Informações Técnicas
Título no Brasil: Camille Claudel
Título Original: Camille Claudel
País de Origem: França
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 175 minutos
Ano de Lançamento: 1988
Site Oficial:
Estúdio/Distrib.:
Direção: Bruno Nuytten
A trajetória de Camille Claudel já foi retratada de diversas
maneiras. Através de sua biografia escrita por Paris(1988), Leonard(1993),
Wahba(1997) e Guatimosim(1998), além disso o filme de Bruno Nuytten(1993) , que
retrata sua vida: início, auge da carreira, paixão por Rodin,seu declínio e a
loucura.
O início desta história data de 08 de dezembro de 1864,
quando nasce Camille, numa pequena cidade do distrito francês de Champagne. A
menina é a mais velha dos três filhos da família, vive uma infância e
adolescência conturbadas, ao lado dos pais e dos irmãos,Paul e Louise. Camille, ocupa um lugar bastante delicado nesta família, a
incumbência de ocupar o lugar de um morto: o irmão falecido ainda criança.
A presença de um ambiente familiar conflituoso, regado a
constantes brigas e desentendimentos, devia-se principalmente a disparidade de
opiniões entre seus pais, sobretudo no que dizia respeito ao desenvolvimento de
seu talento artístico o que, no entanto, não a impedia de prosseguir em sua
ânsia de reconhecimento.
O pai, alguém que a
incentivava em sua carreira, mas que também aquele que mais lhe cobrava
resultados. Queria que Camille ocupasse uma posição de prestígio.
O pai, totalmente dedicado à formação dos filhos, não media
esforços para proporcionar-lhes uma educação de primeira classe em Paris, ainda
que isto lhe custasse trabalho árduo ou mesmo freqüente distanciamento da
família. Em algumas biografias, existe uma contradição entre essa figura
dedicada e por outro lado figura autoritária, distante e de temperamento
difícil.
A mãe de Camille, por sua vez, é caracterizada: uma mulher
fria e muito rígida, presa a convenções sociais e as aparências. Mostrava-se
avessa a criatividade da filha, apresentava certa rivalidade com a filha em relação ao pai, principalmente porque seu marido investia e apostava no sucesso da filha como artista. A mãe manifestava-se sempre no sentido de repudiar
sua arte.
Paul, seu irmão quatro anos mais novo, era alguém que
apoiava Camille, e no futuro tornou-se um escritor francês. Essa amizade entre
os irmãos, é repleta de uma aura misteriosa: trocas de confidencias calorosas
entre ambos e alguns boates que entre eles existiu relações incestuosas, porém
isso não foi confirmado.
Camille, ainda tinha uma irmã – chamava-se Louise, o mesmo
nome da mãe e a única a fracassar em suas habilidades voltadas para a música. A mãe e Louise
mantinham uma aliança, onde Camille era excluída. No futuro, Camille através de uma obra condensou as
duas figuras num único significante –
Louise.
As figuras de Louise e de Rodin tornaram-se fantasmas
persecutórios do delírio de Camille.
De acordo com a história representada no filme sobre a
trajetória da artista Camille, sua obra teria iniciado a partir do trabalho com
barro que, que no princípio, era retirado do próprio quintal de sua casa e
cujos modelos ela tomava em seu próprio lar, seus próprios parentes posavam para
que ela esculpisse.
Chama a atenção a paixão que Camille tinha por seu ofício, pois seu olhar era totalmente voltado para sua arte, até se apaixonar por Rodin.
Aos quinze anos, após ter criado três peças de destaque, seu
talento foi reconhecido por Alfred Boucher – o qual levou Camille a trabalhar
com Rodin.
Rodin, era famoso nesta época e tomou Camille como aluna,
como era muito competente em sua arte, Camille logo passou a categoria de
colaboradora. Ajudou-o a esculpir, entre outras obras o trabalho intitulado: “Porta do inferno”. Apesar de talentosa que assina suas obras é Rodin, ela é tida por ele como talentosa.
Camille a medida que auxiliava Rodin em sua obra, ia
se aperfeiçoando e por volta de 1883, tem início o romance ardente entre os
dois, uma relação que duraria cerca de 15 anos. Como se Camille deslocasse sua obsessão pela escultura para Rodin.
