PAULA ADRIANA NEVES COUTO
PSICANALISTA
paulaadriana.couto@gmail.com
tel: (11) 9 7656-7297
Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo
Próximo ao Metrô Jdim São Paulo
Conferência XIX – Resistência e Recalque:
As resistências permeiam o processo
psicanalítico do início ao final.
“Em primeiro lugar, então quando assumimos a tarefa de recuperar um paciente para a saúde aliviá-lo dos sintomas de sua doença, ele nos enfrenta com uma resistência intensa e persistente que se prolonga por toda a duração do tratamento.”
As vezes ficava pensando: como alguém que procurou
atendimento resiste ao processo? Já que foi o analisante que procurou
atendimento, pagou, e paga monetariamente pelo trabalho e pagou e paga também
com o seu sofrimento que o sintoma proporciona.
“Uma pessoa que vai ao dentista
por causa de uma dor de dente insuportável, assim mesmo procurará afastar o
dentista quando este se aproxima do dente doendo, com um boticão.” Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
A única regra ao analisante existente
no processo analítico: Associação livre. Falar tudo que vier a mente, sem
críticas. Absolutamente tudo que surgir a mente deve ser dito, mesmo que
aparentemente não tenha nexo. Entretanto, com o tempo percebemos que a
associação livre não é tão livre assim, pois mesmo que livremente, nos repetimos e
geralmente falamos da mesma coisa e de determinado jeito o tempo todo. Com cada um falamos de uma maneira particular, Em análise, nossa fala é dirigida ao analista que ocupa posição
privilegiada. A resistência é inerente a esse processo. Como
analistas precisamos estar atentos a isso.
Por vezes, a resistência se dá
quando determinado tema é escondido, mantido reservadamente. No cuidado do que se fala para não incorrer em
“erros” ou “equívocos” no uso da linguagem. Ou mesmo quando nos preocupamos
com a regra: será que falei tudo? É melhor falar isso e depois aquilo. Ao mesmo
tempo, essa maneira como se fala, diz
do falador. Uma maneira de resistir, mas
também o “modo de operação” daquele que
fala.
A transferência como resistência:
“As resistências intelectuais não são as piores: sempre é possível superá-las. O paciente também sabe, contudo, como erguer resistências sem sair do esquema de referência da análise, e a superação desta situação está entre os problemas técnicos mais difíceis. Em vez de recordar, repete atitudes e impulsos emocionais do início de sua vida, que podem ser utilizados como resistência contra o médico e o tratamento, através do que se conhece como “transferência”. “Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
Em relação a transferência Freud
diz:
“Se esta ligação atinge determinado nível, desaparece todo o seu interesse pela situação imediata do tratamento e todas as obrigações que assumiram no início; seu ciúme, que nunca está ausente, e sua irritação ante a inevitável rejeição, embora expressos respeitosamente, não podem deixar de ter como efeito um dano na harmonia entre paciente e médico e assim inativam uma das mais poderosas forças motrizes da análise.” Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
A transferência é o grande motor da análise, mas também pode ser seu maior obstáculo. A resistência faz parte do trabalho analítico. Como manejá-la é a questão. Qualquer coisa que aconteça na vida do analisante terá a análise como responsável: doença, surpresas agradáveis ou desagradáveis, perda do emprego ou uma nova oportunidade. Todos os acontecimentos podem servir a resistência como obstáculo a continuidade do processo analítico.
Do ponto de vista dinâmico (Conflito psíquico), a resistência, estaria a serviço do eu e sempre entraria em jogo quando no aparelho psíquico houvesse conflito psíquico entre pcs/cs
e ics. Nos primórdios da psicanálise, Breuer e Freud utilizavam o
método da hipnose: Tratamento mais rápido e por vezes satisfatório, onde as resistências não entravam em
jogo. Entretanto os resultados não eram duradouros. Já o trabalho psicanalítico é um tratamento mais lento e as
resistências entram em jogo. Na hipnose o médico conseguia
retirar a resistência deixando o campo livre para trabalhar com a hipnose. No
trabalho psicanalítico a resistência faz parte do trabalho. Há conflito psíquico há resistência.
Sobre isso Freud diz: “(...)E então compreendi que não se tornaria possível a compreensão da dinâmica destas doenças enquanto fosse empregada a hipnose. (Nota de rodapé: Freud relata-nos que percebeu pela primeira vez a grande importância da resistência durante a análise de Elisabeth von R. Nessa época, ele estava utilizando a técnica da pressão , sem hipnose. Ver “Estudos sobre a histeria” (1895) Edição Standard. Brasileira Vol II. Pag 203. Imago Editora 1974.) Esse estado era justamente capaz de subtrair a percepção do médico a existência da resistência, tornando uma determinada área livre para o trabalho analítico e representava-a nas fronteiras desta área sob uma tal forma, que se tornava impenetrável, do mesmo modo como a dúvida age na neurose obsessiva.”
A resistência cresce sempre
quando se aproxima de um novo assunto. Aumenta sua intensidade quando se chega
ao clímax de intensidade da abordagem do tema, e desaparece quando o assunto é
posto de lado.
Segundo Freud sobre a resistência, recalque e a formação dos sintomas: “Agora sabemos em que ponto devemos localizar a ação da força que presumimos. Uma violenta oposição deve ter-se iniciado contra o acesso a consciência do processo mental censurável, e por esse motivo ele permaneceu inconsciente. Por constituir algo inconsciente teve o poder de construir um sintoma. Esta mesma oposição, durante o tratamento psicanalítico, se insurge, mais uma vez, contra nosso esforço de tornar consciente aquilo que é inconsciente. É isto o que percebemos como resistência. Propusemos dar ao processo patogênico, que é demonstrado pela resistência, o nome de recalque.”
