Primeiro tempo do Édipo:
Segundo
Faria (2003), a criança em relação à mãe, ocupa o lugar previlegiado como
falo , se mantém num curto circuito, a identificação
fálica por um lado, lhe dá condições de fazer a passagem de um corpo
despedaçado, a uma unidade do eu; entretanto por outro lado, mantém a criança
em um completo assujeitamento diante da onipotência ao Outro.
Esse assujeitamento da criança a esse Outro
onipotente, Lacan denominou de Dom: o Dom está relacionado à satisfação que o
Outro materno onipotente fornece ou recusa. Para a criança a mãe tem e dá ou
não quer dar a satisfação. A frustraçao denomina-se justamente a impossibilidade da demanda ser atendida. Entretanto quando há frustação, há movimento de busca por um novo objeto. Portanto esse momento de frustração não é tão sentido pela
criança como a privação e castração.
“Só
há frustração – a palavra implica isso – se o sujeito entra na reivindicação,
na medida em que o objeto é considerado como exigível por direito.”
Segundo Faria (2003), a função paterna,
entra em jogo para organizar o mundo simbólico, mantendo a hiância que separa
mãe-criança, garantindo esta relação. Esta dialética do desejo, operada através
do falo, que funda a possível subjetividade humana. Trata-se na verdade, da
luta do sujeito, capturado nesta relação fálica (devoração) com a mãe. Em relação à mãe, o pai já ocupa um lugar desde o
início. O pai, no primeiro tempo do Édipo, está presente como uma
potência, mas não em ato, e quem autoriza a entrada dele, é o desejo materno.
Em algum momento desta relação(mãe-criança-falo(pai), vai produzir-se a separação entre a criança e a mãe. De
alguma maneira, a mãe deverá deixar de ser “tudo” para a criança, deve deixar
de ser “toda” para ela – é o que Freud denomina de castração materna.
A mãe transmite a criança, um lugar terceiro
entre ela e a criança, o qual será ocupado, geralmente, pela presença do pai –
um homem para quem seu desejo de mulher se vê endereçado. O pai é um operador simbólico, o qual
não remete à existência de nenhum pai da realidade. Trata-se de uma entidade
simbólica que ordena uma função que é estruturante do ponto de vista do
inconsciente.
Segundo Melman (2004), o pai na cadeia
de significantes, não é mais um significante, mas um nome que representa outro
nome, que condiz a coisa. Enfim a palavra pai é uma metáfora de nada, mas que
pode representar qualquer coisa.
Segundo
tempo do Édipo:
Este momento situa-se
a saída da criança de seu “acoplamento” ao desejo materno.
Há uma quebra da ilusão de ser o falo materno, implicando na
percepção que a mãe não é fálica. Se a mãe não tem o falo é porque a criança
não o é.
Essa dupla incidência da falta se dá
segundo Lacan, na ausência e presença da mãe, é porque a mãe pode estar
presente, ou ausente que se instaura a falta. A questão da ausência e presença,
não se dá de forma concreta, mas sim em relação ao desejo da mãe.
A criança, frente a essa “situação” de
ausência e presença da mãe é inserida no campo simbólico, com o objetivo de
lidar com essa ausência, a partir da representação do objeto que falta.
A partir deste momento, a criança
formula a questão: o que quer esta mulher de mim? Entrando assim o enigma (x).
O pai se desvela como um outro na
relação. Sendo que a castração é de alguma forma introduzida, pela dimensão da
intrusão paterna. O pai neste momento é considerado pelo filho como uma ameaça
à sua posição fálica.
No segundo tempo do Édipo, a criança terá
que lidar com um Outro faltante e desejante. Essa falta, Lacan denominou de
privação.
"Está bastante claro, que o pai não castra a mãe de uma
coisa que ela não tem. Para que fique postulado que ela não o tem, é preciso
que isso de que se trata já esteja projetado no plano simbólico como símbolo.
