quinta-feira, 9 de outubro de 2014

As pulsões e seus destinos (1915)

Antes de escrever sobre o texto: As pulsões e seus destinos (1915) é importante situar algumas questões que envolvem o conceito: Pulsão.

O termo pulsão (Trieb, no original alemão) surgiu na obra de Freud pela primeira vez nos Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, em 1905. Trata-se de um conceito que não se relaciona a algo descritivo ou encarnado. Como disse Freud: “A teoria das pulsões é, por assim dizer,nossa mitologia.”

Freud ao abordar o conceito de pulsão faz paralelos com o conceito de Instinto que designa um comportamento hereditário fixado e que possui um objeto específico. Um cão com fome come ração e isso o satisfaz. Nós humanos temos fome de algo que vai além da comida. Nós escolhemos parceiros, Nós nem sempre sabemos o que queremos, por vezes queremos aquilo que realmente não queremos, Enfim, nossas satisfações vão "além" das necessidades, O que nos torna humanos, nos desnaturaliza. Somos seres pulsionais.

Como na Música: Comida - Titãs:

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...

A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Pra aliviar a dor...

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...


Texto: As pulsões e suas vicissitudes:

Freud começou a escrever o presente artigo em 15 de março de 1915; este e o seguinte (‘Repressão’) foram concluídos em 4 de abril. Interessante que inicia este artigo discutindo sobre a construção de uma teoria científica.
A ciência possui uma verdade, que é construída a partir de dados reais: a descrição de fenômenos ou deduções. Entretanto uma ideia para ser considerada científica: deve ser estruturada em conceitos básicos claros e bem definidos. Esses primeiros dados são agrupados, classificados e correlacionados.
Uma determinada ideia científica inicia-se do interesse de alguém por algum tema. Levantam-se hipóteses a serem aceitas ou refutadas. Enfim, até uma ideia tornar-se ciência passa por indefinições que são fundamentais, para a construção de um determinado saber. Na ciência há verdades e não cabe indefinições, já, no saber,a verdade é singular e própria de cada um,  justamente porque  cabe indefinições.
Freud na construção da teoria psicanalítica, partiu de sua experiência clínica e tentou construir uma ciência. Entretanto Freud não construiu uma verdade, porque nesta não cabe furos, Freud construiu um saber, calcado em indefinições, o que torna seu texto interessante e instigante. Os conceitos psicanalíticos foram se modificando no decorrer de sua obra, mas sem perder sua ideia principal: inconsciente, pulsão, conflito psíquico e a possibilidade de acesso ao inconsciente a partir da fala. Mesmo o sonho só é acessível quando contado por alguém e este encontra alguma verdade singular.
Freud é médico e pesquisador, a ciência tem um lugar privilegiado para este autor. Talvez essa introdução sobre o trabalho científico surja, justamente pela obscuridade do tema ao qual Freud vai abordar: pulsão e os seus destinos. Além disso, os textos deste período são uma tentativa do autor de construir sua metapsicologia. 

A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica. É um método de abordagem de acordo com o qual todo processo psíquico é considerado em relação com três coordenadas: dinâmicatopográfica e econômica.

A pulsão é um conceito limite entre o psíquico e o somático. Trata-se de  um estímulo aplicado no psiquismo. Do ponto de vista fisiológico, a pulsão é um estímulo diferente dos demais que surgem no psiquismo, justamente por  não atuar fisiologicamente. 
Como atua o estímulo pulsional? O estímulo pulsional não surge do mundo exterior, mas de dentro do próprio organismo. Para removê-lo é exigido ações diferentes do que se teria com um estimulo advindo de fora e de impacto único, nestes casos a ação muscular, por vezes reflexa o removeria. 
O impacto da pulsão é constante. Não há como fugir de um impacto que surge de dentro do próprio organismo. Freud utiliza o termo necessidade para caracterizar ação que satisfaz a pulsão.