Hipóteses sobre o recalque: Qualquer impulso tem origem no inconsciente, entretanto, alguns impulsos são mantidos impotentes (a energia que tinham foi retirada deles e permanecem como lembranças (Pcs/Cs) e todos esses elementos disponíveis a consciência. Em contrapartida, há outros impulsos que objetivam ação e que mantém sua carga de excitação. Só que desses impulsos não permanecem lembranças, e não são percebidos pela consciência.
Esse impulso que objetiva a ação,
parte do inconsciente via consciente. Freud exemplifica isso com a imagem
fotográfica:
“(...) Como uma imagem fotográfica começa como negativo e só se torna fotográfica após haver-se transformado em positivo. Nem todo negativo transforma-se, contudo necessariamente em positivo; e não é necessário que todo processo mental inconsciente venha a se tornar consciente. Isto pode ser vantajosamente expresso com dizermos que um processo isoladamente pertence, no início, ao sistema do inconsciente, podendo depois em determinadas circunstâncias, passar ao sistema do consciente.” Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
“(...) Como uma imagem fotográfica começa como negativo e só se torna fotográfica após haver-se transformado em positivo. Nem todo negativo transforma-se, contudo necessariamente em positivo; e não é necessário que todo processo mental inconsciente venha a se tornar consciente. Isto pode ser vantajosamente expresso com dizermos que um processo isoladamente pertence, no início, ao sistema do inconsciente, podendo depois em determinadas circunstâncias, passar ao sistema do consciente.”
Do ponto de vista do aparelho
psíquico e dos sistemas Pcs/cs e Ics, o que seria alguém supostamente normal?
Normal é aquele que não tem impulsos recalcados e consequentemente não fez
sintomas?
Só há sintoma porque houve
recalque. Os sintomas são substitutos de algo que foi afastado pelo recalque.
Qual impulso está sujeito ao recalque?
“Ao investigar a resistência constatamos que ela emana de forças do eu, de traços de caráter conhecidos e latentes. São estes, pois, os responsáveis pelo recalque ou, pelo menos, têm uma participação nela. Presentemente não sabemos de mais nada.” Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
Nos dois casos citados nas conferências anteriores ,após investigação minuciosa por parte de Freud concluiu-se que a neurose e os sintomas apresentados pelas pacientes relacionavam-se a intimidade sexual de ambas. Os sintomas serviriam como um substituto da “satisfação” , de desejos sexuais que os pacientes se privavam.
“Ao investigar a resistência constatamos que ela emana de forças do eu, de traços de caráter conhecidos e latentes. São estes, pois, os responsáveis pelo recalque ou, pelo menos, têm uma participação nela. Presentemente não sabemos de mais nada.” Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
Nos dois casos citados nas conferências anteriores ,após investigação minuciosa por parte de Freud concluiu-se que a neurose e os sintomas apresentados pelas pacientes relacionavam-se a intimidade sexual de ambas. Os sintomas serviriam como um substituto da “satisfação” , de desejos sexuais que os pacientes se privavam.
“Pensem no ato obsessivo de nossa
primeira paciente. A mulher estava sem seu marido, a quem ela amava intensamente,
mas com quem não podia compartilhar sua vida devido às deficiências e fraquezas
dele. Tinha de permanecer-lhe fiel; não podia colocar nenhuma outra pessoa no
lugar dele. O sintoma obsessivo deu-lhe o que ela desejava, colocar o marido
num pedestal; negou e corrigiu suas fraquezas e, acima de tudo sua impotência.
Este sintoma era fundamentalmente uma realização de desejo, tal qual um sonho –
e, ademais disso, o que nem sempre acontece com um sonho, uma realização de
desejos eróticos. No caso da nossa segunda paciente, os senhores puderam pelo
menos depreender que seu ritual procurava impedir o coito dos pais ou evitar
que ele desse origem a um novo bebê. Os senhores provavelmente também
perceberam que no fundo esse ritual procurava coloca-la no lugar de sua mãe.
Mais uma vez, portanto, tratava-se de eliminar algo que interferia na
satisfação sexual e na realização dos desejos sexuais da própria paciente. Em
breve falarei da complicação que mencionei.” Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
Freud fornece esses dois exemplos
e diz que os sintomas funcionaram como realização de desejos sexuais. Quais
desejos? Parece confuso, por vezes parece desejo no sentido inconsciente. E por
vezes, desejo no sentido de querer.
As ideias de: resistência,
recalque, e sintomas e de tratamento descritos no texto, cabem a Neurose de
transferência: Neurose obsessiva histeria de conversão e histeria de angustia. O neurótico adoeceria porque seus
desejos sexuais não foram realizados. O sintoma é um substituto na realização dos
desejos sexuais. Esses desejos são os
inconscientes, infantis. Que jamais serão realizados. “(...)Essas
pessoas(neuróticos) adoecem de uma forma ou de outra, de frustrações, quando a
realidade as impede de satisfazer seus desejos sexuais. Os senhores verificam
com que perfeição estas duas (resistência e recalque) descobertas se harmonizam
entre si. Assim é que os sintomas podem ser adequadamente visualizados como
satisfações substitutivas daquilo que se perde na vida.”Resistência e Recalque: S. Freud. Conferência XIX (1916-1917)
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