FEMINILIDADE
– (1933)
Em Feminilidade, texto que marcaria a
segunda etapa da segunda versão do Édipo, a
diferenciação entre os sexos é
aprofundada mediante a constatação de que a menina
teria uma fase “pré-edipiana”, de
intenso apego à mãe, cujo encerramento Freud considera deva ser explicado.
Em “A dissolução do complexo de Édipo”, o vínculo da menina à mãe é concebido como algo simples, derivado da constatação da “castração”,ou seja, da ausência de pênis. Essa é a principal diferença entre os textos “A dissolução…” e “Feminilidade”.
Em “A dissolução do complexo de Édipo”, o vínculo da menina à mãe é concebido como algo simples, derivado da constatação da “castração”,ou seja, da ausência de pênis. Essa é a principal diferença entre os textos “A dissolução…” e “Feminilidade”.
(Lembremos
que Freud não interpreta a fantasia de castração; ele a entende
literalmente.
A psicanálise contemporânea — através de Jacques Lacan — interpretará
A psicanálise contemporânea — através de Jacques Lacan — interpretará
a fantasia de castração como metáfora
de “separação”, enquanto efeito da aquisição da
linguagem, que situa a criança numa
posição bem diferente em relação à anterior. A
aquisição da linguagem leva a criança
a aceder à posição de sujeito. Anteriormente à
aquisição de linguagem, a criança
ocupava a posição de objeto).
O
fator determinante da construção da identidade sexual é a identificação às
expectativas inconscientes dos adultos
afetivamente ligados à criança.
A partir da fase fálica, quando o
pênis e o clitoris se tornam as partes do corpo que
mais chamam a atenção da criança, é
que se instala a diferença. Desta vez, invertendo a
descrição feita no texto anterior (A
dissolução…) Freud considera que o Édipo feminino é mais complicado, pois a
menina precisará efetuar duas mudanças: mudar
de objeto (mãe para pai) e de centro
corporal de prazer (clitóris para vagina).
Para entender como a menina muda de
modelo de objeto de desejo, Freud descreve
primeiramente as decepções da menina
com a figura materna:
Uma das fantasias da menina seria a de
acreditar ter sido insuficientemente
amamentada, porque a mãe teria
guardado seu leite para o bebê seguinte.
Suplementarmente, a menina
hostilizaria a mãe porque esta a proíbe de explorar seu
próprio corpo, impede as práticas
auto-eróticas. Enfim, a educação, as restrições em
geral, “… toda intervenção desse tipo
na liberdade da criança deve provocar como reação
uma inclinação à rebeldia e à
agressividade“.
Porém Freud não pode deixar de
constatar o óbvio, ou seja, que essas queixas também
podem ser feitas pelo menino, que
sofre as mesmas restrições.
O
fator específico então – essa é a resposta de Freud – é que a menina atribuiria
à mãe a responsabilidade (culpa) por não ter pênis. “…não perdoam por terem
sido, desse modo, colocadas em
desvantagem“.
O que resultaria na “inveja do pênis”,
sentimento que considera universal nas crianças
de sexo feminino. Em consequência,
segundo Freud, três alternativas se colocam
para a menina: “…uma conduz à inibição
sexual ou neurose, outra à modificação do
caráter no sentido de um complexo de
masculinidade, a terceira, finalmente, à
feminilidade normal“.
Esta última alternativa, como as
outras, resultaria da “inveja do pênis” mas,
diferentemente das duas primeiras, se
expressa pelo desejo de maternidade. O bebê,
então, indenizaria a mulher pela
ausência de pênis. Assim a menina ingressaria no
Édipo, aceitando a “castração”. O
mesmo motivo que faria com que o menino
“encerrasse” seu Édipo daria início ao
da menina. (Freud ainda entende o Édipo como
a relação da criança com os adultos, e
não como o momento em que o desejo é
estruturado).
A criança se insere nesse mundo agora
habitado pelos gêneros através dos respectivos
modelos de identificação e de relação
de objeto (ser e ter). Modelos aliás nunca
absolutizados (daí a latência
homossexual na heterossexualidade e a latência
heterossexual na homossexualidade e,
além dessa latência, os conflitos
latentes/manifestos, ditos
neuróticos/perversos, que expressam a dificuldade em
aceitar o desejo, ou seja, a falta, em
sua expressão sexual, isto é, na expressão da
relação desejante com o outro).
O processo de construção da identidade
sexual, uma vez diferenciado do primeiro
momento, implica na revogação da
crença fálica e culminará com a aceitação
do não dirigido ao próprio desejo… .
Ou seja, a restrição ao desejo de não desejar (ter a
propriedade absoluta do objeto de
desejo).
A esse processo Freud chamou de
formação do superego, e Lacan de internalização da
lei, metáfora paterna, Nome-do-Pai.
Esse processo teria duas etapas:
primeiramente, a aceitação da autoridade apenas
quando presente; depois, a
internalização da regra (a aceitação do não auto-dirigido), que prescinde da presença da
autoridade.
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