O PRINCÍPIO DO PRAZER E PRINCÍPIO DE REALIDADE -
Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico: 1911
A interpretação dos sonhos - 1900
A apreensão da realidade pelo sujeito é sempre particular, vemos o mundo sempre sob a nossa ótica. No texto formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico, Freud diz que o objetivo da neurose é alienar o sujeito da realidade, pois esta é por vezes insuportável se tomada ao pé da letra. O trabalho na neurose é torná-la fragmentada. A realidade tem estrutura de ficção.
O psiquismo busca sempre manter certo equilíbrio no organismo ou seja manter a tensão sempre baixa. Essa manutenção fica a cargo do princípio do prazer-desprazer. O Princípio do prazer mantém esse equilíbrio, através da diminuição da tensão entre os meios interno e externo. São descargas motoras que ocorrem a medida que advém o aumento de tensão.
Desde o nascimento, numa medida de proteção, o psiquismo afasta-se de qualquer evento que possa despertar desprazer, além disso, o próprio organismo cria artifícios para manter a tensão sob controle: quando o recém nascido tem fome, há um aumento de tensão, o próprio organismo alucina um objeto que traria ilusão de satisfação. Ao longo do tempo, essa "miragem" causa uma ausência de satisfação e um desapontamento. Levando o sujeito ao abandono desta tentativa de satisfação. Geralmente esse tipo de "satisfação" perdura no sujeito.
O aparelho psíquico do bebê a partir dessas "alucinações de satisfações" constrói marcas, que tem por objetivo evitar o desgaste de tensão. Por ser algo mítico, essas marcas de prazer trariam a satisfação, a ausência de desprazer. Uma trilha de prazer-desprazer.
O novo torna-se temerário. Na vida percebemos isso, quando sempre buscamos o mesmo, a semelhança, algo que nos tranquiliza, uma calmaria. Contraditório, a medida que investimos na novidade, nos objetos externos, mas será que nossa busca é sempre calcada na tentativa do reencontro?
"O processo primário esforça-se por promover uma descarga de excitação assim acumulada, passa a estabelecer uma identidade perceptiva. O processo secundário, contudo abandona essa intenção e adota outra em seu lugar - o estabelecimento de uma identidade de "pensamento"." O pensar como um todo não passa de uma via indireta que vai da lembrança da satisfação(primeira meta) à um investimento para uma lembrança idêntica, que se atinge através de experiências motoras. Um desvio de caminho (metáfora) como uma maneira de dirimir a tensão. (Interpretação dos sonhos-1900)
A princípio, o investimento em objetos da realidade é parcial, pois parte das pulsões investem auto-eroticamente buscando satisfação no próprio corpo.Do auto-erotismo à situação de busca de objeto (identificações).O próprio investimentos em objetos externos está a serviço do princípio do prazer, pois ao investir em objetos resiste-se ao isso.
1. Busca no exterior aquilo que há no interior.(Função da atenção), 2. tenta assentar essas impressões, àquilo que já estava inscrito (notação/memória), 3. Ação - conduz a descarga motora, daquilo que causa um aumento da tensão (estranho).
Surgindo então o Princípio de realidade, o ato do pensamento. A criação de um tempo de espera. Torna-se possível tolerar o aumento da tensão e o adiamento da descarga. Enfim o princípio do prazer e princípio de realidade se articulam, sendo que o segundo existe para proteger o primeiro. Ou seja, o princípio de prazer é o que vigora no aparelho psíquico e neste processo, o que está em jogo é poupar o consumo de energia. Por conta disso o sujeito luta para manter suas fontes de prazer a disposição. Existe uma grande dificuldade de renunciar à esse prazer-desprazer.
O fantasiar está subordinado ao princípio de prazer, pois inibe a liberação do desprazer. Neste raciocínio estão o brincar,e o devanear no adulto.
Quando fantasiamos temos acessos a todos os personagens, construímos a história calcada no nosso prazer. Ao invés do investimento em objetos reais, buscamos a imagem ao nosso bel-prazer. A priori uma satisfação garantida.
Quando fantasiamos temos acessos a todos os personagens, construímos a história calcada no nosso prazer. Ao invés do investimento em objetos reais, buscamos a imagem ao nosso bel-prazer. A priori uma satisfação garantida.
A substituição do princípio de prazer pelo princípio de realidade não implica na troca ou transformação de um princípio pelo outro, mas sim, um plus na proteção do aparelho psíquico. Algumas atividades da realidade, de alguma forma articulam os dois princípios: prazer-desprazer e realidade: educação, ciência, religião e a arte.
A verdade tem estrutura de ficção - não existe uma verdade verdadeira, pois criamos nossas verdades a partir das coordenadas de prazer (percepção), dos nossos sintomas que nos faz perceber a realidade de maneira singular e do nosso corpo.
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