Stylus (Rio de Janeiro)
versão impressa ISSN 1676-157X
Stylus (Rio J.) no.30 Rio de Janeiro jun. 2015
DIREÇÃO DO TRATAMENTO
Amar adentro
Love inside out
Dominique Fingermann*
Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano — Brasil
Endereço para correspondência
RESUMO
O amor procede do exílio do ser banido da linguagem que assujeita o falante. É dai que deriva a sua "razão",reson, resonância, eco fora do corpo daquilo que d'alíngua não se encadeou nas leis da linguagem, e que se explora nas dobras do corpo Outro. Freud explica como o amor de transferência é um amor verdadeiro, mas como mente sobre suas intenções, pois, como todo amor, pega emprestado no outro o que lhe falta e usa isso genuinamente para encontrar o que falta para ele. O texto percorre os diversos aforismos de Lacan a respeito do amor para cingir o que suas ficções apontam como real: além de seu sentido e de suas significações, o amor mais digno é signo de Um.
Palavras-chave: Amor, Transferência, Verdade, Signo, Letra, Alíngua.
ABSTRACT
Love comes from the exile of being banished from the language that subjugates the speaker. It is from there then that its "reason" derives, reson, resonance, an echo outside the body of what the alingua has not connected with in the language laws, and that explores itself in the folds of the body Other. Freud explains that transfer love is a true love, but it lies about its intentions. Like any love, it borrows from the other what is missing in itself and uses it genuinely to find what is missing for it. The text explores several Lacan's aphorisms about love in order to establish the link with what its fictions approach as real: beyond its sense and significations, love is a sign of One.
Keywords: Love, Transfer, Truth, Sign, Letter, Alingua.
L'amour est enfant de bohème, qui n'a jamais connu de loi.
Bizet
Bizet
Le coeur a ses raisons que la raison ne connaît point.
Pascal
Pascal
O amor tem razões que a razão desconhece. É uma doçura que embala, embalsama, me-ama! É uma loucura que cativa, captura, enrola e arrebenta. A arrebentação do amar passa, e ressaca. O amar deita e rola. Amar adentra.
O amor, "pas-de-sens", o seu passo de sentido, deriva desde um "pas-de-sens", ab-sens, não sentido original. Mas o seu passo faz laço, faz dois — ao que parece —, faz de tudo, faz amor, "faz" poïesis: "fazer o amor, como o nome o indica, é poesia" (LACAN, 1972-73/1985, p. 98).
O amor procede do exílio do ser banido da linguagem que assujeita o falante. No entanto, ele solta alíngua nos gritos e sussurros, nas camas, nas rasuras, nas ruas, na pólis e na política, "bem me quer, mal me quer, bem me quer..." nos poemas, na literatura, na litterasura.1
O amor fora da lei tem razão, ele se apresenta como reson,2 re-som, ressonância, e eco fora do corpo daquilo que d'alíngua não se encadeou nas leis da linguagem, mas pode se explorar nas dobras do corpo, Outro, corpo que simboliza o Outro, corpo enquanto sítio da heteridade, nos vestígios enigmáticos de suas trilhas sonoras e outros afetos.
O ponto de partida, de rachadura, o sulco, de onde partem as histórias de amor, assim como o risco da letra que lança mão do texto, é a "palavra buraco", troumatismo3da moterialidade4: "Uma palavra buraco escavada em seu centro com um buraco, desse buraco onde todas as outras teriam sido enterradas. Não se poderia dizê-la, mas se poderia fazê-la ressoar, imensa, sem fim, um gongo vazio" (DURAS, 1964, p. 48).5
De beijo de língua em beijos d'alíngua, o amor adentra. Eventualmente, sexo e amor colaboram para fazer amor.
O amor é procura da ressonância no corpo Outro, eco do oco do Um dizer, "mot trou", palavra que inicialmente, radicalmente não faz sentido, só é moterialidade. A materialidade primordial da língua é traumática, não faz sentido.
A procura do sentido do amor, o achado de sua significação de fantasma que o fixa e amarra a certo objeto, procede da sequência da letra. A carta de amor que ela emite procura no outro o signo do Dizer do Um que alíngua exporta, explora, extrapola.
1. Freud explica a verdade do amor
O amor preocupa, ocupa, faz sofrer, faz falar, faz gozar: perigozo! O amor interessa à psicanálise.
No começo está a transferência. No começo de qualquer análise está a falta de sentido (pas de sens), que atenta e arrisca o passo do sentido (pas de sens) que alenta, mas dá trabalho: trabalho de transferência.
No começo das análises, o amor entra em cena e queixa, lamenta: de menos, demais, capenga, impotente, ferido, carente, obsessivo, compulsivo, exaltado, temido, deplorando; "não há dois, não há dois?, não há!"
