terça-feira, 22 de março de 2016

Minha leitura: Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)



Minha leitura: Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)



“Em minha conferência anterior, expressei o desejo de que nosso trabalho pudesse prosseguir com base não em nossas dúvidas, mas sim em nossas descobertas.”
“A construção de um sintoma é o substituto de alguma outra coisa que não aconteceu.”
S. Freud

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Na conferência anterior “ O Sentido dos Sintomas”, Freud apresentou dois casos de pacientes neuróticas obsessivas, as quais apresentavam rituais que tomavam grande parte de sua rotina. Algo exaustivo, que provocava sofrimento, mas que não se conseguia abrir mão. Duas mulheres enclausuradas em sua doença psíquica. Elas pareciam fixadas em algum ponto de sua vida. A partir de determinada marca traumática deixaram de viver a vida e passaram a repetir o sintoma. Interessante que na conferência: Fixação em traumas – o inconsciente, Freud demonstra que o inconsciente exerce grande influência na vida psíquica, noções como singularidade e realidade psíquica permeiam o texto. Ao mesmo tempo Freud traz o tempo (passado-presente-futuro) articulado à ideia de  fixação em traumas que faz com que o sujeito passe o tempo parado nele. Duas mulheres “presas no tempo”:

Primeiro caso: A mulher e o ritual da noite de núpcias:

“O que havia lançado destino sobre nossa primeira paciente era o casamento que ela, na vida real, havia abandonado. Por meio de seus sintomas, continuava a manter seu relacionamento com o marido. Pudemos compreender seus anseios que imploravam por ele, que o desculpavam que o colocavam num pedestal, e que lamentavam a perda dele. Embora fosse jovem e desejável para outros homens, havia tomado todas as precauções, reais e imaginárias (mágicas), para permanecer fiel a ele. Não se mostrava a estranhos e negligenciava sua aparência pessoal; ademais, sempre que se sentava numa cadeira, era incapaz de levantar-se rapidamente, recusava-se a assinar seu nome e não podia dar nenhum presente, com fundamento na suposição de que dela ninguém devia receber nada.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

Segundo caso: A jovem e o seu “estranho” ritual de dormir:

“O mesmo efeito se produzia na vida de nossa segunda paciente, a jovem, por meio de uma ligação erótica com seu pai iniciada nos anos anteriores à puberdade. A conclusão que ela mesma tirou foi não poder casar-se enquanto estivesse tão doente. Entretanto suspeitamos que ficara assim tão doente para não ter de casar e para permanecer com o pai.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

“Em cada uma de nossas pacientes, a análise nos mostra que elas foram conduzidas de volta a um determinado período do seu passado, através dos sintomas de sua doença, ou pelas consequências desses sintomas. Na maior parte dos casos, com efeito, escolheu-se, para este fim, uma fase muito precoce da vida – um período de sua infância ou, até mesmo, por mais que isso pareça risível, um período de sua existência como criança de peito.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

Freud  citou  as neuroses traumáticas: de guerras ou de eventos (batidas de trem, ou assalto), onde os pacientes retornavam imaginariamente ao exato momento do evento traumático. Tanto nas neuroses espontâneas como nas traumáticas havia a fixação em uma determinada cena, e posteriormente a repetição do evento supostamente traumático. Na neurose traumática a repetição do evento se dava pelos sonhos (Nota de rodapé: este ponto especial desempenhou seu papel na primeira exposição de Freud sobre a “compulsão a repetição”, alguns anos mais tarde. Ver Além do princípio do prazer em 1920).

O paciente através de sua produção inconsciente (sonhos)  era transportado ao exato momento da “situação traumática”, nem um pouco antes para poder evitá-la, e nem depois para se sentir aliviada com o final. Por que o sujeito reproduzia justamente a parte mais sofrida da situação traumática? No intuito de reviver? Ou na tentativa de dominar a cena?
Segundo Freud a fixação e a repetição do traumático estariam relacionadas ao aspecto econômico do aparelho psíquico. Uma determinada experiência, que causaria no sujeito a intensificação da energia, e a dificuldade na elaboração deste quantum energético. O efeito disso no aparelho psíquico: uma poderosa excitação. Resultando no sujeito, perturbações permanentes em relação à energia.  O aparelho psíquico trabalharia no sentido de manter a tensão psíquica no mais baixo possível, esta carga de tensão que excederia seria enviada e armazenada no inconsciente, entretanto mesmo em outra instância, essa excitação da carga se manteria pressionando a advir. Isso causaria a neurose?
 “(...) No segundo caso – o da jovem com uma fixação em seu pai – já nos mostra que a fórmula não proporciona compreensão suficiente. Por um lado, uma menininha estar de tal forma apaixonada por seu pai é algo tão comum e tão frequentemente superado, que o termo “traumático” aplicado a este fato, perderia todo o seu significado; e, por outro lado, a história da paciente demonstrou-nos que numa primeira instância, sua fixação erótica parecia haver-se dissipado sem causar qualquer dano, e foram somente alguns anos mais tarde que reapareceram nos sintomas da neurose obsessiva.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

