quinta-feira, 19 de maio de 2016

Minha leitura: Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais


CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A PSICANÁLISE

Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais
O que é a libido? É um afeto ou energia?
Segundo o dicionário de psicanálise o termo libido tem origem latina  e significa “desejo” “vontade”, “aspiração”. Tal como Freud faz uso dele, designa: “A manifestação dinâmica, na vida psíquica, da pulsão sexual. Trata-se da energia dessas pulsões que tem a ver com tudo o que se pode compreender sob o nome de amor.” R. Chemama & B. Vandermersch
A partir dessa definição é perceptível que amor e desejo se articulam na sexualidade humana. Sendo libido, a  energia utilizada nos investimentos em direção aos objetos, sob o domínio da  pulsão sexual.
Para falar de libido Freud retoma os temas: perversão e sexualidade infantil.
Antes da psicanálise a sexualidade humana desabrochava somente na puberdade. E era  algo relacionado aos genitais, e que tinha como meta a reprodução. Freud transformou o termo sexualidade quando ampliou  o conceito: retirando as perversões do campo moral e afirmando que a sexualidade infantil como perversa e polimorfa. A sexualidade humana não esta restrita aos órgãos genitais visando à reprodução. 
A ideia da perversão em Freud – O prazer sexual não advém exclusivamente dos órgãos genitais. Outros órgãos/partes do corpo ao serem investidos podem satisfazer sexualmente. Toda perversão nega o objetivo da reprodução. O termo perversão apesar de moralmente trazer certo tom pejorativo, nada mais é que a sexualidade humana vivida de maneira singular. Do ponto de vista da satisfação sexual todo humano é perverso?
“Existe algo mais que devo acrescentar a fim de completar nosso ponto de vista referente às perversões sexuais. Por mais infames que possam ser, por mais nítido que se faça o contraste com a atividade sexual normal, uma reflexão tranquila mostrará que um ou outro traço de perversão raramente está ausente da vida sexual das pessoas normais. Pode-se alegar que até mesmo um beijo seria considerado ato pervertido, de vez que consiste na junção de duas zonas erógenas orais em vez de dois genitais.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
A sexualidade infantil –  O bebê é investido de libido  pela mãe ou cuidador, em cada parte do corpo, que são denominadas as zonas erógenas. O bebê é acarinhado por esse outro que o banha de afetos e desejo. À medida que é investido o bebê tem sensações de prazer-desprazer no corpo. As pulsões no bebê funcionam de maneira polimorfa, seguem seus próprios rumos na busca de prazer. A sexualidade vivida pelo adulto, de maneira perversa ou não, advém do infantil, alias a percepção da sexualidade infantil perversa e polimorfa surgiu a partir da análise de  adultos e de suas lembranças, ou no caso dos neuróticos, dos sintomas que são substitutos desta satisfação do prazer no órgão, vivido no infantil,  e que em determinado momento é recalcada.
A sexualidade infantil engloba mais que a satisfação do prazer no órgão. Os elementos sociais: a escolha de objetos, ciúmes infantil, uma preferência carinhosa por alguém, a escolha por um dos sexos, demonstram o surgimento precoce da sexualidade infantil. Freud quando fala de sexualidade engloba três elementos: o Sexo (prazer no corpo), o amor e o desejo.
O nosso corpo e nossas funções sexuais (sexo, amor e desejo) são construídas a partir de  fases sucessivas efêmeras e que não se parecem entre si.  Cada uma dessas fases é independente. O  ponto crítico desta construção é a subordinação de todas as pulsões à primazia dos genitais, e a sujeição da sexualidade à reprodução. 
Freud organiza a sexualidade em dois momentos: pré-genital e genital. O primeiro momento denomina como “uma espécie de organização frouxa.”No período genital o falo entra em jogo primeiramente para só depois surgir a questão das diferenças anatômicas entre os sexos.
As fases oral, anal, fálica e o período de latência se diferenciam pela parte do corpo investida e a pulsão dominante. O período de latência é um momento particular. A partir destas fases surge a pergunta: em que momento o auto erotismo entra em jogo?
