sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Sexualidade feminina - Freud 1931

SEXUALIDADE FEMININA - 1931

A sexualidade feminina é marcada por modificações que acontecem no período do Complexo de Édipo(incluindo neste complexo, o período pré-edipiano): modificação de objeto, da mãe ao pai e modificação da zona genital, do clitóris a vagina.

O primeiro objeto de amor para menina é a mãe (período pré-edipiano). Com ela tem uma relação intensa, apaixonada e repleta de nuances. 

Em um determinado momento, a menina desloca deste amor intenso e apaixonado pela mãe, ao pai dando a impressão da mesma intensidade, do mesmo colorido.

O clitóris é a primeira zona genital nas meninas, comparada ao pênis nos meninos, entretanto em determinado momento essa zona genital é substituída pela vagina. Sendo que até a puberdade a vagina é virtualmente inexistente, não produzindo sensações.

“Nas mulheres, portanto, as principais ocorrências genitais da infância devem ocorrer em relação ao clitóris. Sua vida sexual é regularmente dividida em duas fases, a primeira das quais possui um caráter masculino, ao passo que apenas a segunda é especificamente feminina.”

O período pré-edipiano na menina é longo e importante, de uma ligação intensa com a mãe, quando o pai para menina não é nada além de um rival causador de problemas.

“É apenas na criança do sexo masculino que encontramos a fatídica combinação de amor por um dos pais e, simultaneamente, ódio pelo outro, como rival.  No caso dele, é a descoberta da possibilidade de castração, tal como provada pela visão dos órgãos genitais femininos, que impõe ao menino a transformação de seu complexo de Édipo e conduz à criação de seu superego, iniciando assim todos os processos que se destinam a fazer o indivíduo encontrar lugar na comunidade cultural. Após o agente paterno ter sido internalizado e ter-se tornado um superego, a tarefa seguinte consiste em desligar este último das figuras de quem originalmente constituiu o representante psíquico. Nesse notável curso de desenvolvimento, é precisamente o interesse narcísico do menino por seus órgãos genitais — seu interesse em preservar o pênis — que é transformado numa restrição de sua sexualidade infantil.”

A menina entra no Complexo de Édipo pela castração, quando constata a diferença entre o órgão genital masculino e o dela, aparecendo assim a inveja do pênis, e por conta desta constatação rebela-se contra esse estado de coisas indesejável. Responsabilizando a mãe por isso. 

“A intensa ligação da menina à mãe é fortemente ambivalente, sendo precisamente em conseqüência dessa ambivalência que (com a assistência dos outros fatores que aduzimos) sua ligação se afasta à força da mãe mais uma vez, isto é, em conseqüência de uma característica geral da sexualidade infantil.”

Dessa atitude  abrem-se três linhas de desenvolvimento:

1.    A menina, assustada pela comparação com os meninos, cresce insatisfeita com seu clitóris, abandona sua atividade fálica e, com ela, sua sexualidade em geral, bem como boa parte de sua masculinidade em outros campos.

2.    A segunda linha a leva a se aferrar com desafiadora auto-afirmatividade à sua masculinidade ameaçada. Até uma idade inacreditavelmente tardia, aferra-se à esperança de conseguir um pênis em alguma ocasião. Essa esperança se torna o objetivo de sua vida e a fantasia de ser um homem, apesar de tudo.

3.    O terceiro caminho, a menina atingirá a atitude feminina normal final, em que toma o pai como objeto, encontrando assim o caminho para a forma feminina do complexo de Édipo.

‘O que uma menina exige da mãe? Qual é a natureza de seus objetivos sexuais durante a época da ligação exclusiva à mãe?’

A menina ama e quer ser amada pela mãe. (ativa e passiva)Libidinalmente tem pela mãe objetivos passivos e ativos simultaneamente. 

“As primeiras experiências sexuais e sexualmente coloridas que uma criança tem em relação à mãe são, naturalmente, de caráter passivo. Ela é amamentada, alimentada, limpa e vestida por esta última, e ensinada a desempenhar todas as suas funções. Uma parte de sua libido continua aferrando-se a essas experiências e desfruta das satisfações e elas relacionadas: outra parte, porém, esforça-se por transformá-las em atividade. Em primeiro lugar, a amamentação ao seio dá lugar ao sugamento ativo. Quanto às outras experiências, a criança contenta-se quer em se tornar auto-suficiente — isto é, executando com ela própria com sucesso o que até então fora feito para ela —, quer em repetir suas experiências passivas, sob forma ativa, no brinquedo, ou, então, transforma realmente a mãe em objeto e comporta-se para com ela como sujeito ativo.”

Quando a menina entra no Complexo de Édipo ocorre um declínio da atividade para a passividade. A transição para o objeto paterno é realizada com o auxílio das tendências passivas. O caminho para o desenvolvimento da feminilidade está agora aberto à menina.

“A psicanálise nos ensina a lidar com uma libido única, a qual, é verdade, possui objetivos (isto é, modalidades de satisfação) tanto ativos quanto passivos. Essa antítese e, acima de tudo, a existência de tendências libidinais com objetivos passivos, contém em si mesma o restante de nosso problema.”


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