"O que elimina uma necessidade é a ‘satisfação’. Isso pode ser alcançado apenas por uma alteração apropriada (‘adequada’) da fonte interna de estimulação." As pulsões e seus destinos  (1915)

A necessidade é um impulso irresistível que, de alguma forma, faz com que os atos não possam falhar. Também é aquilo a que é impossível ser indiferente, ignorar ou resistir; a carência das coisas que são imprescindíveis para sobreviver; a falta continuada de géneros alimentares que leva a pessoa a desfalecer; e o risco ou perigo em que se necessita de ajuda imediata. Leia mais: Conceito de necessidade - O que é, Definição e Significado http://conceito.de/necessidade#ixzz3FSMKkpuE


"O sistema nervoso é um aparelho que tem por função livrar-se dos estímulos que lhe chegam, ou reduzi-los ao nível mais baixo possível; ou que, caso isso fosse viável, se manteria numa condição inteiramente não-estimulada. Não façamos objeção por enquanto à indefinição dessa ideia e atribuamos ao sistema nervoso a tarefa - falando em termos gerais - de dominar estímulos. Vemos então até que ponto o modelo simples do reflexo fisiológico se complica com a introdução das pulsões."

Como o próprio organismo "trabalha" no sentido de manter a tensão o menor possível?

A primeira hipótese seria da regulação do estímulo/tensão pelo aspecto econômico. O princípio do prazer/desprazer, regulando o aumento/diminuição da tensão no aparelho psíquico. A via do prazer significaria a diminuição de estímulos e consequentemente da tensão, a partir do livre fluxo de energia(libido) 
O desprazer estaria ligado a um aumento de estímulos e de tensão que requer outros meios à sua liberação/satisfação, para tanto as pulsões tomam diversos destinos  cujo a meta é sempre satisfação e consequentemente a diminuição da tensão no interior do organismo. 

As características das pulsões: pressão, Meta (finalidade), objeto e fonte.

Por impulso [Drang]: A pulsão sempre exerce pressão. Importante pensarmos que a pulsão exerce uma pressão constante e sempre ativa, mesmo quando posiciona-se passivamente.

A Meta ou finalidade [Ziel] é sempre de satisfação. Há um aumento de tensão, esta tem que ser satisfeita. As pulsões são provenientes de diversos órgãos, as metas são diversas. A finalidade última é sempre de satisfação.

"A experiência nos permite também falar de pulsões que são ‘inibidas em sua finalidade’, no caso de processos aos quais se permite progredir no sentido da satisfação pulsional, sendo então inibidos ou defletidos. Podemos supor que mesmo processos dessa espécie envolvem uma satisfação parcial." As pulsões e seus destinos  (1915)

O objeto [Objekt] é a coisa da qual a pulsão é capaz de atingir sua finalidade. Os objetos são variáveis. Não existe um objeto específico que satisfaça a pulsão. O objeto precisa apenas ser adequado para satisfazer. O objeto da pulsão é sempre parcial pela própria constituição humana.  Por exemplo o bebê tem fome, por um tempo chupa chupeta ou os dedos. É importante que o objeto seja parcial, pois é isso que nos movimenta.

"O objeto não é necessariamente algo estranho: poderá igualmente ser uma parte do próprio corpo do indivíduo. Pode ser modificado quantas vezes for necessário no decorrer das vicissitudes que o instinto sofre durante sua existência, sendo que esse deslocamento do instinto desempenha papéis altamente importantes." As pulsões e seus destinos  (1915)

Por fonte [Quelle] As diferentes pulsões se originam no corpo e atuam no psiquismo. As pulsões são qualitativamente semelhantes. Seus efeitos no interior do psiquismo são calcados na quantidade de excitação, e da fonte da qual é proveniente.
As pulsões são distinguidas em dois grupos: as pulsões do eu (autoconservação); e as pulsões sexuais. No texto Sobre o narcisismo: uma introdução(1914) Freud propõe o eixo do movimento pulsional entre uma libido do eu(narcisista) e uma libido para os objetos. Existindo uma dualidade pulsional, um ponto de conflito entre os interesses do eu e os objetais. Nessa dualidade o eixo é de retração ou de investimento. Sendo que a neurose de transferência seria originária deste conflito entre as pulsões do eu e sexuais.