FASES:
Fase Oral: Estádio mais precoce e primitivo. A boca e a sucção desempenham importantes papeis.
Fase Anal: Coincide com o período em que a criança pequena está deixando as fraldas. A partir do “pedido”  da mãe/cuidador a criança deixa(aprendizado) de utilizar as fraldas. Em jogo neste momento as pulsões sádico anais.
Ainda não há contraste entre masculino e feminino. Há entre ativo e passivo que segundo Freud são os  precursores da polaridade sexual. Como funcionam essas polaridades? Passivo em relação ao que? Aos objetos? Ao corpo do próprio? Essa polaridade ativa e passiva está relacionada aquilo que é supostamente dominante/dominado/se faz dominar. Olhar/ser olhado/se fazer olhado?
“O que nos apresenta como masculino, nas atividades dessa fase, quando o consideramos do ponto de vista da fase genital, vem a ser a expressão de um instinto de domínio que facilmente pode transformar em crueldade. As tendências que visam a um fim passivo vinculam-se a zona erógena do orifício anal, que é muito importante nesse período. As pulsões de olhar e de adquirir conhecimento (pulsão escopofílica e epistemológica) estão funcionando poderosamente; os genitais realmente desempenham seu papel na vida sexual apenas como órgãos de excreção da urina.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
“As pulsões componentes parciais desta fase não existem sem objeto, mas esses objetos não convergem necessariamente num único objeto.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
Fase fálica:  Início primazia fálica, posteriormente a criança vive conflito edipiano , castração  e recalque (Neurótico).
Período de latência – 6 a 8 anos.  Parada e um retrocesso no desenvolvimento sexual. “A maior parte das experiências e dos impulsos psíquicos anteriores ao início do período de latência agora sucumbe a amnésia infantil – o esquecimento que nos oculta nossa primeira juventude e nos torna estranhos a ela.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
O esquecimento é resultado do recalque.
A relação entre as pulsões parciais e os objetos:
Primeiro momento: o bebê é satisfeito de alimento e afeto. Segundo momento: Após ser satisfeito as pulsões voltam-se ao próprio corpo buscando a satisfação. (auto erotismo). Em seguida o auto erotismo é abandonado e o bebê se volta aos objetos externos. A imagem de corpo é formada a partir justamente destes investimentos. Primeiramente objeto de satisfação é o seio materno, a mãe como objeto de amor/desejo só entra em jogo no momento do Complexo de Édipo. Parece que há um tempo que separa o seio como objeto e a mãe como objeto.  Minha dúvida: há um tempo em que ainda não ocorreu separação, então o seio sendo parte do corpo do bebê?
Na época em que a mãe se torna o objeto de amor da criança, nesta o trabalho psíquico do recalque já começou, trabalho que consiste em parte dos fins sexuais subtrair-se ao conhecimento consciente. A essa escolha que a criança faz, ao tornar sua mãe o primeiro objeto de seu amor vincula-se tudo aquilo que sob o nome de “Complexo de Édipo”, veio a ter tanta importância na explicação psicanalítica das neuroses e tem tido uma parte não menor, talvez, na resistência à psicanálise.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
“A lenda grega do rei Édipo que é fadado pelo destino a matar seu pai e desposar sua mãe, que fez todo o possível para escapar a decisão do oráculo e puniu-se a si próprio cegando-se ao saber que, apesar de tudo havia sem querer cometido ambos os crimes.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
“No decorrer do diálogo, Jocasta, a iludida mãe e esposa, declara-se contrária à continuação da investigação. Apela para o fato de que muitas pessoas sonharam com dormir com a própria mãe, mas que os sonhos devem ser menosprezados. Não menosprezamos os sonhos – muito menos os sonhos típicos que muitas pessoas sonham; e não duvidamos que o sonho a que Jocasta se referia, tem íntima conexão com o estranho e terrível conteúdo da lenda.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