A neurose obsessiva e a desconexão entre evento traumático e ato obsessivo:

"Por mais que a paciente repetisse seu ato obsessivo, não sabia que este derivava da experiência porque havia passado. A conexão entre o ato e a experiência estava oculta para ela, apenas podia muito fielmente, responder que não conhecia aquilo que a fazia executar seu ato.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

Somente no decorrer do tratamento que a paciente fez a conexão entre o passado (experiência) e presente (ato obsessivo). “O elo entre a cena após sua infeliz noite de núpcias e o motivo afetuoso da paciente constituíram, tomados em conjunto, o que temos chamado de “sentido” do ato obsessivo. Mas, enquanto executava o ato obsessivo, este sentido lhe tinha sido desconhecido em ambas as direções – tanto o porquê como o para quê. Os processos psíquicos, portanto, tinham estado em operação dentro dela e o ato obsessivo era o efeito deles; ela se apercebia deste efeito num estado mental normal, porém nenhum dos predeterminantes deste efeito vieram ao conhecimento da sua consciência.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

Freud no texto fez uma analogia entre essa “desconexão” presente na neurose obsessiva, e o estado hipnótico provocado por Dr. Bernhein,(médico que trabalhava com métodos de hipnose). No hospital sob o comando do médico, as pacientes ainda hipnotizadas recebiam a ordem que ao acordarem deveriam abrir o guarda-chuva; Quando acordadas obedeciam exatamente à ordem, entretanto não se lembravam da solicitação e o ato de abrir o guarda-chuva parecia desconexo e perdido no tempo.
Nos dois casos apresentados por Freud verificou-se que as pacientes nada sabiam do sentido dos seus sintomas. A medida que a análise transcorreu percebeu-se que esses sintomas constituíam derivados de processos inconscientes, justamente por isso esses derivados inconscientes quando surgiam a consciência geravam a sensação de estranheza.

Um sintoma foi construído porque algo não aconteceu. Algum processo deveria ter evoluído, mas foi interrompido e por isso a consciência deixou de receber alguma informação criando-se uma lacuna na consciência. No inconsciente este elemento permaneceu armazenado e o sintoma emergiu, como algo semelhante a uma troca.

“Nossa terapia age transformando aquilo que é inconsciente em consciente, e age apenas na medida que tem condições de efetuar essas transformação.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)
Sempre haverá algo inconsciente, não existe somente uma interpretação, existe a sobredeterminação.
Ignorância neurótica sobre o sintoma:

“Devo fazer agora, rapidamente, uma breve digressão, a fim de evitar o risco de os senhores  imaginarem que este trabalho terapêutico seja realizado com muita facilidade. Daquilo que lhes disse até aqui, uma neurose poderia resultar de uma espécie de ignorância – um não saber acerca de acontecimentos mentais de que se deveria saber. Isto seria uma aproximação mais efetiva a algumas conhecidas doutrinas socráticas, segundo as quais até mesmo os vícios  se baseiam na ignorância.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

O Saber sobre o sentido do sintoma retiraria o neurótico desta imposição a si?
Numa análise, o saber está do lado do analisando. Uma mesma experiência é vivida de maneira particular por cada um. Noção de Singularidade e  realidade é psíquica. É muito interessante observar numa análise, como as relações vão se modificando, a mesma história apresenta várias perspectivas. A ignorância do neurótico não é de falta de informação, mas sim de outra coisa.

Afinal, como o analista trabalha com a  “ignorância neurótica” ?

“Saber nem sempre é a mesma coisa que saber: existem diferentes formas de saber, e que estão longe de serem psicologicamente equivalentes.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

"O paciente sabe, depois disso, aquilo que antes não sabia – o sentido de seus sintomas; porém tanto quanto sabia. Com isso aprendemos que existe mais de uma espécie de ignorância. Necessitaremos ter uma compreensão mais profunda da psicologia, para que esta nos mostre em que consistem essas diferenças. Malgrado isso, continua, porém  verdadeira a nossa tese segundo a qual os sintomas desaparecem quando seu sentido se torna conhecido.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

Sobre o tratamento psicanalítico (1916-1917)

“(...) a tarefa do tratamento psicanalítico pode ser expressa nesta fórmula: sua tarefa consiste em tornar consciente tudo o que é patogenicamente inconsciente.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)
“(...) sua tarefa consiste em preencher todas as lacunas da memória do paciente, em remover as amnésias. O que corresponderia à mesma coisa. Com isso queremos dizer que as amnésias dos pacientes neuróticos possuem importante conexão com a origem de seus sintomas.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

O que Freud quis dizer com amnésias ou esquecimento articulado a formação dos sintomas se nos casos dos dois exemplos citados por ele, as pacientes tinham lembranças dos supostos eventos traumáticos que propiciaram os atos obsessivos?

