexual e falante e isso traz perdas, pois sabemos que um dia iremos morrer, nossos desejos sexuais são singulares e o ato de falar é um sinal de que algo faltou, porque se estivéssemos satisfeitos não precisaríamos falar. Temos limites, A realidade comparada a fantasia é sempre insatisfatória, o neurótico mantém uma vida de fantasia, onde de alguma forma consegue satisfazer parcialmente suas necessidades e realizar seus desejos. Freud diz: "Nestas fantasias há muito da própria natureza constitucional da personalidade e muito dos afetos recalcados." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

O neurótico almeja uma satisfação impossível e se utiliza do sintoma para amenizar sua dor de ser humano. Entretanto Freud, num pequeno recorte abaixo, fala de uma correlação entre a realidade e a fantasia e uma suposta satisfação para alguns poucos que conseguem. Será que isso seria possível? 

"O homem enérgico e vencedor é aquele que pelo próprio esforço consegue transformar em realidade seus castelos no ar. Quando esse resultado não é atingido, seja por oposição do mundo exterior, seja por fraqueza do indivíduo, este se desprende da realidade, recolhendo-se aonde pode gozar, isto é, ao seu mundo de fantasia, cujo conteúdo, no caso de moléstia, se transforma em sintoma. Em certas condições favoráveis, ainda lhe é possível encontrar outro caminho dessas fantasias para a realidade, em vez de se alhear (afastar-se) dela definitivamente pela regressão ao período infantil." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Essa intersecção entre a realidade e a fantasia é impossível de se realizar, porque o humano é pulsional, não quer o que deseja ou deseja o que não quer. Sempre a realidade é faltosa. Quando alcança alguma coisa, já quer outra coisa.

Em Freud, ainda neste momento, haveria  indivíduos neuróticos, psicóticos e perversos, mas também aqueles que seriam saudáveis, sem qualquer problema psíquico. Diferente de como eu vejo, pois penso a neurose, psicose e perversão como estruturas e não como estados de doença ou não. Sendo assim essa parte do texto fica confusa, mas tentarei construir algo:

"Quando a pessoa inimizada com a realidade possui dotes artísticos(psicologicamente ainda enigmáticos) podem suas fantasias transmudar-se não em sintomas senão em criações artísticas; subtrai-se desse modo à neurose e reata as ligações com a realidade. (Cf. Rank, 1907). Quando com a revolta perpétua contra o mundo real faltam ou são insuficientes esses preciosos dons, é absolutamente inevitável que a libido, seguindo a origem da fantasia, chegue ao reavivamento dos desejos infantis, e com isso à neurose, representante, em nossos dias, do claustro aonde costumavam recolher-se todas as pessoas desiludidas da vida ou que se sentiam fracas demais para viver."As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

"Seja-me lícito referir neste ponto o que de mais importante pudemos conseguir pelo estudo psicanalítico dos nervosos, e vem a ser que as neuroses não têm um conteúdo psíquico que, como privilégio deles, não se possa encontrar nos sãos; segundo expressou C. G. Jung, aqueles adoecem pelos mesmos complexos com que lutamos nós, os que temos saúde perfeita. Conforme as circunstâncias de quantidade e da proporção entre as forças em choque, será o resultado da luta a saúde, a neurose ou a sublimação compensadora.  As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Segundo Freud a diferença do neurótico e o não neurótico(supostamente saudável) não está no conteúdo recalcado. O que faz um indivíduo adoecer é o caminho  percorrido pela libido na busca por satisfações substitutivas, ou seja, o sintoma é uma via dolorosa de investimento libidinal, mas existem outras vias de satisfação, exemplo sublimação.

Os primeiros investimentos libidinais do indivíduo  com o mundo externo são às figuras da mãe e do pai, e são justamente os afetos, as imagos, ideias e representações pulsionais envolvidos nestes primeiros e primitivos investimentos que são recalcados. Por que são recalcados? O recalque ocorre sob no mínimo dois aspectos: porque são grandes quantidades de carga de excitação envolvido nestes investimentos para um corpo infantil despreparado, e são desejos sexuais incestuosos e parricidas que são interditados.

Esses conteúdo pulsionais em qualquer tempo, em situação privilegiada são reinvestidos libidinalmente, promovendo a revivência destes antigos "amores". - transferência.

"Senhoras e senhores. Não lhes falei até agora sobre a experiência mais importante, que vem confirmar nossa suposição acerca das forças instintivas sexuais da neurose. Todas as vezes que tratamos psicanaliticamente um paciente neurótico, surge nele o estranho fenômeno chamado "transferência", isto é, o doente consagra ao médico uma série de sentimentos afetuosos, mesclados muitas vezes de hostilidade, não justificados em relações reais e que, pelas suas particularidades, devem provir de antigas fantasias tornadas inconscientes. Aquele trecho da vida sentimental cuja lembrança já não pode evocar, o paciente torna a vivê-lo nas relações com o médico; e só por este ressurgimento na "transferência" é que o doente se convence da existência e do poder desses sentimentos sexuais inconscientes. " As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Durante o trabalho analítico ocorre a transferência (não é uma situação exclusiva da análise, pode ocorrer a transferência nas diversas relações humanas) e consequentemente os sintomas entram em cena. O analista a partir desta situação transferencial colocada, trabalha com o paciente até os sintomas dissolverem-se. Segundo Freud: "A transferência surge espontaneamente em todas as relações humanas e de igual modo nas que o doente entretém com o médico; é ela, em geral, o verdadeiro veículo da ação terapêutica, agindo tanto mais fortemente quanto menos se pensa em sua existência. A psicanálise, portanto, não a cria; apenas a desvenda à consciência e dela se apossa a fim de encaminhá-la ao termo desejado." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Freud aborda os obstáculos à aceitação das ideias psicanalíticas até aquele momento (1909) pelos médicos ou pelos leigos:

