quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Proposta de ciclo de discussões: Inclusão escolar: da diferença como déficit à diferença como singularidade.

Olá, faço parte de  um grupo de psicanalistas e temos como proposta  articular psicanálise e educação. Nossa pauta neste momento é a  inclusão a partir do tema: DA DIFERENÇA COMO DÉFICIT À DIFERENÇA COMO SINGULARIDADE.

Nosso objetivo é, por meio de discussões e interlocuções, promover um olhar transdisciplinar sobre a questão tão complexa da inclusão escolar. 

Com o intuito de nos conhecermos melhor, psicanalistas e equipe educacional, oferecemos esse primeiro ciclo sem custo adicional, sendo realizado na própria escola.

Contate-nos pelo telefone: 2099-1860 ou 3715-8494 ou pelo e-mail: tecerpsic@gmail.com ou paulaadriana.couto@gmail.com


Inclusão escolar: da diferença como déficit  à diferença como singularidade

Apresentação

Atualmente, vivemos numa sociedade onde a imagem tem lugar privilegiado. Jamais houve um tempo em que a imagem de beleza, juventude e eficiência significasse, por si só, excelência; entretanto, não sem conseqüências, também sofremos de seu inverso: aquele que está fora do padrão é visto como ineficiente e, na sua diferença, é visto como deficitário.
Nossa sociedade busca um ideal por vezes inatingível, calcado na imagem de perfeição, e qualquer imagem que difere deste ideal fica sujeita à segregação.  Concomitantemente a essa ênfase na imagem de perfeição, a ideia da inclusão social é colocada em pauta. Como acolher ideias contraditórias, como promover a inclusão, quando nossa própria sociedade exclui a diferença?
Na escola temos representada a sociedade e sua cultura: ela representa a primeira passagem do universo familiar – espaço privado – para uma convivência coletiva -  espaço público. Neste contexto, a escola não faz parte da sociedade, ela é a própria sociedade.
Atualmente a legislação obriga as escolas a terem professores de ensino regular preparados para ajudar alunos com necessidades especiais a se integrarem nas classes comuns. Ou seja, uma criança portadora de deficiência não deve ter de procurar uma escola especializada. Ela tem direito a cursar instituições comuns, e é dever dos professores elaborar e aplicar atividades que levem em conta as necessidades específicas de cada uma.
Como pensar a inclusão escolar e o convívio com a diferença numa sociedade em que se estabelece que “todas as crianças são iguais perante a lei”? Como sair do impasse entre afirmar que a criança está devidamente incluída no contexto educacional e, por outro lado, afirmar que faltam recursos de estrutura e de formação para realizar tal inclusão? Como sair da impotência que advém da idealização de que todos são iguais? Afinal, o que é inclusão? Inclusão para quê e para quem?
O conceito de inclusão é baseado no conceito de identidade, ou seja, de um conjunto de características que determinam particularmente uma pessoa: nome, data de nascimento, sexo, filiação, impressão digital. Essa identidade limita-se a nomear, classificar, catalogar e qualificar, e é sustentada em parâmetros de medida do sujeito socialmente construído – sujeitos “iguais perante à lei”.
Ora, se a sociedade é constituída na identidade, como pensar a inclusão do diferente dentro dessa igualdade, dessa identidade?
A inclusão, para ser um processo interessante para todos os envolvidos, não pode ser pensada como um processo que coloca um diferente dentro de uma organização constituída na identidade, na igualdade.
Se pensarmos a inclusão sob a perspectiva da identidade haverá apenas  integração, uma adaptação da educação corrente à criança com necessidades especiais, ou seja, normatização de alguém que supostamente apresenta um déficit. Sob este ponto de vista sempre haverá uma ruptura entre aquele que apresenta necessidades especiais e aquele que não apresenta tais necessidades. Como consequência deste ponto de vista - diferença = déficit - é que a criança com necessidades especiais  sempre será vista como aquela que não tem o que oferecer  e que precisa receber compaixão e solidariedade. Ao passo que a inclusão deve ser vista como um processo pelo qual a sociedade e o portador de deficiência procuram adaptar-se mutuamente tendo em vista a equiparação de oportunidades e, consequentemente, uma sociedade para todos.
Como modificar este olhar construído por tantos anos em relação à criança com necessidades especiais?
 A criança com necessidades especiais geralmente recebe um olhar de estranhamento,  de diferença como déficit desde que nasce.  Se a escola conseguir modificar esse olhar, independente do conteúdo formal aprendido, a escola fará toda a diferença na vida da criança.
A instituição escolar, como primeiro representante do espaço público para a família e para a criança, pode e deve oferecer um espaço no qual a criança possa se relacionar com os outros, colocando-se ela mesma em outro lugar, diferente daquele que os pais ou amigos a colocam, favorecendo a construção de sua subjetividade. É nela que cada criança vai experimentar-se “diferente”, diante de outras diferenças, e aí, quem sabe, tornar-se “igual” na diferença.
Como podemos trabalhar nesse sentido? O que a psicanálise tem a dizer da inclusão escolar e a diferença?
O olhar da psicanálise sobre o sujeito e as diferenças é importante no trabalho de inclusão. A diferença de cada um é bem vinda, pois é considerada uma marca, estilo e singularidade. Nossa escuta se dá a partir de sua diferença, à qual chamamos de singularidade. E as intervenções, a partir desse olhar e dessa escuta, é o que permite ao sujeito criar possibilidades de lidar com o sofrimento e mal estar inerente a vida humana.
Enquanto psicanalistas buscamos a diferença na fala de cada um, sua singularidade, sua própria palavra. Saímos do campo do indivíduo, da integração e do todo. Nossa aposta é de que cada um pode construir uma verdade sobre si a partir do Outro (linguagem, cultura, família)  e que há algo a dizer sobre isso.

A exclusão/inclusão é um tema extremamente delicado socialmente: 

·         Quando falamos de exclusão/inclusão lidamos com os nossos próprios medos e estranhamentos ao ser incluídos ou excluídos; 
·         Nosso olhar geralmente é sempre naquilo que falta, ou seja, quando olhamos alguém com necessidades especiais, percebemos as impossibilidades que isso causa e não as possibilidades;
·         A inclusão/exclusão envolve os nossos próprios preconceitos, discriminações e julgamentos.

Discutir esse tema individualmente ou em grupo é uma maneira de colocar a questão em pauta. A possibilidade de reunir o grupo de educadores, ou de pais, e de se por a pensar sobre determinada situação nunca é sem efeitos; abre-se espaço para a circulação da palavra e deslocamentos de representações e significados A possibilidade de falar da impotência, das dificuldades, nomear a angústia que essa situação provoca é um modo que permite direcionar manejos e enfrentar o desafio,  porque não há um caminho previamente estabelecido.  


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