As pacientes de Freud a princípio não faziam a conexão entre os eventos traumáticos e os atos obsessivos, pareciam que tinha havido ruptura na conexão entre esses dois tempos (cena vivida e momento do ato obsessivo), fazendo com a cena fosse repetida. “A única coisa que podemos considerar surpreendente é que a primeira paciente, ao realizar seu ato obsessivo em inúmeras ocasiões, nem uma vez sequer percebeu sua semelhança com a experiência da noite de núpcias, e que a lembrança respectiva não lhe ocorresse quando se lhe faziam perguntas diretas no sentido de encontrar os motivos do seu ato obsessivo.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)

Freud abordou a diferença do uso da memória no neurótico obsessivo e na histeria. Enquanto na Neurose obsessiva aparentemente não havia perda de memória, mas sim  desconexão entre cena traumática  e  repetição do evento (ato obsessivo) Na histeria a  amnésia em si já é o sintoma, com uma perda de memória desde o infantil. Nas palavras de Freud: “Ao analisar o sintoma, a histérica isoladamente descobre-se geralmente, toda uma sequência de impressão de eventos que, quando tornam a emergir, são descritos explicitamente pelo paciente como tendo sido esquecidos até então. Por outro lado, essa sequência remonta aos primeiros anos de vida, de forma que a amnésia histérica pode ser reconhecida como continuação imediata da amnésia infantil (...)”Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917

O uso da memória e o sentido do sintoma.

Parece que o uso da  memória depende dos aspectos inconscientes, assim como o sentido dos sintomas (“de onde”, “para que” e “finalidade”) e a memória utilizada à manutenção da realidade psíquica. Enfim,  os aspectos inconscientes exercem grande parte da influência no aparelho psíquico.  
Sobre a ênfase do inconsciente no aparelho psíquico e as posições contrárias a psicanálise, Freud diz:
“Ao enfatizar desta maneira o inconsciente na vida psíquica, contudo, conjuramos a maior parte dos maus espíritos da crítica contrária a psicanálise. Não se surpreendam com isso e não suponham que a resistência contra nós se baseia tão somente na compreensível dificuldade que constitui o inconsciente ou na relativa inacessibilidade das experiências que proporcionam provas do mesmo. A origem dessa resistência, segundo penso, situa-se em algo mais profundo. No transcorrer dos séculos, o ingênuo amor-próprio dos homens teve de submeter-se a dois grandes golpes desferidos pela ciência. O primeiro foi quando souberam que a nossa terra não era o centro do universo, mas o diminuto fragmento de um sistema cósmico de uma vastidão que mal se pode imaginar. Isto estabelece conexão, em nossas mentes, com o nome de Copérnico, embora algo semelhante já tivesse sido afirmado pela ciência de Alexandria. O segundo golpe foi dado quando a investigação biológica destruiu o lugar supostamente privilegiado do homem na criação, e provou sua descendência do reino animal e sua inextirpável natureza animal. Esta nova avaliação foi realizada em nossos dias, por Darwin, Wallace e seus predecessores, embora não sem a mais violenta oposição contemporânea. Mas a megalomania humana terá sofrido seu terceiro golpe, o mais violento, a partir da pesquisa psicológica da época atual, que procura provar ao ego que ele não é o senhor nem mesmo em sua própria casa, devendo, porém, contentar-se com escassas informações acerca do que acontece inconscientemente em sua mente. Os psicanalistas não foram os primeiros e nem os únicos que fizeram essa invocação à introspeção; todavia, parece ser nosso destino conferir-lhe expressão mais vigorosa e apoia-la como material empírico que é encontrado em todas as pessoas. Em consequência, surge a revolta geral contra nossa ciência, o desrespeito a todas considerações de civilidade acadêmica e a oposição se desvencilha de todas as barreiras da lógica imparcial. E ademais de tudo isso, perturbamos a paz deste mundo também de uma outra forma, conforme em breve os senhores ouvirão.” Fixação em Traumas – O inconsciente: S. Freud. Conferência XVIII (1916-1917)



PAULA ADRIANA NEVES COUTO
PSICANALISTA
paulaadriana.couto@gmail.com
tel: (11) 9 7656-7297
Consultório: Av. Leôncio de Magalhães, 1138 - Jdim São Paulo

Próximo  ao Metrô Jdim São Paulo





sexta-feira, 11 de março de 2016

Minha leitura: O Sentido dos sintomas. S. Freud. Conferência XVII (1916-1917)

  “toda descoberta é feita mais de uma vez.”
“Nem sempre o sucesso acompanha o mérito”
S. Freud


O sintoma (retorno do recalcado) é essencial em psicanálise, pois coloca em ação o inconsciente. Os sintomas tem sentido e estão relacionados às experiências do paciente. O mais intrigante é que são os próprios sujeitos que os produzem inconscientemente.  Mesmo as ideias delirantes dos insanos tem sentido, basta encontrar a maneira de traduzir.

