quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Minha leitura : As cinco lições de psicanálise (1909) Freud.

Quarta Lição


Esta lição faz parte do texto: “As cinco lições de psicanálise” palavras pronunciadas por Freud em ocasião das comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University, Worcester, Massachusetts, setembro de 1909.
Nesta lição Freud fala sobre sexualidade infantil, e sua relevância na etiologia da neurose: dos complexos patogênicos e dos desejos recalcados. Os sintomas neuróticos estariam relacionados às impressões da vida erótica, vividos na primeira infância.  
Sobre a etiologia sexual na neurose, Freud diz: "Quando, em 1895, publiquei com o Dr. J. Breuer os Estudos sobre a Histeria, ainda não tinha esta opinião; vi-me forçado a adotá-la quando as minhas experiências se tornaram mais numerosas e penetraram mais intimamente o problema. Senhores! Acham-se entre os presentes alguns de meus adeptos e amigos mais chegados, que viajaram comigo até Worcester. Se os interrogarem, ouvirão que todos eles a princípio recebiam com a maior descrença a afirmação da importância decisiva da etiologia sexual, até que pelo exercício analítico pessoal foram obrigados a aceitar como sua própria àquela afirmação." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).
 "O trabalho de análise necessário para o esclarecimento completo e cura definitiva de um caso mórbido não se detém nos episódios contemporâneos da doença; retrocede sempre, em qualquer hipótese, até a puberdade e a mais remota infância do doente, para só aí topar as impressões e acontecimentos determinantes da doença ulterior. Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças, quase regularmente olvidados, e com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de afastar os sintomas." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).
Os desejos recalcados da infância são indestrutíveis, e estes emprestaram à formação dos sintomas força a sua sustentação. 
Falar sobre sexualidade humana é um tanto complicado, até mesmo nos dias atuais, imagine falar sobre sexualidade infantil em 1900? Freud utilizou diversos recursos para explicar a sua psicanalise, inclusive interagindo com outros autores: "Por um feliz acaso acho-me em condições de chamar dentre os presentes uma testemunha em favor de minhas afirmações. Eis aqui o trabalho do Dr. Sanford Bell, impresso em 1902, em The American Journal of Psychology. O autor é um Fellow da Clark University, o mesmo instituto em cujo seio nos achamos no atual instante. Nesse trabalho, intitulado "A Preliminary Study of the Emotion of Love Between the Sexes", publicado três anos antes dos meus Three Essays on the Theory of Sexuality [1905 d], (Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade), escreve o autor, tal qual há pouco lhes dizia: "A emoção do amor sexual… não aparece pela primeira vez no período da adolescência, como se tem pensado." Procedendo "à americana", como diríamos na Europa, reuniu durante 15 anos nada menos de 2.500 observações positivas, das quais 800 são próprias. Dos sinais por que se revelam esses temperamentos namoradiços, diz ele: "O espírito mais desprevenido, observando estas manifestações em centenas de casais de crianças, não poderá deixar de atribuir-lhes uma origem sexual." O mais rigoroso espírito satisfaz-se quando a estas observações se juntam as confissões dos que em criança sentiram a emoção intensamente e cujas recordações daquela época são relativamente nítidas". Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909). 

"Não me admiraria se estas observações de seu compatriota lhes merecessem mais crédito que as minhas. A mim mesmo foi-me dado obter recentemente um quadro mais ou menos completo das manifestações instintivas somáticas e das produções mentais num período precoce da vida amorosa infantil, graças à análise empreendida, com todas as regras, pelo próprio pai de um menino de cinco anos atacado de ansiedade. Devo lembrar-lhes que meu amigo Dr. C. G. Jung há poucas horas, nesta mesma sala, lhes expôs a observação de uma menina ainda mais nova, que pelo mesmo motivo do meu paciente (nascimento de um irmãozinho) evidenciava quase os mesmos impulsos sensuais e idêntica formação de desejos e complexos. [Cf. Jung, 1910.] Não duvido, pois, de que os presentes se acabarão familiarizando com a ideia, de início tão exótico, da sexualidade infantil; memore-se o exemplo notável do psiquiatra E. Bleuler, de Zurique, que há poucos anos dizia publicamente que não compreendia minha teoria sexual’ mas que de então para cá, pôde, mediante observações próprias, confirmar a sexualidade infantil em toda a extensão (Cf. Bleuler, 1908.)." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).

A sexualidade infantil:

A sexualidade não esta relacionada exclusivamente a reprodução, mas principalmente a obtenção de sensações prazerosas no corpo. A principal  fonte de prazer sexual infantil é proveniente do seu próprio corpo, das excitações das zonas erógenas. Determinadas partes do corpo são particularmente excitáveis, além dos órgãos genitais: os orifícios da boca, ânus e uretra e também a pele e outras superfícies sensoriais. Qualquer parte do corpo pode ser excitável e excitante, a medida que é investida libidinalmente por um cuidador. As zonas erógenas existem porque são investidas no momento da alimentação, no momento do banho, na educação ao controle esfincteriano. A fase da vida sexual infantil onde a satisfação é obtida através do próprio corpo é denominada de auto erotismo
Ao lado das atividades auto eróticas, revelam-se muito cedo as escolhas objetais. Ou seja, a libido é investida em objetos externos, com o intuito de se obter prazer. 

