CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A PSICANÁLISE
Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais
O que é a libido? É um afeto ou
energia?
Segundo o dicionário de
psicanálise o termo libido tem origem latina
e significa “desejo” “vontade”, “aspiração”. Tal como Freud faz uso
dele, designa: “A manifestação dinâmica, na vida psíquica, da pulsão sexual. Trata-se
da energia dessas pulsões que tem a ver com tudo o que se pode compreender sob
o nome de amor.” R. Chemama & B. Vandermersch
A partir dessa definição é
perceptível que amor e desejo se articulam na sexualidade humana. Sendo libido,
a energia utilizada nos investimentos em
direção aos objetos, sob o domínio da
pulsão sexual.
Para falar de libido Freud retoma
os temas: perversão e sexualidade infantil.
Antes da psicanálise a
sexualidade humana desabrochava somente na puberdade. E era algo relacionado aos genitais, e que tinha
como meta a reprodução. Freud transformou o termo sexualidade quando ampliou o conceito: retirando as perversões do campo
moral e afirmando que a sexualidade infantil como perversa e polimorfa. A
sexualidade humana não esta restrita aos órgãos genitais visando à
reprodução.
A ideia da perversão em Freud – O
prazer sexual não advém exclusivamente dos órgãos genitais. Outros
órgãos/partes do corpo ao serem investidos podem satisfazer sexualmente. Toda
perversão nega o objetivo da reprodução. O termo perversão apesar de moralmente
trazer certo tom pejorativo, nada mais é que a sexualidade humana vivida de
maneira singular. Do ponto de vista da satisfação sexual todo humano é
perverso?
“Existe algo mais que devo
acrescentar a fim de completar nosso ponto de vista referente às perversões
sexuais. Por mais infames que possam ser, por mais nítido que se faça o
contraste com a atividade sexual normal, uma reflexão tranquila mostrará que um
ou outro traço de perversão raramente está ausente da vida sexual das pessoas
normais. Pode-se alegar que até mesmo um beijo seria considerado ato
pervertido, de vez que consiste na junção de duas zonas erógenas orais em vez
de dois genitais.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da
libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
A sexualidade infantil – O bebê é investido de libido pela mãe ou cuidador, em cada parte do corpo,
que são denominadas as zonas erógenas. O bebê é acarinhado por esse outro que o
banha de afetos e desejo. À medida que é investido o bebê tem sensações de
prazer-desprazer no corpo. As pulsões no bebê funcionam de maneira polimorfa,
seguem seus próprios rumos na busca de prazer. A sexualidade vivida pelo adulto,
de maneira perversa ou não, advém do infantil, alias a percepção da sexualidade
infantil perversa e polimorfa surgiu a partir da análise de adultos e de suas lembranças, ou no caso dos
neuróticos, dos sintomas que são substitutos desta satisfação do prazer no
órgão, vivido no infantil, e que em
determinado momento é recalcada.
A sexualidade infantil engloba
mais que a satisfação do prazer no órgão. Os elementos sociais: a escolha de
objetos, ciúmes infantil, uma preferência carinhosa por alguém, a escolha por
um dos sexos, demonstram o surgimento precoce da sexualidade infantil. Freud
quando fala de sexualidade engloba três elementos: o Sexo (prazer no corpo), o
amor e o desejo.
O nosso corpo e nossas funções
sexuais (sexo, amor e desejo) são construídas a partir de fases sucessivas efêmeras e que não se parecem
entre si. Cada uma dessas fases é
independente. O ponto crítico desta
construção é a subordinação de todas as pulsões à primazia dos genitais, e a
sujeição da sexualidade à reprodução.
Freud organiza a sexualidade em dois momentos: pré-genital
e genital. O primeiro momento denomina como “uma espécie de organização frouxa.”No
período genital o falo entra em jogo primeiramente para só depois surgir a
questão das diferenças anatômicas entre os sexos.
As fases oral, anal, fálica e o período de latência se
diferenciam pela parte do corpo investida e a pulsão dominante. O período de
latência é um momento particular. A partir destas fases surge a pergunta: em
que momento o auto erotismo entra em jogo?
FASES:
Fase Oral: Estádio mais precoce e primitivo. A boca e a sucção
desempenham importantes papeis.