Como pensar a questão do sentido do sintoma? Como algo da narrativa que faz a conexão entre passado e presente? Eu havia pensando no sentido do sintoma, como a coerência que determinados traços aparecem e reaparecem no decorrer do tempo e que são baseados na experiência humana. A coerência está na repetição destes traços. A  partir desta perspectiva é possível encontrar sentido nos sonhos e nos delírios, pois estes,  nem sempre se  apresentam coerentes como um todo, mas se pensarmos parte a parte apresentam sentido.  

Para abordar o sentido dos sintomas nesta conferência, Freud escolheu dois exemplos da neurose obsessiva:  “Essa  neurose, conhecida como neurose obsessiva, não é tão comum  como a universalmente conhecida histeria. Não é, se assim posso expressar-me, tão indiscretamente ruidosa; comporta-se mais como um assunto particular do paciente, prescinde quase que completamente dos fenômenos somáticos e cria todos os sintomas da esfera mental.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)

O paciente se ocupa de pensamentos que realmente não está interessado, que não apresentam significação. O sujeito se sente  exausto e atormentado por esses pensamentos. Entrega-se contra a sua vontade, como se fossem a coisa mais importante de sua vida.  Existem impulsos dentre de si que  parecem estranhos, mas que o sujeito não consegue abrir mão, são ações repetitivas  aparentemente sem sentido e sem satisfação alguma em sua execução ou finalização.

Por vezes nesses pensamentos ou atos repetitivos aparecem alguns conteúdos assustadores tentando o sujeito a cometer graves crimes, fazendo-o recorrer a recriminações, proibições, renúncias e restrições. Parece que todos esses conteúdos assustadores são construídos com o objetivo  de autoflagelação ou auto recriminação. A presença da dúvida é outra característica da neurose obsessiva, levando o sujeito à procrastinação e mantendo-o paralisado em seus pensamentos e atos obsessivos.

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Caso 1 (descrito por Freud nesta conferência):

Mulher de cerca de trinta anos de idade, que apresenta sintomas graves que a mantinha afastada de suas atividades, presa às próprias ideias absurdas, e atos obsessivos.

Atos obsessivos:  ela corria de seu quarto a  outro quarto, em seguida parava em determinada posição,  e soava a campainha chamando a empregada. Dava-lhe algum recado, e em seguida dispensava-a. Logo depois corria de volta a primeira posição. (Repetia este ato ao longo do dia).
Quando questionada pelo analista sobre seus atos "absurdos". A mulher não sabia responder. Só conseguiu explicar seu ato, após o analista ter conseguido invalidar uma de suas dúvidas muito importante e fundamental. Após isso a mulher falou ao analista sobre a suposta conexão entre o ato obsessivo e sua história de casamento.

Há dez anos esteve casada com um homem, muito mais velho do que ela, e na noite de núpcias,  ele ficara impotente. Durante a noite de núpcias este homem voltou correndo ao seu quarto para novamente tentar manter a relação sexual com a mulher, mas não conseguiu.

Após a tentativa, este homem disse a mulher: - “Eu devia sentir-me envergonhado perante a empregada, quando ela arrumar a cama.” Pegou uma garrafa de tinta vermelha e derramou seu conteúdo no lençol.

Qual a conexão entre o sintoma e a cena vivida pela paciente com o marido? Freud diz:
“Num primeiro momento, não pude atinar com a relação entre esta lembrança e o ato obsessivo em exame; a única semelhança que pude encontrar foi no ato de correr de um quarto para o outro e, talvez, na vinda da empregada. Minha paciente então levou-me até a mesa, no segundo quarto, e mostrou-me uma grande mancha na toalha. Depois, explicou que assumia sua posição em relação à mesa de maneira tal que a empregada, ao ser dispensada de sua presença, não podia deixar de ver a mancha. Já não podia haver qualquer dúvida sobre a intima conexão entre a cena de sua noite de núpcias e o ato obsessivo atual, embora ficassem por ser esclarecidas muitas outras coisas.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)

Conexões possíveis no caso 1 entre a cena da noite de nupcias e ato obsessivo:

  • presença da paciente estrategicamente situada  de maneira que a empregada não deixasse de ver a mancha na toalha de mesa.
  • A paciente executando o papel do marido (identificação), mas também, protegendo-o do olhar da empregada sob o vexame de ser impotente na noite de núpcias.
Nestas conexões feitas pela paciente podemos pensar a questão do "sentido" dos sintomas sob pelo menos duas perspectivas:
  • O ato obsessivo   representa  a cena importante e traumática, onde a mulher através dos atos obsessivos conseguia “consertá-la” como um todo.
  • Por outro lado, neste mesmo ato obsessivo, os elementos da cena traumática se repetiam,  tais como: empregada, ato de correr e a mancha . 
  • Segundo Freud, esta representação funcionaria também, como um desejo sendo satisfeito numa ação da época atual, como se aquilo de ruim  não tivesse acontecido: “Não, não é verdade. Ele não tinha porque sentir-se envergonhado perante a empregada; ele não ficou impotente.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)
  • "A mulher estivera separada de seu marido, durante anos, e estava debatendo-se com a intenção de obter divórcio legal. Contudo, não havia como livrar-se dele, ela era forçada a permanecer fiel a ele; retirou-se do mundo para não ser tentada; em sua imaginação, desculpava-o e engrandecia as qualidades dele. Na verdade, o mais profundo segredo de sua doença consistia em que, através desta doença protegia seu marido de comentários maldosos, justificava-se por estar separada dele e possibilitava-lhe levar uma vida separada cômoda.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)


Enfim, os sintomas apresentam grande serventia ao psiquismo, e por isso é tão difícil abrir mão dele. 

Alguns dados que Freud insere sobre estes atos/sintomas:

  • A interpretação do sintoma foi feito em parte pela própria paciente, a partir das interpretações iniciais do analista.(isso se modifica no decorrer da obra de Freud)
  • Esse sintoma foi constituído quando a paciente já era adulta? Ou como uma revivência de algo esquecido na infância? Não há esta informação no texto, até porque foi um caso atendido brevemente por Freud.
  •  A cena traumática é de conteúdo sexual. Os traços que se repetem trazem de volta esse sentido.
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Caso 2 (descrito por Freud nesta conferência):

Jovem de 19 anos, solteira e filha única. Quando criança era alegre e decidida. No decorrer dos últimos anos havia se transformado numa mulher irritável, insatisfeita e deprimida.
Sintoma apresentado: Indecisão e dúvidas paralisantes. A jovem não conseguia caminhar livremente por praças e ruas largas. Ela mantinha um ritual inflexível para dormir levadas as últimas consequências, a fim de que fosse executado:

  • Necessitava de silêncio para dormir, qualquer ruído deveria ser abolido para tanto duas coisas eram feitas: parava o grande relógio que havia em seu quarto, e todos os outros relógios eram removidos do quarto.  Os vasos de flores eram agrupados na escrivaninha para que não caíssem e quebrassem durante a noite e perturbassem o seu sono.
  • A porta do seu e do quarto dos pais deveriam permanecer entreabertas, para isso a jovem colocava uma série de objetos como obstáculos.
  • Seu travesseiro não poderia tocar o encosto de madeira da cabeceira. Haveria ainda outro travesseiro menor  que  repousava sob  o travesseiro grande, numa determinada posição específica, na forma de um diamante, sendo que  a parte inferior do travesseiro menor deveria ficar mais volumosa.

Todo este ritual  repleto de detalhes era acompanhado de sofrimento e apreensão, pois tudo tinha que ser verificado repetidamente. As dúvidas surgiam  a todo momento em relação a execução do ritual. Eram mais de três horas de trabalho árduo para a jovem dormir. Enfim, por que essa jovem produzira como sintoma algo tão exaustivo e árduo? Qual o sentido disto?

Segundo Freud, neste segundo caso o sentido do sintoma parecia estar mais obscuro. Ele propunha interpretações, as quais a jovem refutava imediatamente, entretanto em algum momento isso se modificou, a jovem começou a se ocupar das hipóteses apresentadas sobre o sentido dos sintomas. (O que leva essa jovem a mudar de posição? De não querer saber à posição de querer saber sobre o seu mal estar.) A jovem trazia recordações, fazia novas associações e construía hipóteses  e conexões a partir das interpretações de Freud.