No meio das análises, "o amor que se dirige ao saber" (LACAN, 1973/2003, p. 555) dá trabalho e dá voltas e voltas. O "amor" de transferência apela para "fazer saber", escrever uma nova carta a partir da letra oriunda do saber inconsciente "insu que sait", o "não sabido que sabe". A letra é o remetente da carta de amor.
O manejo do amor de transferência, isto é, a resposta ímpar do parceiro analista, sustenta o longo trabalho das análises que procuram seu fim. O analista, que se dispõe como destinatário, não responde à carta, mas o seu silenciar tão peculiar deixa ressoar a letra n'alíngua que transcorre a fala da associação livre. "Não se poderia dizê-la, mas se poderia fazê-la ressoar."
No fim das análises, desde Freud, aposta-se que as condições do amor não estejam tão rebaixadas, que as suas façanhas possam dar mais "satisfaction". Desde Freud o mínimo que se exige de uma análise é que ela permita um outro tratamento do gozo e do laço social, um outro enlaçamento, enodamento, do gozo, do corpo, no laço com o Outro.
Amor e transferência tecem o texto analítico — o laço social que suporta esse discurso nessa empreitada de corte e costura, enlaça a demanda de quem falta, à presença de quem não tem.
O amor interessa ao psicanalista, e Freud, desde os "Estudos sobre a Histeria", localizou o valor de verdade e de motor dessa mentira, armação/armadilha que o genuíno amor de transferência propõe.
Suas indagações insistentes ao longo de sua obra e em particular no texto "Observações sobre o amor transferencial" — tais como "não temos o direito de contestar que o estado amoroso que faz seu aparecimento no decurso do tratamento analítico tenha o caráter de um amor 'genuíno'"e "por que outros sinais pode a genuinidade de um amor ser reconhecida? Por sua eficácia, sua utilidade em alcançar o objetivo do amor? A esse respeito, o amor transferencial não parece ficar devendo nada a ninguém; tem-se a impressão de que se poderia obter dele qualquer coisa" (FREUD, 1915/1953) — permitem concluir com Freud que, portanto:
— a transferência, o amor de transferência, é um amor verdadeiro.
— mas, por definição, como todo amor, ele pega emprestado no outro o que lhe falta e usa isso genuinamentepara encontrar o que falta para ele.
Essa metonímia fundamental do objeto de amor que pode fácil e genuinamente passar de um para o outro é um dos traços que Lacan apontara várias vezes como o cômico do amor verdadeiro.
A partir da clínica do amor com a qual se depara, Freud retoma a questão filosófica/ética do amor, que o cristianismo interpretou à sua maneira com o amar ao próximo "como a ti mesmo". A questão ética indaga os limites e a localização de um amor verdadeiro, autêntico, "o puro amor", um amor que levaria além do amor-próprio, do narcisismo.
2. Lacan diz que diz
Lacan, no decorrer de seus vinte e cinco seminários e Outros escritos, nunca cessou de falar de amor: o amor não cessa de, não cessa... Colhi algumas flores desse "dicionário analógico"6 lacaniano sobre o amor:
Paixão — Forma de suicídio — Meleca, Grude corporal — Cascalho que ri — Dom, Dádiva — Véu — Nada — Fetiche — Cômico — Rebaixamento — Mentira — Falta — Mito — Demônio — Duelo — Tragédia — Incômodos — Mãe — Pai — Enganação — Demanda — Reciprocidade — Atravessamento, Travessia — Narcisismo — Poesia — A(muro) — Impossível — Contingente — Necessário — Possível — Debilidade — Conexividade entre dois saberes — Falha — Exaltação — Espelho — Nada mais que uma significação — Nominação — Simbólico — Imaginário — Real.
Tantos enunciados, por vezes contraditórios, dão a deixa para a pergunta: "qual é a verdade do amor?". Ou antes: o que a verdade mentirosa encobre? Qual é o dizer de tantos ditos?
O dizer dos ditos não se abarca assim. Os aforismos lacanianos seriam uma maneira logicamente/poeticamente sutil de assestá-lo?
A verdade dos aforismos parece assestar sem acertar o dizer dos ditos sobre o amor; o aforismo, como a "significação" do amor é um para-ser (parecer/ao lado do ser). Lacan chega a rir de seus efeitos, por vezes grandiloquentes, e achá-los um pouco ridículos. Mas, convenhamos que são inesquecíveis e que tensionam, contribuem para que "o dizer não seja esquecido atrás do que se diz no que se ouve" (LACAN, 1972/2003, p. 448). Eles indicam um dizer, como uma lembrança encobridora indexa um real, à condição de que seu enigma se preste a uma disciplina do comentário e que não sejam usados em prol de um "amor à verdade" que desgastaria seu impacto de signo.
