quarta-feira, 2 de março de 2016

Minha Leitura do filme: Madame Bovary (1991)


Nesta semana assisti ao filme: “Madame Bovary” (1991), adaptação da clássica obra literária de Gustave Flaubert. Filme excelente que aborda a singularidade dos investimentos amorosos. Muitas vezes a última coisa que se busca numa relação amorosa ou nos investimentos amorosos  é o amor. 

Madame Bovary retrata essa questão de maneira exemplar.
Resolvi também escrever sobre este filme porque o achei extremamente atual e emblemático. Hoje em dia vivemos um tempo onde paira uma insatisfação geral.  As relações estão  cada dia mais superficiais e “interesseiras” e  parece que  Madame Bovary se relaciona desta maneira,  com todos que a cerca.

Outro ponto que me intrigou bastante neste filme foi justamente o fato de Emma não se perguntar sobre o que deseja ou não deseja. Ela segue o fluxo, sem responsabilidade,  a fim de conquistar algo que talvez nem queira de fato.  Desloca-se de objeto em objeto, sem algo que realmente chame sua atenção. 

O marido de Emma por sua vez parece adormecido, na posição de amado, “cego de amor". Seus gestos giram em torno de  Tentar realizar o que supõe que Emma deseja. Qual mulher esse homem ama? A quem Emma ama? O que desejam?

Este filme ilustra um viés das relações amorosas  que quase ninguém deseja ver, mas que estão ai nas relações:
  • Nem sempre o que pedimos é o que realmente queremos, aliás, geralmente pedimos o avesso daquilo que queremos.
  • Por trás de nossos apelos existem tantos outros pedidos, que não são claros nem mesmo para cada um de nós. 
  • Nossas insatisfações são inerentes a nossa humanidade, não existindo um objeto (amoroso ou não) que nos satisfaça completamente. 

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“MADAME BOVARY” (1991)








Emma é uma jovem romântica e sonhadora, que vive no interior da França no Século 19. Um dia o Dr. Charles Bovary vai à fazenda da família para cuidar do pai de Emma. À medida que o médico cuida do pai interessa-se pela jovem, e Emma parece que vê neste homem uma oportunidade de tirá-la do tédio ao qual se encontra. Ao pai de Emma uma oportunidade de casamento para a filha e assim ocorre, Emma  casa-se com Charles Bovary. Interessante como  cada um deseja neste casamento coisa diferente: o pai um destino para a filha. Charles Bovary deseja  amar e ser amado e Emma deseja sanar suas insatisfações advindas de suas idealizações.

Dr. Charles Bovary  é um médico de província, sem grandes ambições,  mas cheio de boas intenções. Como satisfazer uma mulher insatisfeita? Como supor o querer da outra pessoa?  Emma descobre que, apesar da dedicação do marido, o casamento não é como havia idealizado. A impressão que dá é que quanto mais o marido tenta satisfazer as vontades de Emma, mais ela se afasta dele.

Enquanto o marido busca no casamento ser amado por essa mulher. Emma parece que se desencontrou a partir do casamento. Emma queria ser retirada do tédio de ser mulher, numa época onde à elas cabia apenas satisfazer os desejos do marido, cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos quando viessem. Emma não sabia o que queria, mas sabia que não queria estar naquele lugar, cumprindo as tarefas que lhe eram reservadas: cuidar do marido e filha, aliás, com a menina mantinha uma relação de desprezo. Emma na realidade parecia sonhar em conquistar a evidência social através do marido médico para compensar uma existência medíocre.

O casal é convidado a participar de um baile na província em que residem. Ali naquele baile Emma percebe os olhares de outros homens a ela. Este baile deflagra nesta mulher a ambição de estar em outra posição, mais rica e poderosa, mas também de ser desejada por outros homens. Ela descobre que pode ir além e encontrar a vida de brilho que idealizou. Só que Emma conquistaria suas ambições através do crescimento profissional e da visibilidade do marido enquanto médico, como também através da sedução de outros homens. Engano de Emma: como transmitir suas ambições ao marido simples, medíocre e satisfeito de sua posição?

Será que Emma realmente se interessava por outros homens? Ou seduzia e era seduzida para sentir-se especial ou desejada? Amada já era pelo marido e isso só a fazia despreza-lo. Quanto mais insatisfeita, mais investia nos objetos que surgiam (homens, dinheiro, roupas), mais se sentia insatisfeita e mais acumulava dividas.

A personagem através de suas buscas ambiciosas em relação ao marido,  e aventuras amorosas perde progressivamente o sentido da realidade. Sua perdição culmina quando não tem mais controle de sua vida e de suas dívidas alimentadas por um agiota inescrupuloso. Emma atira-se num pote de arsênico e agoniza até a morte.

O termo bovarismo entrou para o dicionário utilizado para designar “a tendência que certos indivíduos têm de fugir da realidade e imaginar para si uma personalidade e condições de vida que não possuem.”

Enfim, entre traições, amores despedaçados, ódios reprimidos e momentos de alguma dor, "Madame Bovary" coloca-nos perante um universo narrativo denso e sem perspectivas, onde poucos personagens são capazes de gerar a nossa simpatia. Claude Chabrol não tem contemplações para com a sua protagonista. É um filme emocionalmente violento, que apresenta lados mais negros da humanidade, nem tem tréguas para com os seus personagens.

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Atriz Isabelle Huppert

 
FICHA TÉCNICA:

Produtor: Marin Karmitz
Diretor: Claude Chabrol
Roteiro: Claude Chabrol, baseado no romance de Gustave Flaubert
Fotografia: Jean Rabier
Direção de arte: Michele Abbé-Vannier
Indicação ao Oscar de Melhor figurino.
Indicação ao Globo de Ouro de Melhor filme estrangeiro
Melhor Atriz (Isabelle Huppert) no Festival de Cinema de Moscou


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PAULA ADRIANA NEVES COUTO
PSICANALISTA
paulaadriana.couto@gmail.com
tel: (11) 9 7656-7297
Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo


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