“À medida que isso aconteceu, ela abrandou a execução de suas medidas obsessivas, e antes mesmo do fim do tratamento, havia abandonado por completo o ritual.  Os senhores devem entender também que o trabalho analítico, tal como o efetuamos hoje em dia, praticamente exclui o tratamento sistemático de qualquer sintoma isolado até ser inteiramente elucidado. Pelo contrário, vemo-nos obrigados a abandonar repetidamente um determinado tema, na expectativa  certa de retornar a ele novamente, em outros contextos. A interpretação de seus sintomas, que estou por mostrar-lhes, é, em consonância com isto, uma síntese de achados que foram surgindo, interrompidos por outro trabalho, durante um período de semana e meses.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)

Conexões descobertas gradualmente no decorrer da análise:

O ritual de retirada dos ponteiros dos relógios e os símbolos genitais femininos:Tempo do relógio e o tempo da mulher: as regras menstruais ocorrem uma vez por mês, a período de gestação, enfim, a vida da mulher é marcada pelo tempo.   A sensação do tique taque do relógio que atrapalhava seu sono, relacionava-se também a sensação de tique-taque presente nas excitações genitais do clitóris.

O ritual de cuidado com  os vasos de flores, para que esses não se quebrassem e o ritual de quebra dos vasos que os homens executavam no momento que iriam se casar. A jovem se lembrou do medo de não sangrar quando perdesse a virgindade.

Os  rituais do uso de travesseiros e o desejo da jovem de que os pais não dormissem juntos para não manterem relações sexuais. Segundo Freud:  “Anos antes, em época anterior ao estabelecimento do ritual, havia procurado atingir o mesmo objetivo, de maneira mais direta. Havia simulado medo (ou explorado uma tendência ao medo que já se encontrava presente), a fim de que as portas comunicantes entre o quarto dos pais e seu quarto de criança não ficassem fechadas. Essa regra, com efeito, tinha sido mantida em seu ritual atual. Desta forma, deu-se a si mesma a oportunidade de ficar escutando seus pais; entretanto, ao utiliza-la, desenvolveu uma insônia que durou meses. Não satisfeita com perturbar os pais por este meio, conseguiu que lhe permitissem dormir, de tempos em tempos, na cama dos pais, entre eles.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)

Parte dos rituais construídos inconscientemente por esta jovem era um aperfeiçoamento do que ela já fazia quando criança.  Dormia junto aos pais quando pequena e depois por conta de sua ansiedade, a mãe cedeu seu lugar a garota. Isso funcionando como ponto de partida a suas fantasias e posteriormente a construção inconsciente dos rituais. Essa jovem tinha excitações sexuais em seu corpo na presença do pai, ao mesmo tempo tinha certo terror disto; Ela não queria que seus pais mantivessem relações sexuais, pois não desejava ter novos irmãos e teria que dividir o espaço;  mas também porque a mãe havia cedido seu lugar a ela.

Freud diz sobre o sentido sexual presente nos sintomas da jovem: “Pensamentos muito dissolutos, dirão os senhores, para estarem passando na cabeça de uma jovem solteira. Admito que sim. Mas, não devem esquecer-se de que não criei essas coisas, apenas interpretei-as*. Um ritual de dormir igual a esse também é algo estranho, e os senhores não deixarão de constatar como o ritual corresponde às fantasias reveladas pela interpretação**. Atribuo, todavia, maior importância ao fato de notarem que, no ritual, o que se verificou não foi o resultado de uma única fantasia, mas de diversas, embora tivessem um ponto nodal em alguma parte***, e ademais, que as regras estabelecidas pelo ritual reproduziam os desejos sexuais da paciente, num ponto positivamente, e noutro, negativamente – em parte representavam desejos e em parte serviam de defesa contra os mesmos.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)

Este parágrafo é fundamental para construir um saber sobre os sentidos do sintoma e acho importante tentar elaborar ponto a ponto:

* “(...)Mas, não devem esquecer-se de que não criei essas coisa apenas interpretei-as
Neste momento da teoria e do manejo na clínica psicanalítica, parece que o analista frente a um enigma que o sintoma fornece de alguma forma, traz ao analisante interpretações (sugestões de significação?), as quais poderiam ser aceitas ou refutadas.  Sendo assim, muitas destas sobredeterminações  advindas do ritual da jovem poderiam ser fruto da imaginação de Freud, não necessariamente uma construção das associações ou conexões  da analisante.
**(...)Um ritual de dormir igual a esse também é algo estranho, e os senhores não deixarão de constatar como o ritual corresponde às fantasias reveladas pela interpretação.”
O que Freud quis dizer como “estranho”? Nota de rodapé:  um ritual de dormir quase tão em elaborado havia sido relatado por Freud, muito tempo antes, em seu segundo trabalho sobre neuropsicoses de defesa. (1896)  . Trata-se de um ritual de dormir rico em elementos  e que parece que diz algo por si.
A partir das interpretações de Freud, a jovem fez associações e conexões de épocas  anteriores, chegando a fantasias dos tempos da infância, período em que dormia com seus pais e, a mãe cedia o lugar a ela.
***(...)Atribuo, todavia, maior importância ao fato de notarem que, no ritual, o que se verificou não foi o resultado de uma única fantasia, mas de diversas, embora tivessem um ponto nodal em alguma parte (...)
O que Freud chama de fantasia?
Existem vários sentidos envolvidos em cada uma dos elementos presentes num determinado ritual. Cada uma das partes, diz algo do sujeito. Importante não pensar o sentido como algo generalizado, ou como um todo. É importante analisar cada elemento e suas diversas conexões. Sobredeterminação.
A fantasia nodal diz respeito a algo sexual vivido intensamente na infância.  Excitação no corpo?  
Outras fantasias: a possibilidade de conseguir que os pais não mantenham relações sexuais. A fantasia de que a mãe cedeu seu lugar à filha.
 ****“(...) e ademais, que as regras estabelecidas pelo ritual reproduziam os desejos sexuais da paciente, num ponto positivamente, e noutro, negativamente – em parte representavam desejos e em parte serviam de defesa contra os  mesmos.”
Esses rituais representavam o desejo sexual da jovem, e suas excitações sexuais,  onde estão em cena o pai e a mãe. A defesa que Freud cita é o conflito psíquico entre duas instâncias: de um lado a excitação sexual e de outro a imposição moral e consequentemente a construção da auto recriminação, autoflagelação deslocada aos rituais. 