Abaixo segue uma reflexão de Freud sobre o conflito entre as pulsões do eu e sexuais:

"A biologia ensina que a sexualidade não deve ser colocada em pé de igualdade com outras funções do indivíduo, pois suas finalidades ultrapassam o indivíduo e têm como seu conteúdo a produção de novos indivíduos - isto é, a preservação da espécie. Ela mostra, ainda, que dois conceitos, ao que tudo indica igualmente bem fundamentados, podem ser adotados quanto à relação entre o ego e a sexualidade. De um ponto de vista, o indivíduo é a coisa principal, sendo a sexualidade uma das suas atividades e a satisfação sexual uma de suas necessidades; ao passo que, de outro ponto de vista, o indivíduo é um apêndice temporário e passageiro do idioplasma quase imortal, que é confiado a ele pelo processo de geração. "As pulsões e seus destinos  (1915)

Segundo Freud as pulsões que observáveis são as sexuais. As pulsões sexuais são numerosas. Originam-se de múltiplas formas orgânicas. O que isso significa?

Surgem das diversas zonas erógenas. Importante este ponto, pois a princípio o recém nascido é um corpo biológico, a ser libidinizado por um cuidador, geralmente a mãe exerce esta função. Na medida que é  investido e libidinizado por alguém, o bebê é inserido no campo da linguagem. "A mãe dá banhos de afeto, palavras e toques na criança."  O corpo biológico torna-se um corpo erogenizado/libidinizado. A articulação corpo/linguagem.
As pulsões sexuais a princípio atuam independentemente e bem depois são reunidos numa síntese, cuja Meta (finalidade) é o prazer do órgão. Somente quando são reunidas numa síntese é que estarão a serviço da reprodução tornando-se pulsões sexuais.

As pulsões sexuais quando surgem apoiam-se às pulsões de autoconservação(Eu), das quais se desligam pouco a pouco e vão em busca de objetos externos a partir das trilhas construídas pela pulsão do eu que as direciona pelos seus representantes  (Traços mnêmicos?) no aparelho psíquico.

Parte das pulsões sexuais mantém-se junto as pulsões do eu fornecendo-lhes libido.  
As pulsões sexuais agem de maneira agrupada e agem em sacrifício uma pelas outras, são capazes de realizações e mudam de objeto prontamente. Pelo fato de mudarem de objeto, nem sempre o objetivo é sexual. Como no caso da sublimação. 

As pulsões sexuais no decorrer do seu desenvolvimento passam por diversos destinos:

Reversão a seu oposto. 
Retorno em direção ao próprio eu (self) do indivíduo.
Repressão.
Sublimação.

Neste texto Freud abordou: a reversão a seu oposto e o retorno em direção ao próprio eu.

As modificações que passam as pulsões são decorrentes da existência de forças motoras que impedem a satisfação sem alterar seu destino ou a modificação é resultante da defesa à própria pulsão.

A reversão da pulsão a seu oposto ocorre pelaTrata-se da alteração parcial da meta: A meta da pulsão é sempre de satisfação, a mudança é do posicionamento do ativo ao passivo.

Par de opostos: sadismo e masoquismo e o voyerismo e exibicionismo

O masoquismo na realidade é o sadismo que retorna em direção ao próprio eu do indivíduo, O masoquista  se posiciona de uma maneira passiva. 

1.SÁDICO: agride, atormenta (ATIVA)
2.O objeto é abandonado e substituído pelo eu do indivíduo. Com o retorno em direção ao eu.
3.MASOQUISTA: (REFLEXIVO) se posiciona de maneira que atraia para si um SÁDICO para atormenta-lo, agredí-lo (PASSIVA)

verbos “reflexivos”:  a ação se reflete no próprio sujeito que a pratica. 

Sobre a terceira fase, o masoquismo propriamente dito:

"Uma pessoa estranha é mais uma vez procurada como objeto; essa pessoa, em conseqüência da alteração que ocorreu na finalidade instintual, tem de assumir o papel do sujeito." As pulsões e seus destinos  (1915)


Como a dor/desprazer resultante do par sádico e masoquista pode levar à satisfação sexual? 

Freud responde a esta questão afirmando que as sensações de desprazer e dor invadem as excitações sexuais. (ponto de vista orgânico) e produzem um estado prazeroso.  O masoquista encontra prazer nestas excitações sexuais. Já a posição sádica o prazer é oriundo da identificação com a posição masoquista, não pela via da dor, mas da excitação sexual proporcionada. 