Rodin por sua vez a instala num estúdio
situado num antigo edifício clássico quase em ruínas, criando um espaço para o
encontro amoroso do casal, porém ele se mantém casado, mostrando-se incapaz de
deixar essa mulher e assumir Camille, nem mesmo quando ela lhe diz que está grávida e que sofre um aborto. Amor clandestino entre o mestre e sua aprendiz.
Sua mãe e irmã a criticavam muito por Camille manter o
romance com Rodin, um relacionamento ilícito. Isso se agravava muito porque sua
família tinha que mantê-la financeiramente.
Sua obra, como sua vida, é marcada por momentos de
ascensão e declínio, trabalhando sempre no limite entre o desejo e o gozo
trágico.
Por volta de 1892/1893, Camille decide abandonar o
estúdio alugado por Rodin, passando a viver e trabalhar sozinha, dando início a
separação, mas não ao rompimento definitivo com o amante. No que diz respeito a
sua arte, queria ser reconhecida pela sua própria obra, porém amorosamente
mantinha seus encontros e correspondências com Rodin.
A partir de 1894, a relação de Camille com Rodin
começa a desmoronar, marcando sua entrada no caminho que a levaria à decadência
da mulher e da artista.
Através de sua produção artística é possível
vislumbrar o abalo da relação entre Camille e Rodin, imprimindo obras em tons
suplicantes.
Em 1898, quando sua relação com Rodin já esta
estremecida, Camille através de sua obra “A
idade madura”, tenta expor publicamente sua relação com Rodin – até esse
momento, mantida na clandestinidade por ele, numa tentativa de ver-se assumida
como mulher.
Rodin, não permite que essa obra seja levada a
publico, graças ao prestígio que ele tem junto ao diretor da escola de Belas
Artes. A partir desta intervenção de Rodin, o relacionamento entre ambos
termina.
Idade madura |
Esta obra “A
Idade madura”, representa a trajetória de sofrimento, vazio e renúncia
frente à impossibilidade de viver um verdadeiro amor que a reconhecesse e a
tomasse como mulher.
No mesmo ano, numa representação ainda mais drástica a
obra: “A verdade” , obra na qual, não
só a personagem, mas principalmente a artista nela retratada, parece não dispor
mais de recursos para manter-se psiquicamente frente ao fracasso e ao vazio em
que se transformara sua existência, o que se observa na figura da dançarina
cuja a cabeça se sustenta apenas sobre o toco de um ombro, único suporte que
lhe restou depois de ter os braços decepados.
A partir desta obra é possível verificar a dimensão do
dano causado em Camille, frente o não reconhecimento por Rodin, como mulher ou
como artista, deixando-lhe entregue a uma vivência de despedaçamento e a uma
sensação de lhe terem sido roubados todos os instrumentos capazes de lhe
restituir o potencial criativo, tal como aparece em seus delírios, como se
verdadeiramente seus braços tivessem sido cortados. Após essa obra Camille foi
isolando-se, e ano a ano destruiria seu acervo, em 1913 foi internada.
Camille, tem 30 anos, quando termina o relacionamento
com Rodin, sua vida amorosa é dada por encerrada. Camille passa a descrever os
anos passados de sua juventude como analogias dos épicos de Ilíada e Odisséia,
chegando a explicitar numa carta endereçada ao negociante Eugene Blot, o
desamparo e a estranhesa por ela vivenciados nos últimos tempos, ao dizer que,
diante de sua historia:
“Seria necessário um Homero para contá-lo. Eu não vou
tentar fazê-lo hoje e não quero entristecer você. Eu cai num vazio. Eu vivo num
mundo que é tão curioso e estranho. Este é o pesadelo dentro do sonho que era a
minha vida.”
Neste momento, Camille já está na pobreza, quem a
sustenta financeiramente é o pai e o irmão, sem que a mãe e a irmã saibam. Não
comercializava mais suas obras, pois se recusava fazê-lo. Numa critica a Rodin,
pois ele comercializava as obras dele. Camille, dia após dia, situava Rodin na
posição de oponente, num ódio voraz. Acreditava que ele roubava suas idéias,
que contratava pessoas para estragar sua arte, perseguí-la, chegando ao ponto
de não comer determinados alimentos, pois acreditava que estavam envenenados.
Em 1913, morre o seu pai e após alguns dias é
internada à força num hospício, por decisão conjunta entre o irmão e sua mãe.
Não produziu mais suas obras. Seria como esperasse por seu fim, aguardando o
desfecho inevitável.