    • Há certo determinismo na vida psíquica. Existe algo no próprio indivíduo que ele não acessa quando deseja. Existe uma parte de nós inacessível, se movimenta a partir deste determinismo. 
    • Existe uma divisão psíquica entre as instâncias: pré consciente/consciente e o inconsciente, o conflito existente entre estas instâncias e principalmente o medo de que a psicanálise traga a tona aspectos inconscientes, supostamente armazenados e protegidos são também obstáculos a aceitação da psicanálise. Aquela ideia de que se não mexer em alguma coisa que está quieta, a ideia permanecerá "adormecida". Entretanto, Freud já percebe a influência cabal do inconsciente nos processos conscientes, principalmente nas supostas moléstias psíquicas. 
Freud faz uma analogia bem interessante entre o trabalho  da psicanálise e o do cirurgião:  "(...)Todos sabem, porém, que o cirurgião não deixa de examinar, palpando o foco da moléstia, quando tem em vista realizar uma operação que há de proporcionar a cura completa. Ninguém pensa já em incriminá-lo pelos inevitáveis incômodos do exame nem pelos fenômenos pós-operatórios, desde que a operação tenha bom êxito e que, mediante a agravação passageira do mal, o doente alcance a definitiva supressão do estado mórbido. Em relação à psicanálise, as condições são semelhantes; pode ela reivindicar os mesmos direitos que a cirurgia; a exasperação (irritação) dos incômodos que impõe ao doente durante o tratamento é, uma vez observada a boa técnica, incomparavelmente menor que a infligida pelo cirurgião, e em geral nem deve ser tomada em consideração diante da gravidade da moléstia principal." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

Outro obstáculo a aceitação da psicanálise está na questão: O que ocorre ao final do trabalho psicanalítico com os impulsos pulsionais supostamente libertados do recalque?

O desejo infantil no inconsciente é investido pela libido insistentemente, mantendo-se com grande carga de excitação,  portanto tem muito mais força, do que quando advém a consciência, nesta outra instância a tendência é o enfraquecimento. A partir da consciência essas moções pulsionais antes super excitadas, percorrem outros caminhos, ou seja,aquilo que estava fixo no inconsciente, se movimenta.

Quais os meios para tornar esses impulsos pulsionais  inofensivos à vida do indivíduo? Desses meios há vários. 

--> Na consciência ao invés do recalque há o julgamento de condenação. Há possibilidade de colocar em palavras, portanto há movimento.

"Como o indivíduo na época se achava ainda incompletamente organizado, não pôde senão recalcar a pulsão inutilizável; mas na força e madureza de hoje, pode talvez dominar perfeitamente aquilo que lhe é hostil." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 

--> A sublimação é outra saída a esses impulsos pulsionais (desejos infantis). Freud tem vários conceitos sobre a sublimação. Reinvestimento libidinal nestes impulsos pulsionais, entretanto de maneira dessexualizada.

-->  Certa parte dos desejos libidinais recalcados devem ser satisfeitos diretamente, através da atividade sexual.  O indivíduo neurótico substitui parte de sua atividade sexual pelo sintoma, em contrapartida a medida que diminui os sintomas, sua vida sexual deve tornar-se mais interessante.

Esse finalzinho do texto achei genial, porque Freud fala do desejo como algo que mantem o indivíduo vivo e desejante:

"Não sei se da parte dos senhores considerarão como presunção minha a admoestação com que concluo. Atrevo-me apenas a representar indiretamente a convicção que tenho, narrando-lhes uma anedota já antiga, cuja moralidade os senhores mesmo apreciarão. A literatura alemã conhece um vilarejo chamado Schilda, de cujos habitantes se contam todas as espertezas possíveis. Dizem que possuíam eles um cavalo com cuja força e trabalho estavam satisfeitíssimos. Uma só coisa lamentavam: consumia aveia demais e esta era cara. Resolveram tirá-lo pouco a pouco desse mau costume, diminuindo a ração de alguns grãos diariamente, até acostumá-lo à abstinência completa. Durante certo tempo tudo correu magnificamente; o cavalo já estava comendo apenas um grãozinho e no dia seguinte devia finalmente trabalhar sem alimento algum. No outro dia amanheceu morto o pérfido animal; e os cidadãos de Schilda não sabiam explicar por quê.
Nós nos inclinaremos a crer que o cavalo morreu de fome e que sem certa ração de aveia não podemos esperar em geral trabalho de animal algum." As cinco lições de psicanálise (1909) Freud - Quinta Lição 




quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Minha leitura : As cinco lições de psicanálise (1909) Freud.

