quarta-feira, 9 de abril de 2014

Escritores Criativos e devaneios - 1908

O escritor criativo faz o mesmo trabalho que as crianças fazem quando brincam: ambos levam muito a sério essa atividade.  Investem nisso grande quantidade de afeto. Tanto a criança quanto o criativo conseguem separar aquilo que é realidade daquilo que é ficção(fantasia).

O escritor criativo faz essa separação entre realidade e fantasia quando além da atividade prazerosa de fantasiar encontra o reconhecimento do seu trabalho no mundo exterior, unindo as duas esferas: prazer e realidade.

A criança a medida que cresce abandona aos poucos suas brincadeiras a fim de levar a vida mais a sério. . Abre mão do brincar, mas continua a fantasiar e não tem vergonha deste ato, criando seus sonhos a partir de objetos reais, falando disso o tempo todo: através do super herói que ele quer ser, a princesa que  almeja ser...  As pessoas jamais renunciam ao prazer. O adulto envergonha-se de suas fantasias e devaneios escondendo isso das outras pessoas imaginando que só ele fantasia. 

Essa diferença de comportamento entre crianças e adultos em relação a fantasia ocorre porque a fantasia da criança advém do desejo de ser grande, a partir dos seus heróis e heroínas.  A fantasia auxilia em sua constituição como sujeito. Articulando aquilo que imagina de si, àquilo que é falado dos pais, o que ela supõe que eles esperam dela, a influencia cultural e o seu corpo ainda em formação. Passado-Presente e futuro se articulam no fantasiar infantil. A criança não tem motivos em ocultar esse desejo. O fantasiar e o devaneio no adulto está relacionado ao infantil àquilo que é proibido. 

Existe também em nossa cultura uma proibição ao fantasiar do adulto. Quantas vezes ouvimos: "Pare de sonhar", "Aquele ali só vive no mundo da lua." 

As fantasias são precursores psíquicos imediatos aos penosos sintomas que afligem os neuróticos.   Os sonhos e as fantasias são realizações de desejo inconscientes e satisfação do Eu. Por conta da censura advém de maneira distorcida.  

Nos sonhos, nas fantasias e nos devaneios  há sempre heróis/vilões, vitimas/algozes, amante/amado. O ato de fantasiar e sonhar realizam também algo do Eu pela via da identificação.  Nas fantasias somos indestrutíveis, apesar das intempéries da realidade.  

Neste texto de Freud não há ainda aspectos das fantasias que  foram abordados pelo autor posteriormente. No  devaneio do adulto há uma reconstrução de um sofrimento vivido. Isso nos faz pensar em  qual a realização/satisfação neste sofrimento criado pelo próprio sujeito? O sofrimento construído nos sonhos e nas fantasias são realizações de desejos ou satisfação da pulsão?









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