terça-feira, 14 de agosto de 2012

Perda, despedida e o luto...



Há alguns venho me despedindo: de amigos, dos meus pais, de um trabalho, de uma imagem de mim. Dessas perdas, algumas  abri mão para buscar algo melhor,  outras foram obrigatórias, mas tanto num caso quanto sempre dói perder. Quando perdemos algo ou alguém parece que pelo menos momentaneamente uma parte de nós se vai junto com aquele ou aquilo que partiu.

Alguns amigos se vão porque deixam de compartilhar nossa felicidade, tristezas e ambições. Meus pais se foram por conta do fim trazido pela morte. Nossa como dói perder alguém que amamos.

O trabalho se foi porque ao longo do tempo eu tinha um sonho que fui construindo ao longo do tempo, uma nova perspectiva. Tive que fazer escolhas, e quando escolhemos algo deixamos para trás.

Entretanto voluntaria ou involuntariamente todo final e sua respectiva despedida é triste, mesmo quando sabemos que não temos mais nada a fazer por ali. A lembrança dos momentos felizes, a saudade por aquilo que não aconteceu. Na despedida sentimentos às vezes contraditórios entram na pauta.

Quando perdi minha mãe, percebi que nunca tinha vivido algo parecido. Meu coração doía. Após todos os rituais funerários, voltei para a casa e dormi. No dia seguinte quando vi a luz do Sol percebi que naquele momento eu tinha duas opções, me amargurar com essa perda ou simplesmente viver. Optei pela segunda opção, não que o processo de luto tenha sido fácil. A morte de meu pai se deu no ano seguinte, sofri e chorei e mais uma vez apostei na vida.

O processo de luto é bem doloroso. A princípio cada foto, cada aniversário, dia das mães e dia dos pais parece que nos remete àquela primeira dor, mas ao longo do tempo a perda vai sendo elaborada e permanece a saudade dos momentos felizes e tristes. 

Existem vários estudiosos que abordam a questão da perda e do luto, tema interessante, que eu sempre estudei. Esses autores apontam o processo do luto como uma experiência que traz muita dor e desorganização e nos coloca diante de intensas e difíceis emoções que podem dar a impressão de que a vida nunca mais será a mesma. Realmente, após uma grande perda a vida não é mais a mesma.

Num processo de luto somos levados a construir novos significados tanto para as experiências passadas, quanto presentes, transformando as vivências futuras. Ao mesmo tempo em que passar pelo processo de luto é doloroso, pode ser também fortalecedor, pois ainda que não houvesse o desejo de passar por ele, é possível se restabelecer e crescer com esta experiência. Acho que cresci muito após essas duras perdas, porque não sabia que era tão forte, e nem deixava vir à tona minhas fragilidades.

A morte é a vivência radical da perda e um fato incontestável. Diante da morte não há palavras, entretanto ao longo da vida diariamente perdemos quando escolhemos um amor, um trabalho, sempre perdemos, mas quando escolhemos geralmente apostamos na vitória, mas mesmo quando escolhemos podemos realmente perder, pois não há garantias é sempre um risco viver.

A perda por um amor que se vai, uma viagem que deixou de ser realizada, um projeto que não deu certo, o desemprego, são situações que  abalam e geram um profundo sofrimento, sendo necessário viver um processo de luto para que possamos nos reorganizar.

Sendo assim o luto pode ser uma possibilidade de gerar um caminho interessante, diante da experiência da perda. A vida não será mais a mesma, mas além da experiência da perda podemos carregar em nossa bagagem a experiência de superação e a possibilidade de reconstrução de novas relações e novos sentidos para a vida.

Adriana. 

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