Quarta Lição


Esta lição faz parte do texto: “As cinco lições de psicanálise” palavras pronunciadas por Freud em ocasião das comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University, Worcester, Massachusetts, setembro de 1909.
Nesta lição Freud fala sobre sexualidade infantil, e sua relevância na etiologia da neurose: dos complexos patogênicos e dos desejos recalcados. Os sintomas neuróticos estariam relacionados às impressões da vida erótica, vividos na primeira infância.  
Sobre a etiologia sexual na neurose, Freud diz: "Quando, em 1895, publiquei com o Dr. J. Breuer os Estudos sobre a Histeria, ainda não tinha esta opinião; vi-me forçado a adotá-la quando as minhas experiências se tornaram mais numerosas e penetraram mais intimamente o problema. Senhores! Acham-se entre os presentes alguns de meus adeptos e amigos mais chegados, que viajaram comigo até Worcester. Se os interrogarem, ouvirão que todos eles a princípio recebiam com a maior descrença a afirmação da importância decisiva da etiologia sexual, até que pelo exercício analítico pessoal foram obrigados a aceitar como sua própria àquela afirmação." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).
 "O trabalho de análise necessário para o esclarecimento completo e cura definitiva de um caso mórbido não se detém nos episódios contemporâneos da doença; retrocede sempre, em qualquer hipótese, até a puberdade e a mais remota infância do doente, para só aí topar as impressões e acontecimentos determinantes da doença ulterior. Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças, quase regularmente olvidados, e com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de afastar os sintomas." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).
Os desejos recalcados da infância são indestrutíveis, e estes emprestaram à formação dos sintomas força a sua sustentação. 
Falar sobre sexualidade humana é um tanto complicado, até mesmo nos dias atuais, imagine falar sobre sexualidade infantil em 1900? Freud utilizou diversos recursos para explicar a sua psicanalise, inclusive interagindo com outros autores: "Por um feliz acaso acho-me em condições de chamar dentre os presentes uma testemunha em favor de minhas afirmações. Eis aqui o trabalho do Dr. Sanford Bell, impresso em 1902, em The American Journal of Psychology. O autor é um Fellow da Clark University, o mesmo instituto em cujo seio nos achamos no atual instante. Nesse trabalho, intitulado "A Preliminary Study of the Emotion of Love Between the Sexes", publicado três anos antes dos meus Three Essays on the Theory of Sexuality [1905 d], (Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade), escreve o autor, tal qual há pouco lhes dizia: "A emoção do amor sexual… não aparece pela primeira vez no período da adolescência, como se tem pensado." Procedendo "à americana", como diríamos na Europa, reuniu durante 15 anos nada menos de 2.500 observações positivas, das quais 800 são próprias. Dos sinais por que se revelam esses temperamentos namoradiços, diz ele: "O espírito mais desprevenido, observando estas manifestações em centenas de casais de crianças, não poderá deixar de atribuir-lhes uma origem sexual." O mais rigoroso espírito satisfaz-se quando a estas observações se juntam as confissões dos que em criança sentiram a emoção intensamente e cujas recordações daquela época são relativamente nítidas". Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909). 

"Não me admiraria se estas observações de seu compatriota lhes merecessem mais crédito que as minhas. A mim mesmo foi-me dado obter recentemente um quadro mais ou menos completo das manifestações instintivas somáticas e das produções mentais num período precoce da vida amorosa infantil, graças à análise empreendida, com todas as regras, pelo próprio pai de um menino de cinco anos atacado de ansiedade. Devo lembrar-lhes que meu amigo Dr. C. G. Jung há poucas horas, nesta mesma sala, lhes expôs a observação de uma menina ainda mais nova, que pelo mesmo motivo do meu paciente (nascimento de um irmãozinho) evidenciava quase os mesmos impulsos sensuais e idêntica formação de desejos e complexos. [Cf. Jung, 1910.] Não duvido, pois, de que os presentes se acabarão familiarizando com a ideia, de início tão exótico, da sexualidade infantil; memore-se o exemplo notável do psiquiatra E. Bleuler, de Zurique, que há poucos anos dizia publicamente que não compreendia minha teoria sexual’ mas que de então para cá, pôde, mediante observações próprias, confirmar a sexualidade infantil em toda a extensão (Cf. Bleuler, 1908.)." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).

A sexualidade infantil:

A sexualidade não esta relacionada exclusivamente a reprodução, mas principalmente a obtenção de sensações prazerosas no corpo. A principal  fonte de prazer sexual infantil é proveniente do seu próprio corpo, das excitações das zonas erógenas. Determinadas partes do corpo são particularmente excitáveis, além dos órgãos genitais: os orifícios da boca, ânus e uretra e também a pele e outras superfícies sensoriais. Qualquer parte do corpo pode ser excitável e excitante, a medida que é investida libidinalmente por um cuidador. As zonas erógenas existem porque são investidas no momento da alimentação, no momento do banho, na educação ao controle esfincteriano. A fase da vida sexual infantil onde a satisfação é obtida através do próprio corpo é denominada de auto erotismo
Ao lado das atividades auto eróticas, revelam-se muito cedo as escolhas objetais. Ou seja, a libido é investida em objetos externos, com o intuito de se obter prazer. 

Há o abandono do autoerotismo, para só depois investir nos objetos do mundo externo? Como o bebê elege os objetos a serem investidos? Na realidade não existe um objeto propriamente dito, existe sim o prazer sentido em alguma parte do corpo e a ânsia que isso se repita. Como  desejo e amor se articulam? Já que o objeto investido libidinalmente é a princípio o objeto amado. O objeto amado é desejado também?

As escolhas dos objetos neste momento estão relacionadas à conservação.  Ou seja, os objetos investidos libidinalmente pelo bebê, são aqueles que satisfazem suas necessidades básicas (alimentação, frio e fome), mas também de amor. Afinal, nós humanos somos seres pulsionais, não temos um objeto especifico que nos satisfaça, e nossas satisfações são sempre parciais. O bebê à medida que é alimentado é investido libidinalmente, e investe nos objetos. O amor, necessidade e desejo dos pares se entrelaçam: investimos à medida que somos investidos. É absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto da primeira escolha amorosa. Porém a libido não permanece fixa neste primeiro objeto: posteriormente o tomará apenas como modelo, passando dele para pessoas estranhas, na ocasião da escolha definitiva. 

Pulsão e sexualidade:

A pulsão é um conceito que esta entre o somático e o psíquico: temos uma base fisiológica do psiquismo que apresenta muitas peculiaridades que nos torna radicalmente diferentes dos outros animais. Somos pulsionais, falantes, mortais e sexuais. 
Nesta parte do texto Freud aborda os aspectos da oposição nas pulsões: ativo e passivo. Será que essas posições em relação aos objetos são de oposição definitiva? Ou o sujeito modifica sua posição a partir do objeto eleito? Ou ainda a escolha do objeto estaria relacionada à maneira, tal qual o posicionamento do objeto? O sadismo e o masoquismo são exemplos desta oposição, ou ainda o prazer visual, ativo ou passivo.
"Do gozo visual ativo desenvolve-se mais tarde a sede de saber, como do passivo o pendor para as representações artísticas e teatrais." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).
Mantem-se zona erógena de satisfação parcial. (do gozo visual a sede de saber) Posicionamento ativo. Ou a satisfação passiva de ser vista, ou talvez neste caso a posição reflexiva, como no caso do ator, ele se põe a ser visto. Enfim, neste paragrafo Freud introduz o olhar como uma suposta zona erógena, e também introduz a posição reflexiva, apesar de colocar o ator como passivo.