Mas há de fato uma privação, uma vez que toda privação real exige a simbolização.”
A entrada do pai se dá progressivamente.
Toda vez que a mãe está ausente, a criança capta isso, como se a mãe estivesse
com o pai, sendo aquele que proíbe a mãe de dar aquilo que ela tem. Sendo
percebido como um tirano, a criança, por sua vez coloca-se numa rivalidade
imaginária em relação ao pai.
No Seminário: As formações do inconsciente (1957-1958), Lacan aborda que diante
da rivalidade da criança para com o pai, tal agressividade, é percebida como
advinda do pai, por isso o pai tirano. A criança, neste momento é confrontada
com a lei do pai, percebendo que a mãe também depende deste outro para se
satisfazer. Segundo Dor (1989), a criança, neste momento descobre a dimensão
essencial que estrutura o desejo: cada um é submetido à lei do desejo do Outro.
O pai surge na vida subjetiva da
criança como um objeto fálico. O pai interdita a relação mãe-criança, através
de duas vertentes: que a criança cometa o incesto e que a criança seja o falo
da mãe. “Tu não reintegrarás seu produto.”
(Você não pode engolir o seu filho) e “Não
te deitarás com a tua mãe”. A falta
é Real e o objeto imaginário
O pai é detentor do falo, e a mãe
deseja o desejo do pai e a criança frente à dialética do ser e ter o falo, sob a dupla
relação, frustração e privação.
”Com sua presença
privadora, o pai é aquele que sustenta a lei, e isto se faz não mais de uma
forma velada, mas de uma forma mediada pela mãe, que é a que coloca como aquele
que lhe dita a lei.”
Segundo Lacan, o pai, neste segundo
tempo do Édipo aparece mediado no discurso da mãe, comparecendo menos velado,
mas não totalmente revelado, para que o pai tenha seu lugar enquanto lei, o pai
deve aparecer como uma mensagem da mãe, Lacan refere-se ao pai como: “(...) uma mensagem sobre uma
mensagem.”
Lacan
situa o segundo tempo do Édipo como ponto nodal, a criança neste momento
percebe que existe uma falta na sua relação com a mãe e é ao pai que atribui a
responsabilidade por esta falta. Segundo Lacan:
“(...) num dado momento da evolução do Édipo, coloca-se para
o sujeito a questão de aceitar, de registrar, de simbolizar ele mesmo, de dar
valor de significação a essa privação da qual a mãe revela-se o objeto, essa
privação o sujeito infantil a assume ou
não, aceita ou recusa.”
A maneira como a criança recusa ou aceita
da castração materna, determinará as diferentes saídas do complexo de Édipo.
Terceiro
tempo do Édipo:
O pai neste momento adquire um novo estatuto, neste terceiro tempo “intervém”
o pai permissivo e doador. O pai é detentor do falo, mas pode doá-lo.
Segundo Lacan (1957-1958), o pai pode
dar a mãe o que ela deseja, e pode dar porque o possui isso no sentido genital
do termo, um pai potente. Esse é o pai doador do terceiro tempo, diferente do
pai onipotente do segundo tempo do Édipo.
Sendo assim, a mudança de estatuto do
pai é também uma mudança de estatuto do objeto. Lacan afirma no que diz
respeito ao objeto:
“Com efeito, tudo o que se pode transmitir na
troca simbólica é sempre alguma coisa que é tanto ausência como presença. Ele é
feito para ter essa espécie de alternância fundamental, que faz com que, tendo
aparecido num ponto, desapareça para reaparecer num outro. Em outras palavras,
ele circula, deixando atrás de si o signo de sua ausência no ponto de onde vem,
Em outras palavras ainda, o falo em questão – nós o reconhecemos desde logo – é
um objeto simbólico”
Segundo Faria (2003), os movimentos de
idas e vindas da mãe oferece a criança a possibilidade de situar um objeto
ligado ao enigma do desejo materno – por isso ela se ausenta – ao mesmo tempo
em que o situa como algo que não preenche esse desejo completamente – por isso
ela volta para a criança que, percebe-se dando também alguma satisfação.
