As diferenças entre psicoterapia e psicanálise
A psicoterapia e a psicanálise tem propostas diferentes.
Pessoalmente passei pelas duas propostas. A psicoterapia foi um processo
bastante interessante, mas que visou certa reorganização, um retorno a homeostase,
visando a saúde e o bem estar. Existe um bem comum. Já a psicanálise foi um processo, mais profundo:
de implicação e responsabilidade. Às vezes um processo muito doloroso, pois nos
conduz a um esvaziamento das identificações, dos ideais, dos mitos. Desde nossa
infância construímos uma série de equívocos e engodos, que no decorrer da
análise vão um a um caindo por terra. Nossos sintomas são uma maneira de
estarmos no mundo, geralmente nos leva a repetição e a mesmice. Isso por conta
de uma economia pulsional. Com a análise, de alguma maneira há um remanejamento
desta economia, com perdas, mas que nos
leva a uma reinvenção de si.
A psicoterapia:
• Há
um saber prévio, uma referência na prescrição das condutas que possibilitarão a
saída da desordem e do mal estar instalado à
META: RETORNO A ORDEM
• Sugestão
como meio de orientar o paciente na superação de conflitos, sintomas e queixas.
• O
psicoterapeuta no lugar de saber.
• Manejo
estruturado para a superação de um conflito.
• Ideia
de bem estar, saudável
Há um conflito a ser
resolvido:
• O
conflito trazido pelo sujeito é submetido a um determinado saber suposto a
representar a ordem de funcionamento do sujeito.
• A partir desta referência será permitida a
demarcação da disfunção apresentada pelo paciente que procura tratamento.
• Esse
conflito será submetido a esse saber prévio do psicoterapeuta que fornece ao
paciente os instrumentos eficazes para o tratamento.
• Superação
da desordem que está em curso.
Promessa:
• Sua
promessa supõe de algum modo, que existe um saber sobre a ordem das coisas que
permite restaurá-la, desde que o paciente aceite submeter-se às praticas que
tal saber legitima.
• Essa
condução do tratamento é tributária de alguma visão de mundo, seja ela
religiosa, filosófica ou mesmo científica.
• Há
uma ideia de universalidade do bem comum, não havendo espaço para a
singularidade e responsabilidade do sujeito.
A psicanálise
clínica:
“ Lugar ao sujeito e
sua responsabilidade.”
• Na
psicanálise o saber está do lado do inconsciente.
• Apesar
da demanda do analisando seja de um suposta saber por parte do analista, essa
suposição encontra uma acolhida muito singular. O analista sustenta esse lugar,
mas não se confunde com esse sujeito suposto saber. Ele não se identifica com
esse lugar de saber.
Conflito:
• Ao
analista cabe poder dar o testemunho de um saber que venha a se constituir na
palavra que se anuncia a cada sessão. Palavra que traz consigo a possibilidade
do ics, e que sendo assim, sempre aponta para um conflito.
• Um
conflito que se origina em Outra cena, mas que também não está conforme ao que
acreditamos ser o nosso Eu ou o nosso Bem, o nosso Conforto.
• O
nosso mal estar advém de nossa própria estrutura. Esse modo constituição da
experiência humana é conflituosa e não é para ser resolvida. E a nossa doença
advém da recusa dessa condição.
Não promessa:
• A
psicanálise além de não resolver essa divisão que é constitutiva da experiência
humana pelo funcionamento do inconsciente, devolve ao sujeito a
responsabilidade da conclusão do seu tratamento.
• Leva
a se encontrar com sua condição de sujeito dividido pelo desejo ele terá de se
decidir a ser sujeito ai, sem resolução, ou a continuar em sua miséria
neurótica.
• Do
lado do analista, somos convidados a não abraçar as ilusões de que há uma ordem
que poderá salvaguardar o sujeito do conflito, do sofrimento e da desordem do
desejo, das exigências da vida.
• Com
o trabalho de análise o que se modifica é a proliferação desenfreada da
crueldade superegoica, dos sintomas, inibições, fobias, que sinalizam a própria
recusa do sujeito em aceitar sua divisão.
Referências:
FREUD S. Questão da
Análise Leiga (1926). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
FREUD S. Análise
terminável e análise interminável (1937). In: Obras Completas. Rio de Janeiro:
Imago, 1980.
FREUD S. Construções em
análise (1937). In: Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1980.
FINGERMANN, D.; DIAS,
M.M. Por causa do Pior. São Paulo: Iluminuras, 2005.
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