terça-feira, 13 de outubro de 2015

Minha leitura e muitas perguntas sobre:Cinco lições de Psicanálise (1909) - Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO.

Cinco Lições de Psicanálise
De Sigmund Freud


Nesta terceira lição, Freud fala sobre a linguagem nos diversos processos psíquicos. Em psicanalise a única regra utilizada é a associação livre, que consiste no Analisando durante a analise falar livremente,  Freud diz que nesta livre associação há intencionalidade. Nesta fala há ideias patógenas relacionadas ao sintoma que surgem junto às ideias corriqueiras.

No conteúdo por vezes confuso que o analisando apresenta existem duas forças antagônicas em ação: de um lado uma força a trazer conteúdos inconscientes a consciência, e de outro lado antagonicamente outra força que resiste justamente que esse conteúdo advenha. Quanto maior for à deformação do elemento apresentado maior foi a resistência.

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" O pensamento que no doente vinha em lugar do desejado, tinha origem idêntica à de um sintoma; era uma nova substituição artificial e efêmera do reprimido e tanto menos semelhante a ele quanto maior a deformação que tivesse de sofrer sob a influência da resistência. Ele devia mostrar, porém, certa parecença com o procurado, em virtude da sua natureza de sintoma; e desde que a resistência não fosse muito intensa, seria possível, partindo da ideia, distinguir o oculto que se buscava. O pensamento devia comportar-se em relação ao elemento reprimido com uma alusão, como uma representação do mesmo por meio de palavras indiretas."  Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Na associacao livre, nos sonhos, sintomas e chistes há traços dos conteudos patógenos inconscientes. Os tracos não são: palavras, histórias vividas, imagens, ou qualquer outra coisa neste sentido de concretude. Um traço é um traço. E o sujeito faz uso disso. Afinal, o que são traços?

O conceito de traço mnésico, segundo o dicionário de Psicanálise (Chemama): “a teoria psicanalítica da neurose pressupõe uma atenção particular quanto à forma pela qual os eventos vivenciados pelo sujeito, acontecimentos às vezes traumáticos, podem subsistir nele (“os histéricos sofrem de reminiscências”). Por isso a necessidade de conceber que são traços mnésicos, inscrições de eventos que podem subsistir no pré-consciente ou no inconsciente, que são reativados, quando investidos. Se, de fato, todos os traços da excitação subsistissem na consciência, isso iria logo limitar a capacidade do sistema para receber novas excitações: memória e consciência se excluem. Quanto ao que é propriamente dito recalcado, também é preciso que ele subsista, sob a forma de traço mnésico, visto que retorna no sonho ou no sintoma. Apesar de algumas formulações ambíguas de Freud, o traço mnésico não é uma imagem da coisa, mas um simples sinal, que não comporta uma qualidade sensorial particular e que pode, portanto, ser comparado a um elemento de um sistema de escrita a uma letra.”

No aparelho psíquico, existem ideias livres (soltas) que buscam ser descarregadas (conteúdos ideacionais, repletos de carga de excitação), ao qual a Escola de Zurique (Jung, Bleuler) deu o nome de "complexo". Sempre haverá este tipo de material, mesmo que por ação da resistência, o analisando diga que não sabe mais o que dizer.

Surgem algumas perguntas: O rompimento com Jung trouxe alguma consequencia a utilizacao da palavra complexo e seus conteúdos? Esses complexos e os traços são os mesmos elementos? Essas ideias livres (soltas) sempre existirão mesmo apos a analise? São destes conteúdos que o inconsciente é constituído?