3. Amar é dar o que não se tem
No ensino de Lacan, amar se conjuga primeiramente como demandar, dentro da dimensão simbólica, e comodar, oferecer-se como o objeto faltante.
"Amar é dar o que não se tem" é enunciado por Lacan pela primeira vez em 1957, e será repetido inúmeras vezes.
Primeiramente Lacan designa assim o falo, "o que não se tem", mas é o objeto a que será finalmente assim achado e fundamentalmente assim designado. A localizacão do objeto a permite que Lacan precise o que se trata no amor, no laço com o outro e, obviamente, na transferência, permitindo que a verdade dessa troca simbólica abrande a dimensão de mentira imaginária, e na medida em que o que falta ao simbólico e ao imaginário permite, num segundo tempo, apontar e localizar o real como diz-mensão.
"Amar é dar o que não se tem" condensa também os desenvolvimentos de Lacan no Seminário 8 sobre a transferência, quando apresenta a famosa "metáfora do amor", ou seja, quando o sentido do desejo produz a significação do amor: o amante, fazendo-se de objeto amado para encontrar, naquilo que ele se faz para o outro, a significação (fantasmática) de seu desejo.
Podemos facilmente interpretar o amor, tal como as letras (poesia, literatura) o testemunham, e a transferência, tal como a vetoriza as análises, a partir desse enunciado "amar é dar o que não se tem". Por exemplo, a linda frase de Breton em L'amour fou, "é realmente como se eu tivesse me perdido e que viessem de repente me dar notícias de mim mesmo",7 (BRETON, 1937/1976) poderia se reduzir a esse diagnóstico: amar é dar o que não se tem (para alguém que não quer isso, completa Lacan no Seminário 12).
É no seminário ...Ou pire, em 1972, que acontece uma ruptura na repetição do aforismo. Lacan resgatando o que tinha deixado em espera desde "Função e Campo"8 no capítulo antecipatório "As ressonâncias da interpretação", o amor passa a ser lido a partir da letra de a-muro, como signo.
"Eu te demando de recusar o que te ofereço porque não é isso" (LACAN, 1971-1972, p. 81), reinterpreta o primeiro aforismo "amar é dar o que não se tem", e anuncia a letra que está no a-muro: "entre o homem e a mulher há o a-muro" (Ibid.).
Este corte no ensino de Lacan implica o amor na estrutura de uma maneira bem diferente. É notável que se aponte para as ressonâncias d'alíngua, e que aqui, precisamente, se abra a questão do nó borromeano (é em torno de um comentário desta frase que Lacan passa a explorar a topologia borromeana).
A partir daí, o amor é elevado à dignidade de suplência e não mais apenas de enganação, e a sua carta carrega o eco do saber inconsciente d'alíngua, e não apenas uma mera mentira.
O rumo do amor no ensino de Lacan, e seu valor inegável, se enunciará no final, no âmago do título definitivo, decisivo, "L'insu que sait de l'Une-bévue s'aile à mourre".
4. Fazer o amor mais digno
"Pôr em jogo o simbólico e o real que o imaginário aqui une (por isso não podemos largá-lo) e tentar, a partir deles, que fizeram mesmo suas provas no que diz respeito ao saber, aumentar os recursos graças aos quais conseguiremos prescindir dessa tal de relação, para fazer o amor mais digno do que a profusão do palavrório que constitui até hoje" (LACAN, 1974/2003, p. 315).9
A "Nota italiana", 1974, onde se encontra essa sentença, condensa de uma certa forma toda a operação doSeminário 20, cujos inúmeros enunciados inesquecíveis a respeito do amor, deslocam insistentemente a dimensão do Dizer aos quais se referem.
Esse enunciado não anula o que foi dito anteriormente, mas suplementa e aponta para um outro dizer: o enodamento RSI e, mais além, talvez, para a função sinthoma do amor como aquilo que permite o enlace das três dimensões.
O amor, a partir deste momento no ensino de Lacan, não é mais apenas o que procede do sentido simbólico que vetoriza o desejo, nem tão somente a significação que estabiliza o imaginário, numa tentativa mútua de "fazer dois" e fazer "relação sexual".
Nem sentido, nem significação; o amor é signo. Suplência à não relação sexual, pois a não relação é sua provação e seu ponto de partida; não tentar mais fazer relação com as armadilhas do amor e do objeto permite fazer um amor mais digno.
O amor mais digno é signo do Um, do Y a d'l'Un, que o saber inconsciente d'alíngua precipita em letra no a-muro.
"...a única coisa que se pode fazer de um pouco sério, a letra/carta de amor" (LACAN, 1972-1973, p. 113).10A carta de amor permite que se conte Um, que se tire seriamente as consequências da singularidade do Um sozinho que não faz dois, nem quando faz amor, e que um a um o que faz diferença se conta.