A escolha de objeto feita pela criança é anterior ao período de latência. Freud, neste momento, ainda descreve o Complexo de Édipo nas meninas e nos meninos como semelhantes. Sendo que o protótipo é o Complexo de Édipo nos meninos. Nas meninas, mãe e pai inverteriam suas posições como objeto.
No decorrer do Complexo de Édipo o amor, ódio e desejo em relação às figuras parentais estão atuando de maneira intensa. Ao que parece, esses afetos atuam concomitantemente de maneira por vezes ambivalentes, mas sem causar conflitos, num arranjo entre as figuras parentais e a criança. Entretanto quando entra em cena outra criança esse arranjo se desarticula e surgem conflitos.  Freud cita um exemplo sobre isso: “Uma criança que tenha sido posta em segundo lugar pelo nascimento de um irmão ou irmã, e que agora, pela primeira vez, é quase isolada de sua mãe, não perdoa a esta com facilidade, sua perda de lugar; sentimentos, que, em um adulto, seriam descritos como de intenso ressentimento, surgem na criança e frequentemente constituem a base de permanentes desavenças.” Há afetos intensos, ambivalentes  e concomitantes no decorrer do Complexo de Édipo, no “arranjo” entre pai, mãe e criança.  Por que ocorre certo “desarranjo” quando “outros” entram ou tentam entrar neste trio? S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
Como foi visto no decorrer do Complexo de Édipo os afetos (amor, ódio e desejo) são vividos de forma intensa, e estes não são recalcados como os representantes da pulsão. O que ocorrem com esses afetos? O período de latência marcaria o fim do Complexo de Édipo, o recalque e o Complexo de Castração?
Freud cita o texto “Totem e tabu” (1912-1913) quando aborda as proibições do incesto e o parricídio, a presença desses desejos no decorrer do Complexo de Édipo, e a ação do recalque ao retirar esses conteúdos ideacionais da consciência tornando-as inconscientes. No inconsciente este conteúdo ideacional manteria sua carga de excitação.
No  lugar dessas ideias recalcadas ao inconsciente surgem outras na consciência ? Ou esse conteúdo é retirado totalmente da consciência sem rastros? E quando terminar o período de latência essa intensidade vivida na infância será retomada visando à satisfação?
Na puberdade as pulsões sexuais começam a exigir com toda sua intensidade a satisfação através dos objetos incestuosos, através de investimentos libidinais. “A escolha objetal infantil era apenas uma escolha débil, mas já era um começo que indicava a direção para a escolha objetal na puberdade. Nesse ponto, desenrolam-se assim, os processos emocionais muito intensos que seguem a direção do Complexo de Édipo ou reagem contra ele, processos que, entretanto, de vez que suas premissas se tornaram intoleráveis, devem em larga escala permanecer afastados da consciência.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
Da puberdade em diante o indivíduo tem a tarefa de desvincular-se dos seus pais. Qual o impulso que faz a pessoa desejar desvincular dos pais? Será que algum dia ocorre essa desvinculação? Enquanto não ocorre essa emancipação permanece  impossível ao jovem participar como membro da comunidade.
“Para o filho essa tarefa consiste em desligar seus desejos libidinais de sua mãe e emprega-los na escolha de um objeto amoroso real externo e em reconciliar-se com o pai, rebeldia infantil, tornou-se subserviente a ele. Essas tarefas são propostas a todas as pessoas; e é de causar espécie quão raramente as pessoas enfrentam tais tarefas de maneira ideal – isto é de maneira tal que seja correta, tanto psicológica como socialmente.” S. Freud Conferência XXI – O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais. (1916-1917)
A construção de Freud sobre o Complexo de Édipo parte da perspectiva desenvolvimentista e pragmática. Essa construção percorre toda sua obra e vai se modificando pouco a pouco,  entretanto,  a ideia de que complexo de Édipo  é considerado o núcleo da neurose permanece no decorrer de toda sua obra.

PAULA ADRIANA NEVES COUTO
PSICANALISTA
paulaadriana.couto@gmail.com
tel: (11) 9 7656-7297
Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo


Próximo  ao Metrô Jdim São Paulo




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