Sobre a sexualidade infantil Freud diz:

"Esta vida sexual infantil desordenada, rica, mas dissociada, em que cada impulso isolado se entrega à conquista do gozo independentemente dos demais, experimenta uma condensação e organização em duas principais direções, de tal modo que ao fim da puberdade o caráter sexual definitivo está completamente formado. De um lado subordinam-se todos os impulsos ao domínio da zona genital, por meio da qual a vida sexual se coloca em toda a plenitude ao serviço da propagação da espécie, passando a satisfação daqueles impulsos a só ter importância como preparo e estímulo do verdadeiro ato sexual.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909)

Além da condensação o sujeito psiquicamente vai “organizando” o caos: de sua pulsão (perversa e polimorfa), de seu desejo e consequentemente de seus investimentos libidinais.  Para isso, impulsos são recalcados e algumas forças psíquicas surgem como sentinelas: moral, repugnância e a vergonha/constrangimento. Claro que, essas organizações, parâmetros e limites são alcançados, mas com perdas. O sujeito se submete a isso por amor. Os Ideais são construídos para servirem de parâmetros e limites, em contrapartida algo que exige do sujeito por vezes o inalcançável. Dos primeiros investimentos da criança surgem os modelos de objeto amoroso, mas também os modelos de identificação: de ternura e hostilidade.

"Senhores. Um princípio de patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz em si os germes de uma disposição patológica e pode ser inibido ou retardado ou desenvolver-se incompletamente. Isto vale para o tão complicado desenvolvimento da função sexual que nem em todos os indivíduos se desenrola sem incidentes que deixem após si ou anormalidade ou disposições a doenças futuras por meio de uma regressão. Pode suceder que nem todos os impulsos parciais se sujeitem à soberania da zona genital; o que ficou independente estabelece o que chamamos perversão e pode substituir a finalidade sexual normal pela sua própria. A propensão à neurose deve provir por outra maneira de uma perturbação do desenvolvimento sexual. As neuroses são para as perversões o que o negativo é para o positivo.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909)

Enfim, a sexualidade infantil é vivida de maneira excessivamente intensa e prematura pela criança. Esse contato com o sexual é traumático e nos conduz a uma espécie de fixação parcial. “O complexo assim formado é destinado ao recalque, porém continua a agir do inconsciente com intensidade e persistência. Devemos declarar que suspeitamos represente ele, com seus derivados, o complexo nuclear de cada neurose, e nos predispusemos a encontrá-lo não menos ativo em outros campos da vida psíquica.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).

PAULA  ADRIANA NEVES COUTO
Psicanalista clínica
Email: paulaadriana.couto@gmail.com
Telefone: 3715-8494


Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo



terça-feira, 13 de outubro de 2015

Minha leitura e muitas perguntas sobre:Cinco lições de Psicanálise (1909) - Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO.

Cinco Lições de Psicanálise
De Sigmund Freud


Nesta terceira lição, Freud fala sobre a linguagem nos diversos processos psíquicos. Em psicanalise a única regra utilizada é a associação livre, que consiste no Analisando durante a analise falar livremente,  Freud diz que nesta livre associação há intencionalidade. Nesta fala há ideias patógenas relacionadas ao sintoma que surgem junto às ideias corriqueiras.

No conteúdo por vezes confuso que o analisando apresenta existem duas forças antagônicas em ação: de um lado uma força a trazer conteúdos inconscientes a consciência, e de outro lado antagonicamente outra força que resiste justamente que esse conteúdo advenha. Quanto maior for à deformação do elemento apresentado maior foi a resistência.

Resultado de imagem para sonhos

" O pensamento que no doente vinha em lugar do desejado, tinha origem idêntica à de um sintoma; era uma nova substituição artificial e efêmera do reprimido e tanto menos semelhante a ele quanto maior a deformação que tivesse de sofrer sob a influência da resistência. Ele devia mostrar, porém, certa parecença com o procurado, em virtude da sua natureza de sintoma; e desde que a resistência não fosse muito intensa, seria possível, partindo da ideia, distinguir o oculto que se buscava. O pensamento devia comportar-se em relação ao elemento reprimido com uma alusão, como uma representação do mesmo por meio de palavras indiretas."  Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Na associacao livre, nos sonhos, sintomas e chistes há traços dos conteudos patógenos inconscientes. Os tracos não são: palavras, histórias vividas, imagens, ou qualquer outra coisa neste sentido de concretude. Um traço é um traço. E o sujeito faz uso disso. Afinal, o que são traços?

O conceito de traço mnésico, segundo o dicionário de Psicanálise (Chemama): “a teoria psicanalítica da neurose pressupõe uma atenção particular quanto à forma pela qual os eventos vivenciados pelo sujeito, acontecimentos às vezes traumáticos, podem subsistir nele (“os histéricos sofrem de reminiscências”). Por isso a necessidade de conceber que são traços mnésicos, inscrições de eventos que podem subsistir no pré-consciente ou no inconsciente, que são reativados, quando investidos. Se, de fato, todos os traços da excitação subsistissem na consciência, isso iria logo limitar a capacidade do sistema para receber novas excitações: memória e consciência se excluem. Quanto ao que é propriamente dito recalcado, também é preciso que ele subsista, sob a forma de traço mnésico, visto que retorna no sonho ou no sintoma. Apesar de algumas formulações ambíguas de Freud, o traço mnésico não é uma imagem da coisa, mas um simples sinal, que não comporta uma qualidade sensorial particular e que pode, portanto, ser comparado a um elemento de um sistema de escrita a uma letra.”