Fase Anal: Coincide com o período em que a criança pequena está deixando
as fraldas. A partir do “pedido” da
mãe/cuidador a criança deixa(aprendizado) de utilizar as fraldas. Em jogo neste
momento as pulsões sádico anais.
Ainda não há contraste entre
masculino e feminino. Há entre ativo e passivo que segundo Freud são os precursores da polaridade sexual. Como
funcionam essas polaridades? Passivo em relação ao que? Aos objetos? Ao corpo
do próprio? Essa polaridade ativa e passiva está relacionada aquilo que é supostamente
dominante/dominado/se faz dominar. Olhar/ser olhado/se fazer olhado?
“O que nos apresenta como
masculino, nas atividades dessa fase, quando o consideramos do ponto de vista
da fase genital, vem a ser a expressão de um instinto de domínio que facilmente
pode transformar em crueldade. As tendências que visam a um fim passivo
vinculam-se a zona erógena do orifício anal, que é muito importante nesse
período. As pulsões de olhar e de adquirir conhecimento (pulsão escopofílica e
epistemológica) estão funcionando poderosamente; os genitais realmente desempenham
seu papel na vida sexual apenas como órgãos de excreção da urina.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações
sexuais. (1916-1917)
“As pulsões componentes parciais
desta fase não existem sem objeto, mas esses objetos não convergem
necessariamente num único objeto.” S.
Freud Conferência XXI – O
desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
Fase fálica: Início primazia
fálica, posteriormente a criança vive conflito edipiano , castração e recalque (Neurótico).
Período de latência – 6 a 8 anos. Parada e um retrocesso no desenvolvimento sexual.
“A maior parte das experiências e dos impulsos psíquicos anteriores ao início
do período de latência agora sucumbe a amnésia infantil – o esquecimento que
nos oculta nossa primeira juventude e nos torna estranhos a ela.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações
sexuais. (1916-1917)
O esquecimento é resultado do
recalque.
A relação entre as pulsões parciais e os objetos:
Primeiro momento: o bebê é
satisfeito de alimento e afeto. Segundo momento: Após ser satisfeito as pulsões
voltam-se ao próprio corpo buscando a satisfação. (auto erotismo). Em seguida o
auto erotismo é abandonado e o bebê se volta aos objetos externos. A imagem de
corpo é formada a partir justamente destes investimentos. Primeiramente objeto
de satisfação é o seio materno, a mãe como objeto de amor/desejo só entra em
jogo no momento do Complexo de Édipo. Parece que há um tempo que separa o seio
como objeto e a mãe como objeto. Minha
dúvida: há um tempo em que ainda não ocorreu separação, então o seio sendo
parte do corpo do bebê?
“Na época em que a mãe se torna o objeto de amor da criança, nesta o
trabalho psíquico do recalque já começou, trabalho que consiste em parte dos
fins sexuais subtrair-se ao conhecimento consciente. A essa escolha que a
criança faz, ao tornar sua mãe o primeiro objeto de seu amor vincula-se tudo
aquilo que sob o nome de “Complexo de Édipo”, veio a ter tanta importância na
explicação psicanalítica das neuroses e tem tido uma parte não menor, talvez,
na resistência à psicanálise.” S. Freud
Conferência XXI – O desenvolvimento da
libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
“A lenda grega do rei Édipo que é
fadado pelo destino a matar seu pai e desposar sua mãe, que fez todo o possível
para escapar a decisão do oráculo e puniu-se a si próprio cegando-se ao saber
que, apesar de tudo havia sem querer cometido ambos os crimes.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações
sexuais. (1916-1917)
“No decorrer do diálogo, Jocasta,
a iludida mãe e esposa, declara-se contrária à continuação da investigação. Apela
para o fato de que muitas pessoas sonharam com dormir com a própria mãe, mas
que os sonhos devem ser menosprezados. Não menosprezamos os sonhos – muito
menos os sonhos típicos que muitas pessoas sonham; e não duvidamos que o sonho
a que Jocasta se referia, tem íntima conexão com o estranho e terrível conteúdo
da lenda.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da
libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
A escolha de objeto feita pela
criança é anterior ao período de latência. Freud, neste momento, ainda descreve
o Complexo de Édipo nas meninas e nos meninos como semelhantes. Sendo que o
protótipo é o Complexo de Édipo nos meninos. Nas meninas, mãe e pai inverteriam
suas posições como objeto.