“Os senhores devem contentar-se com um indício de que a jovem estava dominada por uma ligação erótica com seu pai, ligação cujos começos remontavam à sua infância. Talvez fosse por isso que ela se portava de forma tão inamistosa com sua mãe. E não podemos deixar de atentar para o fato de que a análise deste sintoma nos levou de volta, mais uma vez , a vida sexual de um paciente. Talvez nos surpreendêssemos menos com isso, à medida que mais frequentemente  compreendermos o sentido e a intenção dos sintomas neuróticos.” S. Freud. Conferência XVII: O Sentido dos sintomas (1916-1917)

A tarefa do analista neste momento (1916-1917) seria encontrar a conexão entre o sintoma(rituais, atos obsessivos) e a experiência vivida, e relatá-la ao paciente. A partir disso ela faria suas próprias conexões. Parece que o paciente num primeiro momento ignora esta conexão entre dois tempos. À medida que o trabalho analítico transcorre o paciente se interessa pelo sintoma não como algo que lhe faz mal ou como algo que lhe causa estranheza, mas como algo que o intriga, que o faz querer saber disso e fazendo a conexão entre passado e presente. Quando eram feitas estas conexão entre passado e presente os  sintomas desapareciam?
 Segundo Freud, existiriam sintomas típicos a qualquer psiquismo, que caracterizariam determinada neurose e por outro lado sintomas que demonstrariam a singularidade de cada um, relacionados intimamente a experiência do sujeito. 

Neste momento da teoria psicanalítica são os sintomas típicos que ajudavam a construir a hipótese diagnóstica. Talvez essa questão apontada por Freud sobre sintoma típico e hipótese diagnóstica fosse herança do trabalho de Freud como médico. Em psicanálise a ideia proeminente é ouvir o sujeito em análise e o sintoma como algo que diz deste sujeito. A hipótese diagnóstica é muito importante, principalmente na diferenciação entre as estruturas: neurótica-psicótica-perversa, pois o trabalho do analista se diferencia em cada uma dessas estruturas.



PAULA ADRIANA NEVES COUTO
PSICANALISTA
paulaadriana.couto@gmail.com
tel: (11) 9 7656-7297
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quarta-feira, 2 de março de 2016

Minha Leitura do filme: Madame Bovary (1991)


Nesta semana assisti ao filme: “Madame Bovary” (1991), adaptação da clássica obra literária de Gustave Flaubert. Filme excelente que aborda a singularidade dos investimentos amorosos. Muitas vezes a última coisa que se busca numa relação amorosa ou nos investimentos amorosos  é o amor. 

Madame Bovary retrata essa questão de maneira exemplar.
Resolvi também escrever sobre este filme porque o achei extremamente atual e emblemático. Hoje em dia vivemos um tempo onde paira uma insatisfação geral.  As relações estão  cada dia mais superficiais e “interesseiras” e  parece que  Madame Bovary se relaciona desta maneira,  com todos que a cerca.

Outro ponto que me intrigou bastante neste filme foi justamente o fato de Emma não se perguntar sobre o que deseja ou não deseja. Ela segue o fluxo, sem responsabilidade,  a fim de conquistar algo que talvez nem queira de fato.  Desloca-se de objeto em objeto, sem algo que realmente chame sua atenção. 

O marido de Emma por sua vez parece adormecido, na posição de amado, “cego de amor". Seus gestos giram em torno de  Tentar realizar o que supõe que Emma deseja. Qual mulher esse homem ama? A quem Emma ama? O que desejam?