No aparelho psíquico, existem ideias livres (soltas) que buscam ser descarregadas (conteúdos ideacionais, repletos de carga de excitação), ao qual a Escola de Zurique (Jung, Bleuler) deu o nome de "complexo". Sempre haverá este tipo de material, mesmo que por ação da resistência, o analisando diga que não sabe mais o que dizer.

Surgem algumas perguntas: O rompimento com Jung trouxe alguma consequencia a utilizacao da palavra complexo e seus conteúdos? Esses complexos e os traços são os mesmos elementos? Essas ideias livres (soltas) sempre existirão mesmo apos a analise? São destes conteúdos que o inconsciente é constituído?

"No emprego desta técnica o que ainda nos perturba é que com frequência o doente se detém, afirmando não saber dizer mais nada, que nada mais lhe vem à ideia. Se assim fosse, se o doente tivesse razão, o método ter-se-ia revelado impraticável. Uma observação atenta mostra, contudo, que as ideias livres nunca deixam de aparecer. É que o doente, influenciado pela resistência disfarçada em juízos críticos sobre o valor da ideia, retém-na ou de novo a afasta. Para evitá-la põe-se previamente o doente a par do que pode ocorrer, pedindo-lhe renuncie a qualquer crítica; sem nenhuma seleção deverá expor tudo que lhe vier ao pensamento, mesmo que lhe pareça errôneo, despropositado ou absurdo e, especialmente, se lhe for desagradável a vinda dessas ideias à mente. Pela observância dessa regra garantimo-nos o material que nos conduz ao roteiro do complexo reprimido." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Freud segue sua “lição” abordando os sonhos, e a sua interpretação como possibilidade de acesso ao inconsciente. Talvez neste momento Freud esteja contagiado pelas ideias de Jung sobre os sonhos, ou não se deu conta da importância da presença do analista/transferência. Freud pelo menos nesta parte do texto parece acreditar que é possível a autoanalise:
"Quando me perguntam como pode uma pessoa fazer-se psicanalista, respondo que é pelo estudo dos próprios sonhos. Os adversários da psicanálise, com muita habilidade, têm até agora evitado estudar de perto “A Interpretação de Sonhos”, ou têm oposto ao de longe objeções superficialíssimas. Se não repugna aos presentes, ao contrário, aceitar as soluções dos problemas da vida onírica, já não apresentam aos ouvintes dificuldade alguma as novidades trazidas pela psicanálise." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

As elaborações oníricas noturnas são semelhantes tanto àqueles que apresentam problemas psíquicos ou daqueles sujeitos dito “normais”. Talvez a diferença entre o sujeito com problemas psíquicos está no despertar e não no sonhar. Sobre essas semelhanças Freud diz:
“Não é nenhum paradoxo afirmar que quem fica admirado ante essas alucinações, delírios ou mudanças de caráter que podemos chamar “normais”, sem procurar explicá-los, não tem a menor probabilidade de compreender, senão como qualquer leigo as formações anormais dos estados psíquicos patológicos. E entre esses leigos os ouvintes podem contar atualmente, sem receio, quase todos os psiquiatras." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Resultado de imagem para sonhos realização de desejos
Os sonhos sempre tiveram um caráter exótico, até porque geralmente são obscuros. Até hoje algumas pessoas acreditam no seu caráter profético ou oracular, numa suposta simbologia. Freud escreveu a Interpretação dos sonhos (1905), neste extenso livro o autor aborda os diversos aspectos dos sonhos e sua interpretação. Freud diz inclusive que os sonhos são realização de desejo.

“Em primeiro lugar, nem todos os sonhos são estranhos, incompreensíveis e confusos para a pessoa que sonhou. Examinando os sonhos de criancinhas, desde um ano e meio de idade, verificarão que eles são extremamente simples e de fácil explicação. A criancinha sonha sempre com a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez. Não há necessidade de arte divinatória para encontrar solução tão simples; basta saber o que se passou com a criança na véspera ("dia do sonho"). Estaria certamente resolvido, e de modo satisfatório, o enigma do sonho, se o do adulto não fosse nada mais que o da criancinha: realização de desejos trazidos pelo dia do sonho. E o é de fato. As dificuldades que esta solução apresenta removem-se uma a uma, mediante a análise minuciosa dos sonhos.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Os sonhos dos adultos apresentam geralmente conteúdo ininteligível que não são satisfação (realização ou satisfação?) de desejos, neste textos dos sonhos há certa distorção, o que torna o sonho obscuro, mas também enigmático e que nos instiga a querer saber mais.
Nos sonhos existem os conteúdos latentes e os manifestos. “O conteúdo manifesto do sonho, recordado vagamente de manhã e que, não obstante a espontaneidade aparente, se exprime em palavras com esforço, deve ser diferenciado dos pensamentos latentes do sonho que se têm de admitir como existentes no inconsciente. Esta deformação possui mecanismo idêntico ao que já conhecemos desde quando examinamos a gênese dos sintomas histéricos; e é uma prova da participação da mesma interação de forças mentais tanto na formação dos sonhos como na dos sintomas. O conteúdo manifesto do sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho. Esta deformação é obra das forças defensivas do eu, isto é, das resistências que na vigília impedem, de modo geral, a passagem para a consciência, dos desejos reprimidos do inconsciente; enfraquecidas durante o sono, estas resistências ainda são suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados. Quem sonha, portanto, reconhece tão mal o sentido de seus sonhos, como o histérico as correlações e a significação de seus sintomas.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Em análise, o analisando narra o sonho, utilizando-se de elementos da sua memória, criando um texto, como na associação livre.  O analista por sua vez parte da narrativa do sonho como um todo, mas principalmente de cada um dos elementos do sonho manifesto. Deste material chega-se aos pensamentos latentes do sonho. Enfim nos conteúdos manifestos dos sonhos dos adultos há: conteúdos deformados (ação da censura), impressões do dia anterior e há também realização de desejo inconsciente.

