quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Algumas consequências psíquicas das distinções anatômicas entre os sexos - Freud 1925

Algumas consequências psíquicas das distinções anatômicas entre os sexos 
Freud 1925

Freud neste texto, a princípio aborda as consequencias  das primeiras manifestações da constituição pulsional, os primeiros investimentos sexuais e de amor  e as perdas na constituição da neurose. Na vida adulta esta experiência infantil pulsional são remodeladas e sobrepostas. Todo esse passado retorna à análise. 

As referências da constituição do Complexo de Édipo na mulher foi sempre calcada no Complexo de Édipo masculino. Havia a suposição de que com as meninas ocorresse algo semelhante. Entretanto a experiência demonstrou que a constituição da sexualidade feminina é diferente.

Tanto para o menino como na menina, no período pré edipiano a mãe é o primeiro objeto de amor.  Em relação ao pai, há momentos de rivalidade, mas há também amor e desejo. Freud fala de uma suposta bissexualidade na infância: os investimentos libidinais das crianças meninas ou meninos, por vezes são ativos ou passivos: amam(ativa), são amadas(passiva), fantasias de suprimir e ser suprimida.

A presença da masturbação seria uma descoberta de prazer do órgão genital e uma maneira de aliviar a excitação sexual, pois esta é intensa para alguém frágil, como uma criança.

Anatomicamente há diferenças entre os sexos, mas essa diferença não determina se alguém é homem ou mulher no sentido do ser e do existir.

As meninas em determinado momento modificam  seu objeto de investimento, da mãe passam ao pai, mas como isso ocorre?

Nas meninas a formação do Complexo de Édipo é secundária, o período pré edipiano são longos, a mãe como objeto de amor e desejo. O clitóris como zona genital ao invés da vagina.

O que retira a menina deste estádio pré genital onde a mãe é o objeto de amor/desejo?

“A entrada no Complexo de Édipo na menina se dá pela descoberta nas meninas da presença do pênis em um irmão ou companheiro de brinquedo, notavelmente visível e de grandes proporções, e imediatamente o identificam com o correspondente superior de seu próprio órgão pequeno e imperceptível; diante da constatação: advém um sentimento de inferioridade. Recriminando-se, surgindo a inveja do pênis (penisneid). A menina sabe que não tem, mas quer tê-lo. Tem esperança que um dia poderá obter o falo."

Essa esperança, pode persistir até uma idade tardia. A menina pode também recusar o fato de ser castrada e enrijecer-se na convicção de que tem pênis (falo), e acabar se comportando como um homem.

Afasta-se da mãe, pois a responsabiliza por não ter pênis(falo) e desinteressa-se por masturbar-se.

No passado, amiúde formei a impressão de que, em geral, as mulheres toleram a masturbação de modo pior que os homens, de que mais freqüentemente lutam contra ela e são incapazes de usá-la em circunstâncias nas quais um homem se valeria dela como via de escape, sem qualquer hesitação. A experiência sem dúvida trará à tona inumeráveis exceções a essa afirmativa se tentarmos transformá-la em uma regra. As reações de indivíduos humanos de ambos os sexos naturalmente se constituem em traços masculinos e femininos. Não obstante, pareceu-me que a masturbação está mais afastada da natureza das mulheres que da dos homens e a solução do problema poderia ser auxiliada pela reflexão de que a masturbação, pelo menos do clitóris, é uma atividade masculina, e que a eliminação da sexualidade clitoridiana constitui precondição necessária para o desenvolvimento da feminilidade.

Freud relaciona o abandono da masturbação na menina ao sentimento narcísico de humilhação ligado à inveja do pênis. Advindo dai a feminilidade.

A libido da menina desliza para uma nova posição da equação ‘pênis-criança’. Ela abandona seu desejo de um pênis e coloca em seu lugar o desejo de um filho; com esse fim em vista, toma o pai como objeto de amor e a mãe torna-se objeto de seu ciúme. A menina transforma-se em uma pequena mulher.

Entretanto o pai faz duas recusas à filha: não pode dar o (pênis) falo a ela e nem um filho. A menina abandonada cede à ligação com seu pai, advindo a  identificação com ele, A menina retorna  assim ao seu complexo de masculinidade.

“Enquanto, nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do complexo de castração.”

O complexo de castração na menina opera no sentido de inibir e limitar a masculinidade e incentivar a feminilidade. Por outro lado, o Complexo de Édipo e seus efeitos podem persistir com bastante ênfase na vida psíquica das mulheres. Um desses efeitos, diz respeito ao superego: “Seu superego nunca é tão inexorável, tão impessoal, tão independente de suas origens emocionais como exigimos que o seja nos homens.”



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