SEXUALIDADE FEMININA - 1931
A sexualidade feminina é marcada por
modificações que acontecem no período do Complexo de Édipo(incluindo neste complexo, o período
pré-edipiano): modificação de objeto, da mãe ao pai e modificação da zona genital,
do clitóris a vagina.
O primeiro objeto de amor para menina
é a mãe (período pré-edipiano). Com ela tem uma relação intensa, apaixonada e
repleta de nuances.
Em um determinado momento, a menina desloca deste amor intenso
e apaixonado pela mãe, ao pai dando a impressão da mesma intensidade, do mesmo
colorido.
O clitóris é a primeira zona genital
nas meninas, comparada ao pênis nos meninos, entretanto em determinado momento essa zona genital é
substituída pela vagina. Sendo que até a puberdade a vagina é virtualmente inexistente,
não produzindo sensações.
“Nas mulheres,
portanto, as principais ocorrências genitais da infância devem ocorrer em
relação ao clitóris. Sua vida sexual é regularmente dividida em duas fases, a
primeira das quais possui um caráter masculino, ao passo que apenas a segunda é
especificamente feminina.”
O período pré-edipiano na menina é longo
e importante, de uma ligação intensa com a mãe, quando o pai para menina não é nada
além de um rival causador de problemas.
“É apenas na criança
do sexo masculino que encontramos a fatídica combinação de amor por um dos pais
e, simultaneamente, ódio pelo outro, como rival. No caso dele, é a descoberta da possibilidade
de castração, tal como provada pela visão dos órgãos genitais femininos, que
impõe ao menino a transformação de seu complexo de Édipo e conduz à criação de
seu superego, iniciando assim todos os processos que se destinam a fazer o
indivíduo encontrar lugar na comunidade cultural. Após o agente paterno ter
sido internalizado e ter-se tornado um superego, a tarefa seguinte consiste em
desligar este último das figuras de quem originalmente constituiu o
representante psíquico. Nesse notável curso de desenvolvimento, é precisamente
o interesse narcísico do menino por seus órgãos genitais — seu interesse em
preservar o pênis — que é transformado numa restrição de sua sexualidade
infantil.”
A menina entra no
Complexo de Édipo pela castração, quando constata a diferença entre o órgão
genital masculino e o dela, aparecendo assim a inveja do pênis, e por conta desta constatação rebela-se
contra esse estado de coisas indesejável. Responsabilizando a mãe por isso.
“A intensa ligação da menina à mãe é fortemente ambivalente, sendo precisamente em conseqüência dessa ambivalência que (com a assistência dos outros fatores que aduzimos) sua ligação se afasta à força da mãe mais uma vez, isto é, em conseqüência de uma característica geral da sexualidade infantil.”
Dessa atitude abrem-se três linhas de desenvolvimento:
1.
A
menina, assustada pela comparação com os meninos, cresce insatisfeita com seu
clitóris, abandona sua atividade fálica e, com ela, sua sexualidade em geral,
bem como boa parte de sua masculinidade em outros campos.
2.
A
segunda linha a leva a se aferrar com desafiadora auto-afirmatividade à sua
masculinidade ameaçada. Até uma idade inacreditavelmente tardia, aferra-se à
esperança de conseguir um pênis em alguma ocasião. Essa esperança se torna o
objetivo de sua vida e a fantasia de ser um homem, apesar de tudo.
3.
O
terceiro caminho, a menina atingirá a atitude feminina normal final, em que
toma o pai como objeto, encontrando assim o caminho para a forma feminina do
complexo de Édipo.
‘O
que uma menina exige da mãe? Qual é a natureza de seus objetivos sexuais
durante a época da ligação exclusiva à mãe?’
A menina ama e quer ser amada pela
mãe. (ativa e passiva)Libidinalmente tem pela mãe objetivos passivos e ativos
simultaneamente.
“As primeiras experiências sexuais e
sexualmente coloridas que uma criança tem em relação à mãe são, naturalmente,
de caráter passivo. Ela é amamentada, alimentada, limpa e vestida por esta
última, e ensinada a desempenhar todas as suas funções. Uma parte de sua libido
continua aferrando-se a essas experiências e desfruta das satisfações e elas
relacionadas: outra parte, porém, esforça-se por transformá-las em atividade.
Em primeiro lugar, a amamentação ao seio dá lugar ao sugamento ativo. Quanto às
outras experiências, a criança contenta-se quer em se tornar auto-suficiente —
isto é, executando com ela própria com sucesso o que até então fora feito para
ela —, quer em repetir suas experiências passivas, sob forma ativa, no
brinquedo, ou, então, transforma realmente a mãe em objeto e comporta-se para
com ela como sujeito ativo.”
Quando a menina entra no Complexo de
Édipo ocorre um declínio da atividade para a passividade. A transição para o
objeto paterno é realizada com o auxílio das tendências passivas. O caminho
para o desenvolvimento da feminilidade está agora aberto à menina.
“A psicanálise nos ensina a lidar com
uma libido única, a qual, é verdade, possui objetivos (isto é, modalidades de
satisfação) tanto ativos quanto passivos. Essa antítese e, acima de tudo, a
existência de tendências libidinais com objetivos passivos, contém em si mesma
o restante de nosso problema.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário