Olá, faço parte de um grupo de psicanalistas e temos como proposta articular psicanálise e educação. Nossa pauta neste momento é a inclusão a partir do tema: DA DIFERENÇA
COMO DÉFICIT À DIFERENÇA COMO SINGULARIDADE.
Nosso
objetivo é, por meio de discussões e interlocuções, promover um olhar
transdisciplinar sobre a questão tão complexa da inclusão escolar.
Com
o intuito de nos conhecermos melhor, psicanalistas e equipe educacional,
oferecemos esse primeiro ciclo sem custo adicional, sendo realizado na própria
escola.
Contate-nos
pelo telefone: 2099-1860 ou 3715-8494 ou pelo e-mail: tecerpsic@gmail.com ou paulaadriana.couto@gmail.com
Inclusão escolar: da diferença como
déficit à diferença como singularidade
Atualmente, vivemos numa sociedade onde a imagem tem lugar
privilegiado. Jamais houve um tempo em que a imagem de beleza, juventude e eficiência
significasse, por si só, excelência; entretanto, não sem conseqüências, também
sofremos de seu inverso: aquele que está fora do padrão é visto como
ineficiente e, na sua diferença, é visto como deficitário.
Nossa sociedade busca um ideal por vezes inatingível, calcado na
imagem de perfeição, e qualquer imagem que difere deste ideal fica sujeita à
segregação. Concomitantemente a essa
ênfase na imagem de perfeição, a ideia da inclusão social é colocada em pauta.
Como acolher ideias contraditórias, como promover a inclusão, quando nossa
própria sociedade exclui a diferença?
Na escola temos representada a sociedade e sua cultura: ela
representa a primeira passagem do universo familiar – espaço privado – para uma
convivência coletiva - espaço público.
Neste contexto, a escola não faz parte da
sociedade, ela é a própria sociedade.
Atualmente a legislação obriga as
escolas a terem professores de ensino regular preparados para ajudar alunos com
necessidades especiais a se integrarem nas classes comuns. Ou seja, uma criança
portadora de deficiência não deve ter de procurar uma escola especializada. Ela
tem direito a cursar instituições comuns, e é dever dos professores elaborar e
aplicar atividades que levem em conta as necessidades específicas de cada uma.
Como pensar a inclusão escolar e o convívio com a diferença numa
sociedade em que se estabelece que “todas as crianças são iguais perante a
lei”? Como sair do impasse entre afirmar que a criança está devidamente
incluída no contexto educacional e, por outro lado, afirmar que faltam recursos
de estrutura e de formação para realizar tal inclusão? Como sair da impotência
que advém da idealização de que todos são iguais? Afinal, o que é inclusão?
Inclusão para quê e para quem?
O conceito de inclusão é baseado no conceito de identidade, ou seja, de um
conjunto de características que determinam particularmente uma pessoa: nome, data de nascimento, sexo, filiação, impressão
digital. Essa identidade limita-se a nomear, classificar, catalogar e qualificar,
e é sustentada em parâmetros de medida do sujeito socialmente construído –
sujeitos “iguais perante à lei”.
Ora, se a sociedade é constituída na identidade,
como pensar a inclusão do diferente dentro dessa igualdade, dessa identidade?
A inclusão, para ser um processo interessante
para todos os envolvidos, não pode ser pensada como um processo que coloca um
diferente dentro de uma organização constituída na identidade, na igualdade.
Se pensarmos a inclusão sob a perspectiva da identidade haverá
apenas integração, uma adaptação da
educação corrente à criança com necessidades especiais, ou seja, normatização
de alguém que supostamente apresenta um déficit. Sob este ponto de vista sempre
haverá uma ruptura entre aquele que apresenta necessidades especiais e aquele que
não apresenta tais necessidades. Como consequência deste ponto de vista - diferença
= déficit - é que a criança com necessidades especiais sempre será vista como aquela que não tem o
que oferecer e que precisa receber
compaixão e solidariedade. Ao passo que a inclusão deve ser vista como um
processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente tendo em vista a
equiparação de oportunidades e, consequentemente, uma sociedade para todos.
Como modificar este olhar construído por tantos anos em relação à
criança com necessidades especiais?
A criança com necessidades
especiais geralmente recebe um olhar de estranhamento, de diferença como déficit desde que
nasce. Se a escola conseguir modificar
esse olhar, independente do conteúdo formal aprendido, a escola fará toda a
diferença na vida da criança.
A instituição escolar, como primeiro representante do espaço
público para a família e para a criança, pode e deve oferecer um espaço no qual
a criança possa se relacionar com os outros, colocando-se ela mesma em outro
lugar, diferente daquele que os pais ou amigos a colocam, favorecendo a
construção de sua subjetividade. É nela que cada criança vai experimentar-se
“diferente”, diante de outras diferenças, e aí, quem sabe, tornar-se “igual” na
diferença.
Como podemos trabalhar nesse sentido? O que a psicanálise tem a
dizer da inclusão escolar e a diferença?
O
olhar da psicanálise sobre o sujeito e as diferenças é importante no trabalho
de inclusão. A diferença de cada um é bem vinda, pois é considerada uma marca,
estilo e singularidade. Nossa escuta se dá a partir de sua diferença, à qual
chamamos de singularidade. E as intervenções, a partir desse olhar e dessa
escuta, é o que permite ao sujeito criar possibilidades de lidar com o
sofrimento e mal estar inerente a vida humana.
Enquanto psicanalistas buscamos a diferença na fala de cada um,
sua singularidade, sua própria palavra. Saímos do campo do indivíduo, da
integração e do todo. Nossa aposta é de que cada um pode construir uma verdade sobre
si a partir do Outro (linguagem, cultura, família) e que há algo a dizer sobre isso.
A exclusão/inclusão é um tema extremamente delicado
socialmente:
·
Quando falamos de exclusão/inclusão lidamos com os nossos próprios
medos e estranhamentos ao ser incluídos ou excluídos;
·
Nosso olhar geralmente é sempre naquilo que falta, ou seja, quando
olhamos alguém com necessidades especiais, percebemos as impossibilidades que
isso causa e não as possibilidades;
·
A inclusão/exclusão envolve os nossos próprios preconceitos,
discriminações e julgamentos.
Discutir esse tema individualmente ou em grupo é uma maneira de
colocar a questão em pauta. A possibilidade de reunir o grupo de educadores, ou
de pais, e de se por a pensar sobre determinada situação nunca é sem efeitos;
abre-se espaço para a circulação da palavra e deslocamentos de representações e
significados A possibilidade de falar da impotência, das dificuldades, nomear a
angústia que essa situação provoca é um modo que permite direcionar manejos e enfrentar
o desafio, porque não há um caminho
previamente estabelecido.
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