“O sonho manifesto que conhecem no adulto graças à recordação pode então ser descrito como uma realização velada de desejos recalcados”. Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Nas elaborações oníricas há dois processos psíquicos envolvidos: a condensação e o deslocamento. A elaboração onírica é resultado da divisão psíquica entre consciente e inconsciente. Freud assemelha o trabalho de elaboração onírica nos sonhos aos sintomas, ambos como resultado da divisão psíquica, num trabalho de deformação. Nos sintomas, aquele conteúdo ideacional patógeno (complexos) advém de maneira deformada, quando o processo de recalque fracassa. Será que o recalque por vezes fracassa e por isso aquele conteúdo advém? Ou será que o recalque é construído para fracassar? Ou seja, o conteúdo inconsciente necessita advir à consciência?

As impressões da tenra infância exercem grande influência na vida do sujeito. Impressões essas, que o sujeito fará uso: para reviver o passado? Para prolongar uma satisfação já vivida? Revive porque não tem saída é necessário ao aparelho psíquico reviver essas impressões?

Existe certa simbologia nos sonhos, que por vezes parecem fixas, mas que o sujeito faz uso dela. Os signos

Nós geralmente perguntamos: como explicar a realização de desejo nos pesadelos, ou nos sonhos penosos? Não podemos esquecer que há conflito entre as instâncias, por vezes aquilo que é penoso à consciência é sentido como prazeroso ao inconsciente. O que é prazeroso ao inconsciente? 

Mesmo nos pesadelos, há o sonho como um todo, uma narrativa,  mas há cada elemento do sonho. O que torna o sonho um pesadelo? É a impressão que este nos causa quando lembramos? Por vezes há sonhos com imagens impactantes, que não nos afetam.

Freud fala da Ansiedade que surge quando temos pesadelos: “Além de que é necessário interpretar os pesadelos antes de sobre eles poder firmar qualquer juízo, pode dizer-se de modo geral que a ansiedade que os acompanha não depende assim tão simplesmente do conteúdo onírico, como muitos imaginam por ignorar as condições da ansiedade neurótica. A ansiedade é uma das reações do eu contra desejos recalcados violentos, e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a elaboração deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)


Freud aborda então os esquecimentos de nomes próprios, os lapsos de linguagem (escrita, leitura e na fala), os atos e gestos que as pessoas fazem sem perceber e sem lhe dar importância. Esses atos exprimem impulsos e intenções que devem ficar ocultos à consciência. Podem ser oriundos de desejos recalcados ou dos complexos (conteúdos ideacionais, com intensa carga de excitação). Como já foi dito, são esses elementos que são criadores dos sintomas e formadores dos sonhos.

 “Se os ouvintes reunirem os meios que estão ao nosso alcance para descobrimento do que na vida psíquica jaz escondido, deslembrado e reprimido — o estudo das ideias livremente associadas pelos pacientes, seus sonhos, falhas e ações sintomáticas; se ainda juntarem a tudo isso o exame de outros fenômenos surgidos no decurso do tratamento psicanalítico e a respeito dos quais farei algumas observações quando tratar da "transferência" — chegarão comigo à conclusão de que a nossa técnica já é suficientemente capaz de realizar aquilo que se propôs: conduzir à consciência o material psíquico patogênico, dando fim desse modo aos padecimentos ocasionados pela produção dos sintomas de substituição. O fato de enriquecermos e aprofundarmos durante o tratamento os nossos conhecimentos sobre a vida mental, dos sãos e dos doentes, deve ser considerado apenas como estímulo especial a este trabalho e uma de suas vantagens.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)



Pronunciadas por ocasião das comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University, Worcester, Massachusetts, setembro de 1909
Tradução de Durval Marcondes e J. Barbosa corra, revista e modificada por Jayme Salomão
(Do Livro: Os Pensadores, Abril Cultural, 1974, págs. 11 a 44)


 Um sonho pode ser representado:



Resultado de imagem para sonhosResultado de imagem para sonhosResultado de imagem para sonhosResultado de imagem para sonhos


PAULA  ADRIANA NEVES COUTO
Psicanalista clínica
Email: paulaadriana.couto@gmail.com
Telefone: 3715-8494
Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

ARTE

Resultado de imagem para frases sobre arte


Resultado de imagem para frases sobre arte

A beleza expressa pelo artista não pode despertar em nós uma emoção que é cinética, ou uma emoção que é puramente física. Ela desperta ou deve despertar, ou induz, ou deve induzir, um êxtase estético, uma piedade ideal ou terror ideal, um êxtase que perdura, que se prolonga e que acaba, por fim, dissolvido pelo que eu chamo ritmo de beleza. (James Joyce, Retrato do Artista quando Jovem)

Resultado de imagem para arte contemporaneo

Resultado de imagem para frases sobre arte



Resultado de imagem para frases sobre arte

Minha perspectiva e perguntas: Cinco lições de Psicanálise (1909) Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO

Cinco Lições de Psicanálise
De Sigmund Freud

SEGUNDA LIÇÃO
Na segunda lição, Freud continua abordando os mecanismos  da histeria, mas agora sob a perspectiva de  Charcot, Janet, Breuer e as suas próprias concepções.

Resultado de imagem para histéricas charcot

Charcot não era propenso as concepções psicológicas, para ele os  traumas histéricos de origem psíquica eram equivalentes aos traumas físicos. Já Pierre Janet, discípulo de Charcot articulou os mecanismos da histeria com os aspectos psíquicos e físicos envolvidos. Hipóteses de Janet: divisão psíquica e dissociação da personalidade.  Janet parte de duas visões ao abordar a histeria: o papel da hereditariedade e da degeneração. Neste autor a  histeria é uma forma de alteração degenerativa do sistema nervoso, que se manifesta pela fraqueza congênita do poder de síntese psíquica. O que isso significa?  Freud explica:

"Os pacientes histéricos seriam, desde o princípio, incapazes de manter com um todo a multiplicidade dos processos psíquicos, e daí a dissociação psíquica." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