Enfim, a criança pode compreender o pai,
como aquele que tem. Um pai potente, que dá a mãe o que ela deseja, e que isso
que a mãe busca e deseja no pai pode ser um objeto buscado e desejado também
pela criança.
Neste terceiro tempo do Édipo, o pai se
apresenta como morto. O falo poderá circular como equivalente a puro
significante. Por conta desta questão, o pai deixa de ser onipotente e se torna
doador:
É
por intervir no terceiro tempo como aquele que tem o falo e não que o é, que se
pode produzir a báscula que reinstaura a instancia do falo como objeto desejado
pela mãe, e não mais apenas como objeto do qual o pai pode privar”
O filho passa pela dialética ser ou ter
o falo materno, elegendo a dimensão do ter, instituindo-se a metáfora do
nome-do-pai. O significante do nome-do-pai passa a estar associado aquilo que
dá significação ao sujeito, Grande Outro.
O desejo materno é recalcado.
Segundo Faria (2003) o falo, tendo
adquirido o estatuto de objeto simbólico, indica para o sujeito, que a partir
desse momento ele pode tê-lo, com a condição de que seja “para mais tarde“ ter um falo, uma vez que se identifica ao pai
como aquele que tem. A partir daí a criança detém consigo todas as condições de
desfrutar suas funções e atributos sexuais.
Segundo Lacan:
Os três tempos do Édipo não ocorrem de
maneira cronológica, mas sim de maneira lógica. Quando se entra no primeiro
tempo se passa pelos três tempos. Na passagem do Édipo, o sujeito recebe um
nome, possibilitando-o ser um ser sexual, abrindo a possibilidade de ser pai ou
mãe.
Segundo Dor (1989), a nomeação do pai
possibilita à criança nomear o objeto de seu desejo. Porém, a maneira como
ocorre, pertence a uma simbolização metafórica, pois se torna uma designação
inconsciente. Isto é, o pai imaginário impõe a castração, sendo o privador da
mãe. A identificação da criança com este pai é fálica e estritamente
imaginária. Dessa forma, pela mediação do pai imaginário, é possível o pai real
ser investido como pai simbólico
Segundo Lacan(1957-1958), a instauração
da posição do pai como detentor do falo é o que oferece o ponto de
identificação do menino, isto é, introjeção do pai, no sujeito, como ideal de
eu, e isso ocorre, porque o pai intervém como detentor do falo. É nesse momento
que o complexo de Édipo declina.
“É nessa medida que o terceiro tempo do Édipo pode ser
transposto, isto é, a etapa de identificação, na qual se trata de o menino se
identificar com o pai como possuidor do pênis e a de a menina reconhecer o
homem como aquele que o possui." “Ela, a mulher, sabe onde ele está, sabe
onde deve ir buscá-lo, o que é do lado do pai, e vai à direção àquele que o
tem.”
Segundo Faria (2003), a substituição
significante, denominada de metáfora paterna consiste de uma nova significação,
o falo como produto da metáfora paterna, e a conexão metonímica do significante
oculto, o desejo materno como o resto da cadeia. O processo metafórico consiste
em introduzir um significante novo (S2), fazendo com que o significante antigo
(S1), passe sob a barra de significação, mantendo-o inconsciente. A fim de que
haja a metáfora paterna é necessária uma substituição significante, na qual o
pai toma lugar como um significante que vem substituir o significante do desejo
materno.
Ao longo da substituição significante
do desejo da mãe, S1, é, portanto, objeto de um recalque e torna-se inconsciente:
“É na medida em que o pai substitui a mãe como significante
que irá se produzir o resultado ordinário da metáfora, expresso na formula:”