Alguns amigos se vão porque
deixam de compartilhar nossa felicidade, tristezas e ambições. Meus pais se
foram por conta do fim trazido pela morte. Nossa como dói perder alguém que
amamos.
O trabalho se foi porque ao
longo do tempo eu tinha um sonho que fui construindo ao longo do tempo, uma
nova perspectiva. Tive que fazer escolhas, e quando escolhemos algo deixamos para trás.
Entretanto voluntaria ou
involuntariamente todo final e sua respectiva despedida é triste, mesmo quando
sabemos que não temos mais nada a fazer por ali. A lembrança dos momentos
felizes, a saudade por aquilo que não aconteceu. Na despedida sentimentos às vezes
contraditórios entram na pauta.
Quando perdi minha mãe,
percebi que nunca tinha vivido algo parecido. Meu coração doía. Após todos os
rituais funerários, voltei para a casa e dormi. No dia seguinte quando vi a luz
do Sol percebi que naquele momento eu tinha duas opções, me amargurar com essa
perda ou simplesmente viver. Optei pela segunda opção, não que o processo de
luto tenha sido fácil. A morte de meu pai se deu no ano seguinte, sofri e
chorei e mais uma vez apostei na vida.
O processo de luto é bem
doloroso. A princípio cada foto, cada aniversário, dia das mães e dia dos pais
parece que nos remete àquela primeira dor, mas ao longo do tempo a perda vai
sendo elaborada e permanece a saudade dos momentos felizes e tristes.
Existem vários estudiosos
que abordam a questão da perda e do luto, tema interessante, que eu sempre
estudei. Esses autores apontam o processo do luto como uma experiência que traz
muita dor e desorganização e nos coloca diante de intensas e difíceis emoções
que podem dar a impressão de que a vida nunca mais será a mesma. Realmente,
após uma grande perda a vida não é mais a mesma.
Num processo de luto somos
levados a construir novos significados tanto para as experiências passadas,
quanto presentes, transformando as vivências futuras. Ao mesmo tempo em que
passar pelo processo de luto é doloroso, pode ser também fortalecedor, pois
ainda que não houvesse o desejo de passar por ele, é possível se restabelecer e
crescer com esta experiência. Acho que cresci muito após essas duras perdas,
porque não sabia que era tão forte, e nem deixava vir à tona minhas
fragilidades.
A morte é a vivência radical
da perda e um fato incontestável. Diante da morte não há palavras, entretanto
ao longo da vida diariamente perdemos quando escolhemos um amor, um trabalho,
sempre perdemos, mas quando escolhemos geralmente apostamos na vitória, mas
mesmo quando escolhemos podemos realmente perder, pois não há garantias é sempre um risco viver.
A perda por um amor que se
vai, uma viagem que deixou de ser realizada, um projeto que não deu certo, o
desemprego, são situações que abalam e
geram um profundo sofrimento, sendo necessário viver um processo de luto para
que possamos nos reorganizar.
Sendo assim o luto pode ser
uma possibilidade de gerar um caminho interessante, diante da experiência da
perda. A vida não será mais a mesma, mas além da experiência da perda podemos
carregar em nossa bagagem a experiência de superação e a possibilidade de
reconstrução de novas relações e novos sentidos para a vida.
Adriana.
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