No decorrer do Complexo de Édipo
o amor, ódio e desejo em relação às figuras parentais estão atuando de maneira
intensa. Ao que parece, esses afetos atuam concomitantemente de maneira por
vezes ambivalentes, mas sem causar conflitos, num arranjo entre as figuras
parentais e a criança. Entretanto quando entra em cena outra criança esse
arranjo se desarticula e surgem conflitos. Freud cita um exemplo sobre isso: “Uma criança
que tenha sido posta em segundo lugar pelo nascimento de um irmão ou irmã, e
que agora, pela primeira vez, é quase isolada de sua mãe, não perdoa a esta com
facilidade, sua perda de lugar; sentimentos, que, em um adulto, seriam
descritos como de intenso ressentimento, surgem na criança e frequentemente
constituem a base de permanentes desavenças.” Há afetos intensos, ambivalentes e concomitantes no decorrer do Complexo de
Édipo, no “arranjo” entre pai, mãe e criança. Por que ocorre certo “desarranjo” quando
“outros” entram ou tentam entrar neste trio? S. Freud Conferência XXI – O
desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
Como foi visto no decorrer do
Complexo de Édipo os afetos (amor, ódio e desejo) são vividos de forma intensa,
e estes não são recalcados como os representantes da pulsão. O que ocorrem com esses
afetos? O período de latência marcaria o fim do Complexo de Édipo, o recalque e
o Complexo de Castração?
Freud cita o texto “Totem e tabu”
(1912-1913) quando aborda as proibições do incesto e o parricídio, a presença
desses desejos no decorrer do Complexo de Édipo, e a ação do recalque ao
retirar esses conteúdos ideacionais da consciência tornando-as inconscientes. No
inconsciente este conteúdo ideacional manteria sua carga de excitação.
No lugar dessas ideias recalcadas ao inconsciente
surgem outras na consciência ? Ou esse conteúdo é retirado totalmente da
consciência sem rastros? E quando terminar o período de latência essa
intensidade vivida na infância será retomada visando à satisfação?
Na puberdade as pulsões sexuais
começam a exigir com toda sua intensidade a satisfação através dos objetos incestuosos,
através de investimentos libidinais. “A escolha objetal infantil era apenas uma
escolha débil, mas já era um começo que indicava a direção para a escolha
objetal na puberdade. Nesse ponto, desenrolam-se assim, os processos emocionais
muito intensos que seguem a direção do Complexo de Édipo ou reagem contra ele,
processos que, entretanto, de vez que suas premissas se tornaram intoleráveis,
devem em larga escala permanecer afastados da consciência.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações
sexuais. (1916-1917)
Da puberdade em diante o
indivíduo tem a tarefa de desvincular-se dos seus pais. Qual o impulso que faz
a pessoa desejar desvincular dos pais? Será que algum dia ocorre essa
desvinculação? Enquanto não ocorre essa emancipação permanece impossível ao jovem participar como membro da comunidade.
“Para o filho essa tarefa
consiste em desligar seus desejos libidinais de sua mãe e emprega-los na
escolha de um objeto amoroso real externo e em reconciliar-se com o pai,
rebeldia infantil, tornou-se subserviente a ele. Essas tarefas são propostas a
todas as pessoas; e é de causar espécie quão raramente as pessoas enfrentam
tais tarefas de maneira ideal – isto é de maneira tal que seja correta, tanto
psicológica como socialmente.” S. Freud
Conferência XXI – O desenvolvimento da
libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
A construção de Freud sobre o
Complexo de Édipo parte da perspectiva desenvolvimentista e pragmática. Essa
construção percorre toda sua obra e vai se modificando pouco a pouco, entretanto,
a ideia de que complexo de Édipo
é considerado o núcleo da neurose permanece no decorrer de toda sua
obra.
PAULA ADRIANA NEVES COUTO
PSICANALISTA
paulaadriana.couto@gmail.com
tel: (11) 9 7656-7297
Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo
Próximo ao Metrô Jdim São Paulo
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