Algumas
considerações do filme “Camille Claudel” sob a ótica da psicanálise:
Será que existiria alguma possibilidade de Camille Claudel não enlouquecer?
A primeira relação de amor que a menina tem é com sua mãe, A menina permanecerá para sempre ligada à mãe (ou a substitutos dela) esperando que esta lhe dê uma identificação feminina.
Diante de sua falta de lugar enquanto mulher só resta a essa fazer-se objeto para o Outro não fazendo concessões, oferecendo seu corpo, sua alma, seus bens, como aponta Lacan em Televisão (1974).
O mundo feminino que a mãe de Camille teria a compartilhar, era o avesso daquilo que Camille queria. Mãe e filha eram rivais não do amor do pai, mas das apostas do pai. A medida que ele apostava no sucesso da filha, demonstrava para mãe que desvalorizava o mundo dela.
A quem Camille poderia recorrer?
Esse trecho extraído de uma carta de Sra. Claudel ao diretor do asilo em que Camille estava internada:
Diante de sua falta de lugar enquanto mulher só resta a essa fazer-se objeto para o Outro não fazendo concessões, oferecendo seu corpo, sua alma, seus bens, como aponta Lacan em Televisão (1974).
O mundo feminino que a mãe de Camille teria a compartilhar, era o avesso daquilo que Camille queria. Mãe e filha eram rivais não do amor do pai, mas das apostas do pai. A medida que ele apostava no sucesso da filha, demonstrava para mãe que desvalorizava o mundo dela.
A quem Camille poderia recorrer?
Esse trecho extraído de uma carta de Sra. Claudel ao diretor do asilo em que Camille estava internada:
Eu recebi uma nova carta de minha filha C. Claudel informando-me de que esta muito infeliz e que deseja ser transferida para Saint-Anne, em Paris. Eu me pergunto como ela se encontra aí para me enviar cartas por outros intermediários e não pelo médico ou por
vocês mesmos. Eu me encontro excessivamente preocupada com isso porque ela bem pode da mesma forma enviá-las a outras pessoas (...) eu não quero, sob nenhum pretexto, retirá-la de vocês (...) quanto a recebê-la novamente em minha casa ou reenviá-la à sua própria residência, como ela estivera outrora, jamais, jamais. Eu tenho 75 anos, eu não posso ocupar-me de uma garota que tem idéias tão extravagantes (...) que nos detesta e está pronta a nos fazer toda sorte de mal que puder (...). Guardem-na, eu os imploro (...). Por fim, ela porta todos os vícios, eu não quero revê-la, ela nos faz tanto mal3 . (LESSANA,2000, p. 244).4
Camille buscou o reconhecimento, a fim de realizar o desejo de seu pai: ser uma exceção entre os Claudel, mas ser exceção a deixaria de fora de uma linhagem: os Claudel. Algo impossível de ser realizado. Um impasse que fazia Camille ir do sucesso ao fracasso e solidão. A medida que o pai investia seus bens no sucesso da filha, a dívida dela para com ele só aumentava.
Camille, não conseguiu realizar o desejo de seu pai, de tornar-se
reconhecida a partir de sua arte. Fracassou
enquanto mulher, pois não conseguiu um relacionamento amoroso que a
reconhecesse.
Viveu 15 anos de um amor ardente, mas que não pode
sair da clandestinidade. Rodin era ao mesmo tempo: objeto amoroso e um rival, pois ela só poderia ser reconhecida de fato como artista se rompesse com Rodin ou se ele desaparecesse. Eles jamais romperem, porque Rodin a perseguia em seus pensamentos e em suas idéias persecutórias. Ao que parece Camille deslocava de objeto em objeto visando: fracasso, a solidão e a morte.
Referências bibliográficas:
RIBEIRO M. A.C. “Um
certo tipo de Mulher: mulheres obsessivas e seus rituais. Rio de Janeiro. Rios
Ambiciosos, 2001.
ROZA, G.A.L. “Freud
e o inconsciente”.Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 1992.
SANADA, E.R. “A
mulher e o (não) saber: Um estudo psicanalítico sobre os avatares da
sexualidade feminina. Sâo Paulo. Tese de Doutorado – Universidade de São Paulo,
2006.
WAHBA, L.L. “Camille
Claudel: criação e loucura. Rio de Janeiro, Rosa dos Ventos, 1997.
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