quarta-feira, 11 de julho de 2012

As diferenças entre psicoterapia e psicanálise


As diferenças entre psicoterapia e psicanálise

A psicoterapia  e a psicanálise tem propostas diferentes. Pessoalmente passei pelas duas propostas. A psicoterapia foi um processo bastante interessante, mas que visou certa reorganização, um retorno a homeostase, visando a saúde e o bem estar. Existe um bem comum.  Já a psicanálise foi um processo, mais profundo: de implicação e responsabilidade. Às vezes um processo muito doloroso, pois nos conduz a um esvaziamento das identificações, dos ideais, dos mitos. Desde nossa infância construímos uma série de equívocos e engodos, que no decorrer da análise vão um a um caindo por terra. Nossos sintomas são uma maneira de estarmos no mundo, geralmente nos leva a repetição e a mesmice. Isso por conta de uma economia pulsional. Com a análise, de alguma maneira há um remanejamento desta economia, com perdas,  mas que nos leva a uma reinvenção de si.   

A psicoterapia:

       Há um saber prévio, uma referência na prescrição das condutas que possibilitarão a saída da desordem e do mal estar instalado à META: RETORNO A ORDEM

       Sugestão como meio de orientar o paciente na superação de conflitos, sintomas e queixas.

       O psicoterapeuta no lugar de saber.

       Manejo estruturado para a superação de um conflito.

       Ideia de bem estar, saudável

Há um conflito a ser resolvido:

       O conflito trazido pelo sujeito é submetido a um determinado saber suposto a representar a ordem de funcionamento do sujeito.

        A partir desta referência será permitida a demarcação da disfunção apresentada pelo paciente que procura tratamento.

       Esse conflito será submetido a esse saber prévio do psicoterapeuta que fornece ao paciente os instrumentos eficazes para o tratamento.

       Superação da desordem que está em curso.

Promessa:

       Sua promessa supõe de algum modo, que existe um saber sobre a ordem das coisas que permite restaurá-la, desde que o paciente aceite submeter-se às praticas que tal saber legitima.

       Essa condução do tratamento é tributária de alguma visão de mundo, seja ela religiosa, filosófica ou mesmo científica.

       Há uma ideia de universalidade do bem comum, não havendo espaço para a singularidade e responsabilidade do sujeito.

A psicanálise clínica:

“ Lugar ao sujeito e sua responsabilidade.”

       Na psicanálise o saber está do lado do inconsciente.

       Apesar da demanda do analisando seja de um suposta saber por parte do analista, essa suposição encontra uma acolhida muito singular. O analista sustenta esse lugar, mas não se confunde com esse sujeito suposto saber. Ele não se identifica com esse lugar de saber.

Conflito:

       Ao analista cabe poder dar o testemunho de um saber que venha a se constituir na palavra que se anuncia a cada sessão. Palavra que traz consigo a possibilidade do ics, e que sendo assim, sempre aponta para um conflito.

       Um conflito que se origina em Outra cena, mas que também não está conforme ao que acreditamos ser o nosso Eu ou o nosso Bem, o nosso Conforto.

       O nosso mal estar advém de nossa própria estrutura. Esse modo constituição da experiência humana é conflituosa e não é para ser resolvida. E a nossa doença advém da recusa dessa condição.

Não promessa:

       A psicanálise além de não resolver essa divisão que é constitutiva da experiência humana pelo funcionamento do inconsciente, devolve ao sujeito a responsabilidade da conclusão do seu tratamento.

       Leva a se encontrar com sua condição de sujeito dividido pelo desejo ele terá de se decidir a ser sujeito ai, sem resolução, ou a continuar em sua miséria neurótica.

       Do lado do analista, somos convidados a não abraçar as ilusões de que há uma ordem que poderá salvaguardar o sujeito do conflito, do sofrimento e da desordem do desejo, das exigências da vida.

       Com o trabalho de análise o que se modifica é a proliferação desenfreada da crueldade superegoica, dos sintomas, inibições, fobias, que sinalizam a própria recusa do sujeito em aceitar sua divisão.

Referências:


FREUD S. Questão da Análise Leiga (1926). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
FREUD S. Análise terminável e análise interminável (1937). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
FREUD S. Construções em análise (1937). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
FINGERMANN, D.; DIAS, M.M. Por causa do Pior. São Paulo: Iluminuras, 2005.


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