sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Algumas ideias sobre o desenvolvimento e regressão – Etiologia - S. Freud.

CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A PSICANÁLISE - XXII
Conferências  Introdutórias  sobre  a Psicanálise. Conferência XXII – Algumas ideias sobre o desenvolvimento e regressão – Etiologia (1917)

A questão colocada neste texto é que a libido no humano origina-se de investimentos libidinais em cada parte do corpo,  através de contato com outro semelhante, geralmente a mãe: do autoerotismo às fases oral, anal, fálica, latência e genital momento onde a reprodução.
Outra tese colocada por Freud é de que  a  neurose surge da  impossibilidade de satisfação total da pulsão.  A privação da libido em alguma parte do corpo causa frustração e  faz o sujeito adoecer.  Os  sintomas são os  substitutos à satisfação frustrada.

Neste texto Freud escreve que, a neurose surge através da inibição e regressão dos investimentos libidinais. A ultrapassagem da libido em cada uma das fases do desenvolvimento (oral, anal, fálica, latência e genital) pode  ocorrer  de maneira diferente e não encontre  êxito em algum dos momentos, ou ainda, não ser superada completamente.  Quando isso ocorre parte das funções serão retidas permanentemente nesses estádios iniciais; ou o quadro total do desenvolvimento será limitado pela inibição do desenvolvimento.

Freud faz uma analogia do desenvolvimento libidinal no corpo, a regressão e fixação com o processo civilizatório: nos períodos iniciais da história do homem, um povo inteiro abandonava determinado local de morada e procurava uma nova localidade, nesta migração para novos lugares, pequenos grupos fixavam-se nos locais de parada, enquanto a maioria seguia adiante.


A fixação é  a demora de uma tendência parcial num estágio anterior e a  regressão é o retorno com certa facilidade aos  estágios anteriores. “Quanto mais intensas as fixações em seu rumo ao desenvolvimento, mais prontamente a função fugirá às dificuldades externas, regressando às fixações - portanto, mais incapaz se revela a função desenvolvida de resistir a obstáculos externos situados em seu caminho.” S. Freud. Conferências  Introdutórias  sobre  a Psicanálise. Conferência XXII – Algumas ideias sobre o desenvolvimento e regressão – Etiologia (1917).


As fixações e regressões dependem uma das outras, para acontecer a regressão é necessário ocorrer a fixação. Quanto maior a quantidade de fixações, mais haverá regressões retornando ao “local” da fixação. A regressão seria uma espécie de fuga aos obstáculos externos. Quais seriam esses obstáculos externos? Como funcionaria a regressão?

Há dois tipos de regressão ambas  encontradas nas neuroses de transferência e desempenhando  importante papel: o retorno aos objetos de natureza incestuosa que anteriormente foram investidos e o retorno da organização sexual ( aos estágios anteriores)

Apesar de processos parecidos, a regressão e o recalque não são análogos, o recalque é o processo pelo qual um ato admissível à  consciência é tornado inconsciente –afastado para dentro do sistema inconsciente e  a regressão, o ato psíquico inconsciente é impedido de ter acesso ao sistema  vizinho (pcs/Ics) sendo repelido pela censura.

O recalque apresenta um sentido topográfico (lugar) e  dinâmico(força). A regressão é um conceito descritivo, não é possível localizá-lo no Aparelho psíquico.

Na neurose histérica estaria presente a regressão da libido em relação  aos primitivos objetos sexuais incestuosos. sendo o  mecanismo preponderante o Recalque. Já  na neurose obsessiva há regressão da libido ao estádio preliminar da organização sádico-anal e  isso é  fundamental na constituição dos sintomas.
“A impulsão de amor, quando isso aconteceu, é obrigada a disfarçar-se em impulsão sádica. A ideia obsessiva ‘Eu gostaria de te matar’ quando despojada de determinados acréscimos não casuais, contudo indispensáveis não significa, no fundo , outra coisa senão: ‘Eu gostaria de me deleitar com amor’ ” S. Freud. Conferências  Introdutórias  sobre  a Psicanálise. Conferência XXII – Algumas ideias sobre o desenvolvimento e regressão – Etiologia (1917). P.402

Em relação aos  modos de satisfação, tantos os impulsos pulsionais, quanto os objetos  a serem investidos são plásticos se adaptam.  Há métodos de deslocamentos  e aceitação de substitutos a fim de proteger o organismo justamente da frustração. A sublimação é um destes métodos. Entretanto todos esses métodos são falíveis, justamente porque existem situações e momentos de privações. A fixação libidinal  representa o fator interno que predispõe a neurose (por exemplo sádico anal na Neurose Obsessiva)  e a frustração/privação representa o fator externo na etiologia da neurose.   

Em seguida Freud formula série de perguntas sobre a constituição da neurose:
A neurose é resultado inevitável da própria constituição ou advém de algum trauma decorrente da experiência de cada um?

Elas são causadas pela fixação da libido ou pela pressão da frustração?