"No emprego desta técnica o que ainda nos perturba é que com frequência o doente se detém, afirmando não saber dizer mais nada, que nada mais lhe vem à ideia. Se assim fosse, se o doente tivesse razão, o método ter-se-ia revelado impraticável. Uma observação atenta mostra, contudo, que as ideias livres nunca deixam de aparecer. É que o doente, influenciado pela resistência disfarçada em juízos críticos sobre o valor da ideia, retém-na ou de novo a afasta. Para evitá-la põe-se previamente o doente a par do que pode ocorrer, pedindo-lhe renuncie a qualquer crítica; sem nenhuma seleção deverá expor tudo que lhe vier ao pensamento, mesmo que lhe pareça errôneo, despropositado ou absurdo e, especialmente, se lhe for desagradável a vinda dessas ideias à mente. Pela observância dessa regra garantimo-nos o material que nos conduz ao roteiro do complexo reprimido." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Freud segue sua “lição” abordando os sonhos, e a sua interpretação como possibilidade de acesso ao inconsciente. Talvez neste momento Freud esteja contagiado pelas ideias de Jung sobre os sonhos, ou não se deu conta da importância da presença do analista/transferência. Freud pelo menos nesta parte do texto parece acreditar que é possível a autoanalise:
"Quando me perguntam como pode uma pessoa fazer-se psicanalista, respondo que é pelo estudo dos próprios sonhos. Os adversários da psicanálise, com muita habilidade, têm até agora evitado estudar de perto “A Interpretação de Sonhos”, ou têm oposto ao de longe objeções superficialíssimas. Se não repugna aos presentes, ao contrário, aceitar as soluções dos problemas da vida onírica, já não apresentam aos ouvintes dificuldade alguma as novidades trazidas pela psicanálise." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

As elaborações oníricas noturnas são semelhantes tanto àqueles que apresentam problemas psíquicos ou daqueles sujeitos dito “normais”. Talvez a diferença entre o sujeito com problemas psíquicos está no despertar e não no sonhar. Sobre essas semelhanças Freud diz:
“Não é nenhum paradoxo afirmar que quem fica admirado ante essas alucinações, delírios ou mudanças de caráter que podemos chamar “normais”, sem procurar explicá-los, não tem a menor probabilidade de compreender, senão como qualquer leigo as formações anormais dos estados psíquicos patológicos. E entre esses leigos os ouvintes podem contar atualmente, sem receio, quase todos os psiquiatras." Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

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Os sonhos sempre tiveram um caráter exótico, até porque geralmente são obscuros. Até hoje algumas pessoas acreditam no seu caráter profético ou oracular, numa suposta simbologia. Freud escreveu a Interpretação dos sonhos (1905), neste extenso livro o autor aborda os diversos aspectos dos sonhos e sua interpretação. Freud diz inclusive que os sonhos são realização de desejo.

“Em primeiro lugar, nem todos os sonhos são estranhos, incompreensíveis e confusos para a pessoa que sonhou. Examinando os sonhos de criancinhas, desde um ano e meio de idade, verificarão que eles são extremamente simples e de fácil explicação. A criancinha sonha sempre com a realização de desejos que o dia anterior lhe trouxe e que ela não satisfez. Não há necessidade de arte divinatória para encontrar solução tão simples; basta saber o que se passou com a criança na véspera ("dia do sonho"). Estaria certamente resolvido, e de modo satisfatório, o enigma do sonho, se o do adulto não fosse nada mais que o da criancinha: realização de desejos trazidos pelo dia do sonho. E o é de fato. As dificuldades que esta solução apresenta removem-se uma a uma, mediante a análise minuciosa dos sonhos.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Os sonhos dos adultos apresentam geralmente conteúdo ininteligível que não são satisfação (realização ou satisfação?) de desejos, neste textos dos sonhos há certa distorção, o que torna o sonho obscuro, mas também enigmático e que nos instiga a querer saber mais.
Nos sonhos existem os conteúdos latentes e os manifestos. “O conteúdo manifesto do sonho, recordado vagamente de manhã e que, não obstante a espontaneidade aparente, se exprime em palavras com esforço, deve ser diferenciado dos pensamentos latentes do sonho que se têm de admitir como existentes no inconsciente. Esta deformação possui mecanismo idêntico ao que já conhecemos desde quando examinamos a gênese dos sintomas histéricos; e é uma prova da participação da mesma interação de forças mentais tanto na formação dos sonhos como na dos sintomas. O conteúdo manifesto do sonho é o substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho. Esta deformação é obra das forças defensivas do eu, isto é, das resistências que na vigília impedem, de modo geral, a passagem para a consciência, dos desejos reprimidos do inconsciente; enfraquecidas durante o sono, estas resistências ainda são suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados. Quem sonha, portanto, reconhece tão mal o sentido de seus sonhos, como o histérico as correlações e a significação de seus sintomas.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Em análise, o analisando narra o sonho, utilizando-se de elementos da sua memória, criando um texto, como na associação livre.  O analista por sua vez parte da narrativa do sonho como um todo, mas principalmente de cada um dos elementos do sonho manifesto. Deste material chega-se aos pensamentos latentes do sonho. Enfim nos conteúdos manifestos dos sonhos dos adultos há: conteúdos deformados (ação da censura), impressões do dia anterior e há também realização de desejo inconsciente.