Este filme ilustra um viés das relações amorosas  que quase ninguém deseja ver, mas que estão ai nas relações:
  • Nem sempre o que pedimos é o que realmente queremos, aliás, geralmente pedimos o avesso daquilo que queremos.
  • Por trás de nossos apelos existem tantos outros pedidos, que não são claros nem mesmo para cada um de nós. 
  • Nossas insatisfações são inerentes a nossa humanidade, não existindo um objeto (amoroso ou não) que nos satisfaça completamente. 

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“MADAME BOVARY” (1991)








Emma é uma jovem romântica e sonhadora, que vive no interior da França no Século 19. Um dia o Dr. Charles Bovary vai à fazenda da família para cuidar do pai de Emma. À medida que o médico cuida do pai interessa-se pela jovem, e Emma parece que vê neste homem uma oportunidade de tirá-la do tédio ao qual se encontra. Ao pai de Emma uma oportunidade de casamento para a filha e assim ocorre, Emma  casa-se com Charles Bovary. Interessante como  cada um deseja neste casamento coisa diferente: o pai um destino para a filha. Charles Bovary deseja  amar e ser amado e Emma deseja sanar suas insatisfações advindas de suas idealizações.

Dr. Charles Bovary  é um médico de província, sem grandes ambições,  mas cheio de boas intenções. Como satisfazer uma mulher insatisfeita? Como supor o querer da outra pessoa?  Emma descobre que, apesar da dedicação do marido, o casamento não é como havia idealizado. A impressão que dá é que quanto mais o marido tenta satisfazer as vontades de Emma, mais ela se afasta dele.

Enquanto o marido busca no casamento ser amado por essa mulher. Emma parece que se desencontrou a partir do casamento. Emma queria ser retirada do tédio de ser mulher, numa época onde à elas cabia apenas satisfazer os desejos do marido, cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos quando viessem. Emma não sabia o que queria, mas sabia que não queria estar naquele lugar, cumprindo as tarefas que lhe eram reservadas: cuidar do marido e filha, aliás, com a menina mantinha uma relação de desprezo. Emma na realidade parecia sonhar em conquistar a evidência social através do marido médico para compensar uma existência medíocre.

O casal é convidado a participar de um baile na província em que residem. Ali naquele baile Emma percebe os olhares de outros homens a ela. Este baile deflagra nesta mulher a ambição de estar em outra posição, mais rica e poderosa, mas também de ser desejada por outros homens. Ela descobre que pode ir além e encontrar a vida de brilho que idealizou. Só que Emma conquistaria suas ambições através do crescimento profissional e da visibilidade do marido enquanto médico, como também através da sedução de outros homens. Engano de Emma: como transmitir suas ambições ao marido simples, medíocre e satisfeito de sua posição?

Será que Emma realmente se interessava por outros homens? Ou seduzia e era seduzida para sentir-se especial ou desejada? Amada já era pelo marido e isso só a fazia despreza-lo. Quanto mais insatisfeita, mais investia nos objetos que surgiam (homens, dinheiro, roupas), mais se sentia insatisfeita e mais acumulava dividas.

A personagem através de suas buscas ambiciosas em relação ao marido,  e aventuras amorosas perde progressivamente o sentido da realidade. Sua perdição culmina quando não tem mais controle de sua vida e de suas dívidas alimentadas por um agiota inescrupuloso. Emma atira-se num pote de arsênico e agoniza até a morte.

O termo bovarismo entrou para o dicionário utilizado para designar “a tendência que certos indivíduos têm de fugir da realidade e imaginar para si uma personalidade e condições de vida que não possuem.”

Enfim, entre traições, amores despedaçados, ódios reprimidos e momentos de alguma dor, "Madame Bovary" coloca-nos perante um universo narrativo denso e sem perspectivas, onde poucos personagens são capazes de gerar a nossa simpatia. Claude Chabrol não tem contemplações para com a sua protagonista. É um filme emocionalmente violento, que apresenta lados mais negros da humanidade, nem tem tréguas para com os seus personagens.

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Atriz Isabelle Huppert

 
FICHA TÉCNICA:

Produtor: Marin Karmitz
Diretor: Claude Chabrol
Roteiro: Claude Chabrol, baseado no romance de Gustave Flaubert
Fotografia: Jean Rabier
Direção de arte: Michele Abbé-Vannier
Indicação ao Oscar de Melhor figurino.
Indicação ao Globo de Ouro de Melhor filme estrangeiro
Melhor Atriz (Isabelle Huppert) no Festival de Cinema de Moscou


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PAULA ADRIANA NEVES COUTO
PSICANALISTA
paulaadriana.couto@gmail.com
tel: (11) 9 7656-7297
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