Resultado de imagem para pierre janet
Exemplo citado  por Freud  sobre  dissociação psíquica descrita por Janet:
"Se me for permitida uma comparação trivial mais precisa, direi que o paciente histérico de Janet lembra uma pobre mulher que saiu a fazer compras e volta carregada de pacotes. Não podendo só com dois braços e dez dedos conter toda a pilha, cai-lhe primeiro um embrulho; ao inclinar-se para levantá-lo, cai-lhe outro, e assim sucessivamente. Contrariando, porém, esta suposta fraqueza mental dos pacientes histéricos, podem observar-se neles, além dos fenômenos de capacidade diminuída, outros, por assim dizer compensadores, de exaltação parcial da eficiência." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909) Continua Freud explicando a dissociação  psíquica, agora, a partir da paciente  do Dr. Breuer:  "Durante o tempo em que a doente de Breuer esquecera a língua materna e outros idiomas exceto o inglês, era tal a facilidade com que falava este último, que chegava a ponto de ser capaz, diante de um livro alemão, de traduzi-lo à primeira vista, perfeita e corretamente." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

Enfim, na dissociação psíquica estariam envolvidos mecanismos como: a memória, esquecimento  e seus contrários: rememoração e  lembranças.   Esses elementos utilizados  de maneira seletiva, a  favor da própria dissociação.  Interessante pensar a memória como algo disponível ao trabalho psíquico. Eu pensava a memória como algo totalmente orgânico e fixo.

Freud parte suas pesquisas da dissociação histérica, para chegar a divisão da consciência. O psiquismo é constituído de três instâncias ics-cs-pcs (Primeira tópica), sendo que essas instâncias atuam de maneira conflituosa. Aquilo que é insuportável à consciência torna-se inconsciente. E a memória estaria a  serviço  destas instancias, visando evitar  o aumento de  tensão no  aparelho psíquico,  decorrente do  conflito  entre os conteúdos.

Dr. Breuer através da utilização da hipnose com seus doentes  percebeu  que era possível diminuir a dissociação psíquica, e consequentemente alcançar rememoração do evento  traumático, o  extravasamento do quantum afetivo que  foi subjugado,  e  finalmente  a  catarse que levavam o doente ao apaziguamento de seus sintomas. Freud por sua vez buscou outro método para  trabalhar com suas  doentes, pois a hipnose não foi um  procedimento que ele se adaptou. Será que sem a hipnose seria possível rememorar, ou diminuir a  dissociação  ou se ter acesso  as ligações patogênicas? Ou  a própria  catarse?

"Como não podia modificar à vontade o estado psíquico dos doentes, procurei agir mantendo-os em estado normal. Parecia isto a princípio empresa insensata e sem probabilidade de êxito. Tratava-se de fazer o doente contar aquilo que ninguém, nem ele mesmo, sabia. Como esperar consegui-lo? O auxílio me veio da recordação de uma experiência de Bernheim, singularíssima e instrutiva, a que eu assistira em Nancy [em 1889]. Bernheim nos havia então mostrado que as pessoas por ele submetidas ao sonambulismo hipnótico e que nesse estado tinham executado atos diversos, só aparentemente perdiam a lembrança dos fatos ocorridos, sendo possível despertar nelas tal lembrança, mesmo no estado normal. Quando interrogadas a propósito do que havia acontecido durante o sonambulismo, afirmavam de começo nada saber; mas se ele não cedia, insistindo com elas e assegurando-lhes que era possível lembrar, a recordação vinha sempre de novo à consciência. Procedi do mesmo modo com os meus doentes. Quando chegávamos a um ponto em que nos afirmavam nada mais saber, assegurava-lhes que sabiam, que só precisavam dizer, e ia mesmo até afirmar que a recordação exata seria a que lhes apontasse no momento em que lhes pusesse a mão sobre a fronte." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

O saber sobre as doenças e as possibilidades de tratamento e suposta cura – até este momento (1909) era  um  privilegio dos  médicos, Freud  subverte essa ideia quando diz ao doente que ele sabe de  si, do seu mal estar, apesar de ignorar que sabe.

Apesar de o doente ser "sabido"  daquilo que o faz adoecer e que bastava um quantum de esforço para rememorar, existia algo nele que não queria saber sobre os seu mal estar. Freud então descobre a resistência: "Vi confirmado, assim, que as recordações esquecidas não se haviam perdido. Jaziam em poder do doente e pronta a ressurgir em associação com os fatos ainda sabidos, mas alguma força as detinha, obrigando-as a permanecer inconsciente." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

A resistência é uma força que mantém  a lembrança patogênica inacessível (inconsciente), trata-se da mesma forca que faz o caminho inverso:  expulsa da consciência o patógeno, através da  ação do recalque. Qual é esse agente patógeno? Por que os agentes patógenos devem ser expulsos da consciência?  "Trata-se em todos os casos do aparecimento de um desejo violento, mas em contraste com os demais desejos do indivíduo e incompatível com as aspirações morais e estéticas da própria personalidade. Produzia-se um rápido conflito e o desfecho desta luta interna era sucumbir ao recalque a ideia que aparecia na consciência trazendo em si o desejo inconciliável, sendo a mesma expulsa da consciência e esquecida, juntamente com as respectivas lembranças." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

Exemplo:  "A paciente era uma jovem que perdera recentemente o pai, depois de tomar parte, carinhosamente, nos cuidados ao enfermo — situação análoga à da doente de Breuer. Nascera, quando a irmã mais velha se casou, uma simpatia particular para o novo cunhado, que se mascarava por disfarce de ternura familiar. Esta irmã adoeceu logo depois e veio a falecer durante a ausência da minha doente e de sua mãe. Estas foram chamadas urgentemente, sem notícia completa do doloroso acontecimento. Quando a moça chegou ao leito da morta, correu-lhe na mente, por um rápido instante, uma ideia mais ou menos assim: "Ele agora está livre, pode desposar-me." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