“O sonho manifesto que conhecem no adulto graças à recordação pode então ser descrito como uma realização velada de desejos recalcados”. Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)

Nas elaborações oníricas há dois processos psíquicos envolvidos: a condensação e o deslocamento. A elaboração onírica é resultado da divisão psíquica entre consciente e inconsciente. Freud assemelha o trabalho de elaboração onírica nos sonhos aos sintomas, ambos como resultado da divisão psíquica, num trabalho de deformação. Nos sintomas, aquele conteúdo ideacional patógeno (complexos) advém de maneira deformada, quando o processo de recalque fracassa. Será que o recalque por vezes fracassa e por isso aquele conteúdo advém? Ou será que o recalque é construído para fracassar? Ou seja, o conteúdo inconsciente necessita advir à consciência?

As impressões da tenra infância exercem grande influência na vida do sujeito. Impressões essas, que o sujeito fará uso: para reviver o passado? Para prolongar uma satisfação já vivida? Revive porque não tem saída é necessário ao aparelho psíquico reviver essas impressões?

Existe certa simbologia nos sonhos, que por vezes parecem fixas, mas que o sujeito faz uso dela. Os signos

Nós geralmente perguntamos: como explicar a realização de desejo nos pesadelos, ou nos sonhos penosos? Não podemos esquecer que há conflito entre as instâncias, por vezes aquilo que é penoso à consciência é sentido como prazeroso ao inconsciente. O que é prazeroso ao inconsciente? 

Mesmo nos pesadelos, há o sonho como um todo, uma narrativa,  mas há cada elemento do sonho. O que torna o sonho um pesadelo? É a impressão que este nos causa quando lembramos? Por vezes há sonhos com imagens impactantes, que não nos afetam.

Freud fala da Ansiedade que surge quando temos pesadelos: “Além de que é necessário interpretar os pesadelos antes de sobre eles poder firmar qualquer juízo, pode dizer-se de modo geral que a ansiedade que os acompanha não depende assim tão simplesmente do conteúdo onírico, como muitos imaginam por ignorar as condições da ansiedade neurótica. A ansiedade é uma das reações do eu contra desejos recalcados violentos, e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a elaboração deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)


Freud aborda então os esquecimentos de nomes próprios, os lapsos de linguagem (escrita, leitura e na fala), os atos e gestos que as pessoas fazem sem perceber e sem lhe dar importância. Esses atos exprimem impulsos e intenções que devem ficar ocultos à consciência. Podem ser oriundos de desejos recalcados ou dos complexos (conteúdos ideacionais, com intensa carga de excitação). Como já foi dito, são esses elementos que são criadores dos sintomas e formadores dos sonhos.

 “Se os ouvintes reunirem os meios que estão ao nosso alcance para descobrimento do que na vida psíquica jaz escondido, deslembrado e reprimido — o estudo das ideias livremente associadas pelos pacientes, seus sonhos, falhas e ações sintomáticas; se ainda juntarem a tudo isso o exame de outros fenômenos surgidos no decurso do tratamento psicanalítico e a respeito dos quais farei algumas observações quando tratar da "transferência" — chegarão comigo à conclusão de que a nossa técnica já é suficientemente capaz de realizar aquilo que se propôs: conduzir à consciência o material psíquico patogênico, dando fim desse modo aos padecimentos ocasionados pela produção dos sintomas de substituição. O fato de enriquecermos e aprofundarmos durante o tratamento os nossos conhecimentos sobre a vida mental, dos sãos e dos doentes, deve ser considerado apenas como estímulo especial a este trabalho e uma de suas vantagens.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise   Sigmund Freud - TERCEIRA LIÇÃO. (1909)



Pronunciadas por ocasião das comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University, Worcester, Massachusetts, setembro de 1909
Tradução de Durval Marcondes e J. Barbosa corra, revista e modificada por Jayme Salomão
(Do Livro: Os Pensadores, Abril Cultural, 1974, págs. 11 a 44)


 Um sonho pode ser representado:



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PAULA  ADRIANA NEVES COUTO
Psicanalista clínica
Email: paulaadriana.couto@gmail.com
Telefone: 3715-8494
Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo

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