A causa da neurose é exógena e endógena,  proveniente da própria constituição sexual (Libido e pulsão)  e da experiência. A fixação/privação da libido e privação/frustração. 
Além da neurose existe  a perversão, que apresenta grande ‘adesividade’ libidinal  em relação aos objetos. Freud neste texto aponta a perversão como algo oposto da neurose: numa precoce escolha de objeto anormal, a libido ficaria ligada neste por toda  vida. Em que sentido se opõe a neurose? No neurótico há plasticidade em relação ao objeto e a libido e o sintoma como marca disso.

A marca da  neurose é o  conflito psíquico: enquanto uma parte da personalidade defende a causa de determinados desejos, outra parte se opõe a eles e recua/retroceda.

Há certas condições para que um conflito se torne patogênico:  O conflito advém da frustração, de   quando a libido impedida de encontrar satisfação é forçada a procurar outros objetos e caminhos. Essa substituição gera desaprovação por parte da personalidade, impossibilitando o novo método de satisfação tal como se apresenta. Resultando a formação do sintoma. Certas tendências libidinais encontram vias  indiretas de satisfação submetendo-se a deformações e atenuações. Qual o sentido do termo “personalidade” utilizado por Freud?

·    Para uma frustração externa tornar-se patogênica é preciso acrescentar-lhe uma frustração interna. Externa e interna correspondem vias e objetos diferentes.
     O conflito patogênico é decorrente das  pulsões do Eu  e pulsões sexuais. No início não há oposição entre a libido sexual e do Eu ou aos interesses de autopreservação, contrario disso, o eu tenta manter em cada estádio a harmonia com sua organização sexual tal como se apresenta em cada momento tentando ajustar-se. Entretanto quando ocorre fixações da libido e algum ponto do desenvolvimento (da libido) , o eu pode tornar-se “nesse sentido” pervertido ou adotar uma atitude não complacente: O que significa ao eu sustentar a posição pervertida em relação a  fixação da libido? Quando sustenta a posição não complacente o eu experimenta um recalque ali onde a libido sofreu uma intensa fixação. Essa tendência ao conflito depende tanto do desenvolvimento do eu como do da libido.
Precondição à neurose: Frustração; Fixação da libido e; Tendência ao conflito surgida do desenvolvimento do eu, a qual rejeita esses impulsos libidinais.
As pulsões  de Autopreservação (Eu) e pulsões Sexuais:
Como separar algo da necessidade ou da autopreservação, do prazer sexual? A boca, por exemplo, satisfaz a necessidade (Fome) e de prazer sexual. O corpo humano é erógeno, mas também apresenta necessidades para satisfazer-se. Por outro lado existe a imposição cultural de controle sobre o prazer. Quanto mais educados, mais distantes do prazer? Ou quanto mais neuróticos menos prazeres? Curto circuito que Freud tenta explicar a partir do conflito pulsional e o fato de sermos humanos que nos tira parcialmente  da filogenética.

“Ora é digno de nota o fato de que as pulsões sexuais e pulsões de autopreservação não se comportam da mesma maneira para com a necessidade real. (nota de rodapé: “reale not”, isto é, as exigências impostas pela realidade. Para o que segue ,cf. o parágrafo (3) de “formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental” (1916b) )  As pulsões de autopreservação, e tudo com eles se relaciona são muito mais fáceis de educar: cedo aprendem a adaptar-se à necessidade e a moldar seus desenvolvimentos de acordo com as instruções da realidade. Isto se compreende, pois eles não poderiam obter os objetos de que necessitam, se agissem de alguma outra maneira; e sem esses objetos, o indivíduo inevitavelmente pereceria. As pulsões sexuais são mais difíceis de educar, de vez que, no início, não precisam de objeto. Como estão ligados, à semelhança de parasitas, por assim dizer, às outras funções corporais  e conseguem sua satisfação auto eroticamente no próprio corpo da pessoa, eles estão, de inicio, retirados da influencia educadora da necessidade real, e conservam essa característica de serem rebeldes e inacessíveis à influência (isto descrevemos como sendo irracional) na maioria das pessoas, em certo sentido, por toda vida. Ademais, via de regra, a educabilidade de pessoas jovens chega ao fim quando suas necessidades sexuais surgem em toda sua plenitude.” S. Freud. Conferências  Introdutórias  sobre  a Psicanálise. Conferência XXII – Algumas ideias sobre o desenvolvimento e regressão – Etiologia (1917).

As pulsões sexuais em sua trajetória nos estádios atuam buscando prazer e isso se mantém, já as pulsões do Eu têm a princípio o mesmo objetivo: obter prazer, entretanto posteriormente o objetivo altera-se para manter o desprazer longe  do aparelho  psíquico.
“O eu descobre que lhe é inevitável renunciar à satisfação imediata, adiar a obtenção de prazer, suportar um pequeno desprazer e abandonar inteiramente determinadas fontes de prazer.” S. Freud. Conferências  Introdutórias  sobre  a Psicanálise. Conferência XXII – Algumas ideias sobre o desenvolvimento e regressão – Etiologia (1917).  Deixando de ser governado pelo principio do prazer obedecendo ao princípio de realidade que também busca obter prazer, mas levando  em consideração a realidade.  Prazer adiado e diminuído.



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