No par escopofilia/exibicionismo o olhar(pulsional)olho(biológico) estão envolvidos. O usufruir através do olhar da exibição do próprio corpo e de ser olhado por um outro. Neste par de opostos ocorre a mudança do objeto, ao passo que a finalidade permanece inalterada: satisfação  

1. Olhar como uma atividade dirigida para um objeto estranho. Atividade
2. desistência de olhar para outro e volta o olhar para si. Passividade
3. A pessoa se exibe para ser olhada. (reflexiva)

Sobre a parte três,  pessoa se exibe para ser olhada.  Freud diz:

"A Introdução de um novo sujeito diante do qual a pessoa se exibe a fim de ser olhada por ele. Também aqui dificilmente se pode duvidar de que a finalidade ativa surge antes da passiva, de que o olhar precede o ser olhado."As pulsões e seus destinos  (1915)

Nos dois pares de opostos ocorre o retorno em direção ao eu do indivíduo e a transformação da atividade em passividade convergem ou coincidem.

Entretanto, no caso da escopofilia/exibicionismo  o olho do próprio indivíduo já está em cena no momento do auto-erotismo. Tempo primeiro, antes do tempo da atividade propriamente dita. O investimento da pulsão escopofílica só passa a investir em objetos externos pela via da comparação e por uma parte análoga do corpo do outro. 


A explicação de Freud sobre o início da escopofilia/exibicionismo: 

"Essa fase preliminar é interessante porque constitui a fonte de ambas as situações representadas no par de opostos resultante, uma ou outra dependendo do elemento modificado na situação original. O que se segue poderia servir de quadro diagramático do instinto escopofílico:

() Alguém olhando para um órgão sexual =  Um órgão sexual sendo olhado por alguém

() Alguém olhando para um objeto estranho (escopofilia ativa)

() Um objeto que é alguém ou parte de alguém sendo olhado por uma pessoa estranha (exibicionismo)"  As pulsões e seus destinos  (1915)

No sadismo não esta presente esta fase preliminar, do auto-erotismo,  desde o inicio no sadismo a pulsão investe em determinado objeto estranho.

"Podemos dividir a vida de cada instinto numa série de ondas sucessivas isoladas, cada uma delas homogênea durante o período de tempo que possa vir a durar, qualquer que seja ele, e cuja relação de umas com as outras é comparável à de sucessivas erupções de lava. Podemos então talvez figurar a primeira erupção original do instinto como se processando de forma inalterada, sem experimentar qualquer desenvolvimento. A onda seguinte seria modificada desde o início - sendo transformada, por exemplo, de ativa em passiva -, e seria então, com essa nova característica, acrescentada à onda anterior, e assim por diante. Se fôssemos então proceder a um levantamento do impulso instintual desde seu começo até um determinado ponto, a sucessão de ondas que descrevemos inevitavelmente apresentaria o quadro de um desenvolvimento definido do instinto. " As pulsões e seus destinos  (1915)


A
 reversão de seu conteúdo.
A transformação amor e ódio

Até este momento os destinos da pulsão relacionavam-se a  reversão da pulsão em seu oposto, ou seja  uma modificação em alguma das características da própria pulsão: meta ou objeto. Entretanto a mudança da pulsão em seu contrário é observado no  amor e ódio.


"O caso de amor e ódio adquire especial interesse pela circunstância de que se recusa a ajustar-se a nosso esquema dos instintos. É impossível duvidar de que exista a mais íntima das relações entre esses dois sentimentos opostos e a vida sexual, mas naturalmente relutamos em pensar no amor como sendo uma espécie de instinto componente específico da sexualidade, da mesma forma que os outros que vimos examinando. Preferiríamos considerar o amor como sendo a expressão de toda a corrente sexual de sentimento, mas essa idéia não elucida nossas dificuldades e não podemos ver que significado poderia ser atribuído a um conteúdo oposto dessa corrente." As pulsões e seus destinos  (1915)

É impossível pensar somente no ódio como reverso do amor, pois além dele a indiferença, a insensibilidade que também podem ser avessos do amor. Por que será que pensamos no ódio como avesso do amor? (Talvez a resposta esteja na figura acima)

 Não há só amor no amor e nem só ódio no ódio. Esses afetos são partilhados.