Há o abandono do autoerotismo, para só depois investir nos objetos do mundo externo? Como o bebê elege os objetos a serem investidos? Na realidade não existe um objeto propriamente dito, existe sim o prazer sentido em alguma parte do corpo e a ânsia que isso se repita. Como  desejo e amor se articulam? Já que o objeto investido libidinalmente é a princípio o objeto amado. O objeto amado é desejado também?

As escolhas dos objetos neste momento estão relacionadas à conservação.  Ou seja, os objetos investidos libidinalmente pelo bebê, são aqueles que satisfazem suas necessidades básicas (alimentação, frio e fome), mas também de amor. Afinal, nós humanos somos seres pulsionais, não temos um objeto especifico que nos satisfaça, e nossas satisfações são sempre parciais. O bebê à medida que é alimentado é investido libidinalmente, e investe nos objetos. O amor, necessidade e desejo dos pares se entrelaçam: investimos à medida que somos investidos. É absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto da primeira escolha amorosa. Porém a libido não permanece fixa neste primeiro objeto: posteriormente o tomará apenas como modelo, passando dele para pessoas estranhas, na ocasião da escolha definitiva. 

Pulsão e sexualidade:

A pulsão é um conceito que esta entre o somático e o psíquico: temos uma base fisiológica do psiquismo que apresenta muitas peculiaridades que nos torna radicalmente diferentes dos outros animais. Somos pulsionais, falantes, mortais e sexuais. 
Nesta parte do texto Freud aborda os aspectos da oposição nas pulsões: ativo e passivo. Será que essas posições em relação aos objetos são de oposição definitiva? Ou o sujeito modifica sua posição a partir do objeto eleito? Ou ainda a escolha do objeto estaria relacionada à maneira, tal qual o posicionamento do objeto? O sadismo e o masoquismo são exemplos desta oposição, ou ainda o prazer visual, ativo ou passivo.
"Do gozo visual ativo desenvolve-se mais tarde a sede de saber, como do passivo o pendor para as representações artísticas e teatrais." Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).
Mantem-se zona erógena de satisfação parcial. (do gozo visual a sede de saber) Posicionamento ativo. Ou a satisfação passiva de ser vista, ou talvez neste caso a posição reflexiva, como no caso do ator, ele se põe a ser visto. Enfim, neste paragrafo Freud introduz o olhar como uma suposta zona erógena, e também introduz a posição reflexiva, apesar de colocar o ator como passivo.

Sobre a sexualidade infantil Freud diz:

"Esta vida sexual infantil desordenada, rica, mas dissociada, em que cada impulso isolado se entrega à conquista do gozo independentemente dos demais, experimenta uma condensação e organização em duas principais direções, de tal modo que ao fim da puberdade o caráter sexual definitivo está completamente formado. De um lado subordinam-se todos os impulsos ao domínio da zona genital, por meio da qual a vida sexual se coloca em toda a plenitude ao serviço da propagação da espécie, passando a satisfação daqueles impulsos a só ter importância como preparo e estímulo do verdadeiro ato sexual.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909)

Além da condensação o sujeito psiquicamente vai “organizando” o caos: de sua pulsão (perversa e polimorfa), de seu desejo e consequentemente de seus investimentos libidinais.  Para isso, impulsos são recalcados e algumas forças psíquicas surgem como sentinelas: moral, repugnância e a vergonha/constrangimento. Claro que, essas organizações, parâmetros e limites são alcançados, mas com perdas. O sujeito se submete a isso por amor. Os Ideais são construídos para servirem de parâmetros e limites, em contrapartida algo que exige do sujeito por vezes o inalcançável. Dos primeiros investimentos da criança surgem os modelos de objeto amoroso, mas também os modelos de identificação: de ternura e hostilidade.

"Senhores. Um princípio de patologia geral afirma que todo processo evolutivo traz em si os germes de uma disposição patológica e pode ser inibido ou retardado ou desenvolver-se incompletamente. Isto vale para o tão complicado desenvolvimento da função sexual que nem em todos os indivíduos se desenrola sem incidentes que deixem após si ou anormalidade ou disposições a doenças futuras por meio de uma regressão. Pode suceder que nem todos os impulsos parciais se sujeitem à soberania da zona genital; o que ficou independente estabelece o que chamamos perversão e pode substituir a finalidade sexual normal pela sua própria. A propensão à neurose deve provir por outra maneira de uma perturbação do desenvolvimento sexual. As neuroses são para as perversões o que o negativo é para o positivo.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909)

Enfim, a sexualidade infantil é vivida de maneira excessivamente intensa e prematura pela criança. Esse contato com o sexual é traumático e nos conduz a uma espécie de fixação parcial. “O complexo assim formado é destinado ao recalque, porém continua a agir do inconsciente com intensidade e persistência. Devemos declarar que suspeitamos represente ele, com seus derivados, o complexo nuclear de cada neurose, e nos predispusemos a encontrá-lo não menos ativo em outros campos da vida psíquica.” Freud S. Cinco lições de Psicanálise Sigmund Freud - QUARTA LIÇÃO. (1909).

PAULA  ADRIANA NEVES COUTO
Psicanalista clínica
Email: paulaadriana.couto@gmail.com
Telefone: 3715-8494


Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo



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