Podemos chamar essa solidão de narcisismo? Talvez sim, mas um narcisismo que inclui o real, que precisa de três para fazer Um.
A escrita e o amor, ambos responsáveis para que "o que não cessa de não se escrever" deixe rastros sem vergonha, da "impudência do Dizer" (LACAN, 1973-1974, 11/06/1974): repercussão da ausência de sentido da letra mot trou no indesens do texto, a indecência fora de sentido do corpo do texto, entremeado com o sexo.
"Escrever, amar. Vejo que isso se vive na mesma incógnita. No mesmo desafio do conhecimento, na tensão do desespero" (DURAS, 1987, p. 89),11concluímos comMarguerite Duras.
Referências
BRETON, André (1937). L'amour fou. Paris: Gallimard, Folio, 1976.
DURAS, Marguerite (1964). Le ravissement de Lol V. Stein. Paris: Gallimard.
__________. (1987). La Vie matérielle. Paris: P.O.L, 1987.
FREUD, Sigmund (1915). "Observações sobre o amor transferencial" In: Edição Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud — Edição Eletrônica. Rio de Janeiro: Imago, s/d.
__________. (1915). "Observations sur l'amour de transfert" In: La technique psychanalytique. Paris: PUF, 1953.
LACAN, Jacques (1971-1972). Le Séminaire — Livre 19 — ...ou pire. Paris: Seuil, 2011.
__________. (1972). "O aturdito" In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
__________. (1972-1973). O seminário — Livro XX — Mais ainda. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
__________. (1973). "Prefacio à edição alemã dos Escritos" In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
__________. (1973-1974). Le Séminaire — Livre 21 — Les non dupes errent, inédito (Aula de 11/06/1074).
__________. (1974). "Nota italiana" In: Outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
PONGE, Francis (1965). Pour un Malherbe. Paris: Gallimard, 1965.
Endereço para correspondência
E-mail: dfingermann@gmail.com
Recebido: 02/03/2015
Aprovado: 21/04/2015
* Psicanalista, AME da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano — Brasil. Engajada local, nacional e internacionalmente na transmissão da psicanálise e na formação do psicanalista. É autora de múltiplos artigos publicados em livros e revistas nacionais e internacionais, assim como do livro Por causa do pior (Illuminuras, 2005), em coautoria com Mauro Mendes Dias, e organizadora do livro Os paradoxos da repetição (AnnaBlume, 2014).
1 Litterasura em referência ao texto de Lacan "Lituraterre" e "litterature" que em francês ressoa como litter= lixo, em inglês, e rature, em português, rasura.
2 Reson, termo de Francis Ponge (1965), cujo parti pris poético foi dar às palavras uma "espessura quase igual" à das coisas, "dar conta da profundidade substancial do mundo. Em vez de se deter na significação que veicula habitualmente o nome da coisa", Ponge a faz balançar "literalmente e em todos os sentidos", voltando à sua etimologia, decompondo, associando-a a outras palavras vizinhas pelo som ou pelo sentido".
3 Troumatismo: Lacan escreve o traumatismo com a palavra trou, isto é, furo.
4 Moterialidade: para falar da matéria do parlêtre, Lacan escreve moterialidade, ou seja, a materialidade da palavra.
5 No original: "(...) Un mot trou creusé en son centre d'un trou, de ce trou où tous les autres mots auraient du être enterrés. On n'aurait pas pu le dire, mais on aurait pu le faire résonner, immense, sans fin, un gong vide".
6 Referência ao Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo.
7 No original: "(...) C'est vraiment comme si je m'étais perdu et qu'on vînt tout à coup me donner de mes nouvelles".
8 Antoine Tudal (Paris en l'an 2000) apud Jacques Lacan In: Écrits. Paris: Seuil, 1966. p. 289."Entre l'homme et l'amour, Il y a la femme. Entre l'homme et la femme, Il y a un monde. Entre l'homme et le monde, Il y a un mur".
9 No original: "(...) Mettre à contribution le symbolique et le réel qu'ici l'imaginaire noue (c'est pourquoi on ne peut le laisser tomber) et de tenter, à partir d'eux, qui tout de même ont fait leurs preuves dans le savoir, d'agrandir les ressources grâce à quoi ce fâcheux rapport, on parviendrait à s'en passer pour faire l'amour plus digne que le foisonnement de bavardage, qu'il constitue à ce jour".
10 No original: "(...) la seule chose qu'on puisse faire d'un peu sérieux, la lettre d'amour".
11 No original: "Écrire, aimer. Je vois que cela se vit dans le même inconnu. Dans le même défi de la connaissance mise au désespoir".
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