Há desejo  proibido inconciliável entre as instancias: desejo sexual pelo cunhado, marido da irmã. A ideia que surge: “Ele agora está livre e pode desposar-me” é recalcada  (demonstra o desejo/a possibilidade de realizar).
A ideia que surge é recalcada e a mulher adoece: "A jovem adoeceu com graves sintomas histéricos e quando comecei a tratá-la tinha esquecido não só aquela cena junto ao leito da irmã, como também o concomitante sofrimento indigno e egoísta. Mas recordou-se de tudo durante o tratamento, reproduziu o incidente patogênico com sinais de intensa emoção, e curou-se." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

RELAÇÃO RECALQUE E  RESISTÊNCIA

 "Imaginem que nesta sala e neste auditório, cujo silêncio e cuja atenção eu não saberia louvar suficientemente, se acha no entanto um indivíduo comportando-se de modo inconveniente, perturbando-nos com risotas, conversas e batidas de pé, desviando-me a atenção de minha incumbência. Declaro não poder continuar assim a exposição; diante disso alguns homens vigorosos dentre os presentes se levantam, e após ligeira luta põem o indivíduo fora da porta. Ele está agora "reprimido" e posso continuar minha exposição. Para que, porém, se não repita o incômodo se o elemento perturbador tentar penetrar novamente na sala, os cavalheiros que me satisfizeram a vontade levam as respectivas cadeiras para perto da porta e, consumada a repressão, se postam como "resistências". Se traduzirmos agora os dois lugares, sala e vestíbulo, para a psique, como "consciente" e "inconsciente", os senhores terão uma imagem mais ou menos perfeita do processo de repressão." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

Confusão na tradução: Freud em seu texto utiliza repressão quando quer dizer recalque, é isso mesmo? Qual a diferença entre recalque e repressão? Recalque e repressão são conceitos utilizados com clareza por Freud em seus escritos na língua alemã. Porém, a interpretação dos tradutores disseminou no campo psicanalítico divergências em relação ao significado e utilização desta terminologia.  Em alemão se escreve Verdrängung, do verbo verdrängen. Segundo Hans (1996), a palavra é traduzida por recalque ou repressão.

Em Freud a  divisão psíquica  é  decorrente de um conflito entre  forças psíquicas  contrárias, uma luta ativa da parte dos dois agrupamentos psíquicos, esses conflitos são frequentes, mas  nem todo conflito psíquico leva a divisão. São necessárias condições para  resultar a divisão. 

Surgem novas questões sobre recalque e sintoma: Como do recalque advém o sintoma? O sintoma esta relacionado aquilo que foi recalcado? Por que algo que foi recalcado transforma-se em sintoma? A ideia do recalque não seria justamente manter este elemento fora da consciência? Ou não?

Freud e seus exemplos maravilhosos, agora sobre o recalque e sintoma: "Suponhamos que com a expulsão do perturbador e com a guarda à porta não terminou o incidente. Pode muito bem ser que o sujeito, irritado e sem nenhuma consideração, continue a nos dar que fazer. Ele já não está aqui conosco; ficamos livres de sua presença, dos motejos, dos apartes, mas a expulsão foi por assim dizer inútil, pois lá de fora ele dá um espetáculo insuportável, e com berros e murros na porta nos perturba a conferência mais do que antes. Em tais conjunturas poderíamos felicitar-nos se o nosso honrado presidente, Dr. Stanley Hall, quisesse assumir o papel de medianeiro e pacificador. Iria parlamentar com o nosso intratável companheiro e voltaria pedindo-nos que o recebêssemos de novo, garantindo-nos um comportamento conveniente daqui por diante. Graças à autoridade do Dr. Hall, condescendemos em desfazer a repressão, voltando a paz e o sossego. Eis uma representação muito apropriada da missão que cabe ao médico na terapêutica psicanalítica das neuroses." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

"Agora, para dizê-lo sem rebuços: chegamos à convicção, pelo exame dos doentes histéricos e outros neuróticos, de que o recalque das ideias, a que o desejo insuportável está apenso, malogrou. Expeliram-nas da consciência e da lembrança; com isso os pacientes se livraram aparentemente de grande soma de dissabores. Mas o impulso desejoso continua a existir no inconsciente à espreita de oportunidade para se revelar, concebe a formação de um substituto do recalcado, disfarçado e irreconhecível, para lançar à consciência, substituto ao qual logo se liga a mesma sensação de desprazer que se julgava evitada pela repressão. Esta substituição da ideia reprimida — o sintoma — é protegida contra as forças defensivas do eu e em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento interminável. No sintoma, a par dos sinais do disfarce, podem reconhecer-se traços de semelhança com a ideia primitivamente recalcada. Pelo tratamento psicanalítico desvenda-se o trajeto ao longo do qual se realizou a substituição, e para a recuperação é necessário que o sintoma seja reconduzido pelo mesmo caminho até a ideia recalcada." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - SEGUNDA LIÇÃO. (1909)

Uma vez restituído à atividade psiquica consciente aquilo que fora recalcada —  resistências foram desfeitas — o conflito psíquico que desse modo se originara e que o doente quis evitar, alcança, orientado pelo médico, uma solução mais feliz do que a oferecida pelo recalque. Há várias dessas soluções para rematar satisfatoriamente conflito e neurose as quais, em determinados casos, podem combinar-se entre si:
-  A personalidade do doente se convence de que repelira sem razão o desejo e consente em aceitá-lo total ou parcialmente.
-  O mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado (o que se chama "sublimação" do desejo),

- Ou, finalmente, reconhece como justa a repulsa. O mecanismo de recalque e  substituído por um julgamento de condenação com a ajuda das mais altas funções mentais do homem — o controle consciente do desejo é atingido.




Pronunciadas por ocasião das comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University, Worcester, Massachusetts, setembro de 1909
Tradução de Durval Marcondes e J. Barbosa corra, revista e modificada por Jayme Salomão


(Do Livro: Os Pensadores, Abril Cultural, 1974, págs. 11 a 44)