Dois outros aspectos em relação ao amor:Amar a si próprio e ser amado representam ainda posições em relação ao amor relacionados ao narcisismo.Amar - ativo e ser amado - passivo.

Três polaridades psíquicas: 

Nossa atividade psíquica é dominada por três polaridades e suas antíteses:

  • Sujeito (eu) - Objeto (mundo externo),
  • Prazer - Desprazer, e
  • Ativo - Passivo.

A antítese Sujeito(eu)-objeto (externo) ocorre desde o princípio no organismo vivo: frente a qualquer estímulo externo o organismo se defende, já quando o estímulo é interno(do próprio organismo) e pulsional o organismo não consegue se defender pela via mais simples(fuga, estímulo motor). Essa antitese sujeito(eu) - objeto fornece o caráter dinâmico do aparelho psíquico.

O trabalho psíquico é movido também pela polaridade/antítese prazer-desprazer. A tentativa do aparelho psíquico de manter a tensão ao menor nível possível. Trata-se do ponto de vista econômico. 

A pulsão impõe pressão constante no aparelho psíquico, cuja meta é de satisfação de alguma parte do corpo. Frente a isso, pensamos sempre no caráter ativo do funcionamento. Em contrapartida, em relação a polaridade sujeito(eu)/objeto é passivo. Na medida que recebe estímulos, e ativa quando reage a eles. Enfim, as três polaridades se articulam com o intuito de manter a homeostase;

As polaridades/antíteses e o amor/ódio:

Apesar do amor e ódio se apresentarem numa total oposição. O ódio não é o avesso do amor, o ódio está relacionado ao desprazer vivido no organismo. O desprazer vivido em algum órgão trás o ódio.

Segundo Freud: "(...)pode-se afirmar que os autênticos modelos da relação de ódio não provém da vida sexual, mas da luta do Eu por sua conservação e afirmação." As pulsões e seus destinos  (1915)

O amor é oriundo da capacidade do eu em obter prazer auto-eroticamente. Amor e ódio são narcísicos, mas não são consequências um do outro. A partir da instauração do prazer advindo das sensações que isso proporciona, somos levados a ampliar nossas buscas, visando sempre prazer e repudiar o desprazer. Utilizando-nos destes primeiros objetos incorporados e marcados como referência.

A apropriação dos objetos pela via narcísica: eu/amor/prazer não se dá automaticamente, mas sim por estágios, são eles:

1. Incorporação/devoramento - apoderamento. É ambivalente pela própria natureza, ou seja apropria-se do objeto mesmo que este venha aniquilado/ destruído. Essa fase mal se distingue do ódio, no que diz respeito a destruição/aniquilação, o que importa é assimilar o objeto.

A inveja talvez seja um exemplo da articulação ódio/amor e narcisismo, porque por vezes vemos a pessoa tentar destruir aquilo que mais ama. Porque quer ser aquilo( só um sobrevive) que aquele que conquistou. Não é o objeto que se almeja, mas é quem conquistou. 

2. Apenas com a organização genital o amor se torna o contrário do ódio.

"O ódio, enquanto relação com objetos, é mais antigo que o amor. Provém do repúdio primordial do ego narcisista ao mundo externo com seu extravasamento de estímulos. Enquanto expressão da reação do desprazer evocado por objetos, sempre permanece numa relação íntima com os instintos autopreservativos, de modo que os instintos sexuais e os do ego possam prontamente desenvolver uma antítese que repete a do amor e do ódio. Quando os instintos do ego dominam a função sexual, como é o caso na fase da organização anal-sádica, eles transmitem as qualidades de ódio também à finalidade instintual."As pulsões e seus destinos  (1915)

A terceira antítese do amar é a transformação do amar, em ser amado. Que diz respeito a atuação da polaridade atividade e passividade.

"Podemos resumir dizendo que o traço essencial das vicissitudes sofridas pelos instintos está na sujeição dos impulsos instintuais às influências das três grandes polaridades que dominam a vida mental. Dessas três polaridades podemos descrever a da atividade-passividade como a biológica, a do ego-mundo externo como a real, e finalmente a do prazer-desprazer como a polaridade econômica." As pulsões e seus destinos  (1915)


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