terça-feira, 4 de setembro de 2012

“Édipo – O complexo do qual nenhuma criança escapa.”Nasio

O Complexo de Édipo é considerado a pedra fundamental da psicanálise. Seu nome foi retirado do mito grego do rei Édipo, que ao nascer recebeu um oráculo que dizia que ele mataria seu próprio pai e se casaria com a sua mãe. Mesmo sendo tomadas todas as providências para que a profecia não se cumprisse, ele acabou matando o seu pai (sem saber quem era) e casando-se e tendo um filho com a sua própria mãe (só descobrindo posteriormente que era sua mãe).

A utilização deste mito como um conceito psicanalítico surgiu para explicar questões encontradas na prática clínica: como se forma a nossa sexualidade e de como alguém se torna neurótico.

O que é uma neurose?

É um sofrimento psíquico provocado pela coexistência de sentimentos contraditórios de amor, ódio, medo e desejos incestuosos para com quem se ama e de quem se depende. Sendo assim, o Édipo já se trata de uma neurose. A primeira neurose “saudável” na vida de um pequeno sujeito. De um lado há um afluxo pulsional transbordante e de outro um eu infantil em formação, sendo assim há uma defasagem, o Eu da criança ainda não dispõe de meios para conter a escalada impetuosa de seus desejos. A neurose no adulto é o retorno da angústia da castração traumatizante, vivida durante a infância.  

O Complexo de Édipo nos meninos


O Complexo de Édipo nos meninos


A partir dos três anos de idade, os meninos focalizam o seu prazer sobre o pênis. Nessa idade, o pênis se torna a parte do corpo mais rica em sensações e se impõe como a zona erógena dominante. Objeto mais amado e o que reclama mais atenções. 

Num primeiro momento para criança tanto os meninos como para as meninas: todas as criaturas do mundo são dotados de pênis (falo). Essa idolatria ao falo vai ser acompanhada da angústia de perdê-lo. 

O menino, excitado sexualmente, vê surgir dentro de si uma força misteriosa, até então desconhecida: o impulso de se dirigir ao outro, ou, mais exatamente, de se dirigir aos seus pais - aos corpos deles - para ali encontrar prazer. Mas que desejo é esse? É um desejo sexual. O desejo sexual do menino em direção a seus pais não é um desejo exclusivamente genital pelo fato de ser sexual.

Desejo de possuir o corpo do outro(mãe). Desejo de ser possuído pelo pai e desejo de suprimir e/ou ser suprimido o/pelo pai. A satisfação de  qualquer um desses desejos incestuosos é impossível. Por conta da impossibilidade da realização concreta destes desejos:

O menino cria fantasias que lhe dão prazer ou angústia, mas que, de toda forma, satisfazem imaginariamente seus desejos. As fantasias  são cenas imaginárias, geralmente conscientes, que propiciam certo consolo à criança. Ela tem como função substituir uma ação ideal que baixa a tensão do desejo e propicia prazer. 

O menino neste momento masturba-se e sofre sucessivas ameaças dos pais ou cuidadores, por conta disso. Num primeiro momento essas ameaças são deixadas de lado pelo menino até que o menino tem a visão do corpo nu feminino, e que este é  desprovido de pênis. Enfim, percebe que existem seres castrados, sem pênis. 

Então, surgem as fantasias de angústia, pois, se existem seres que não possuem pênis, ele também pode perder o seu. Essas fantasias de angústia são: o medo de ser castrado pelo pai repressor, o medo de ser castrado pelo pai sedutor e o medo de ser castrado pelo pai rival.

O menino deve fazer uma escolha: salva seu falo-pênis ou fica com a sua mãe. Por causa do medo de perder seu falo-pênis, ele renuncia aos pais como objetos sexuais e recalca os seus desejos inconscientes.

A identidade sexual é instalada progressivamente pelo seu contexto familiar, social e lingüístico, assim como pelas sensações erógenas que emanam de seu genital e a atração pelo pai de sexo oposto. Antes do Édipo, a criança ainda não saberia dizer se é menino ou menina, que o pai é um homem e a mãe uma mulher. Através do Édipo é que ocorre a partilha dos sexos. Entretanto, é só na puberdade que essa identidade vai se consolidar.

O Complexo de Édipo nas meninas:

Complexo de Édipo nas meninas

O Complexo de Édipo nas meninas se desenvolve de maneira diferente que nos meninos.

Até os três anos aproximadamente, a menina  julga deter, assim como o menino, um pênis (falo), e se sente onipotente. Um evento crucial ofuscará essa situação: ela verá o corpo nu masculino, dotado de um pênis(falo), e verá que o menino possui algo que ela não tem. 

A reação da menina é de decepção,té então, fiava-se em suas sensações de poder vaginal e clitoridiano, que a confortavam em seu sentimento de onipotência. Julga então que o poder está no corpo do outro, no sexo masculino. A menina vê-se assim dolorosamente despossuída, pois o cetro da força não é mais encarnado por suas sensações erógenas, mas pelo órgão visível do menino.

A partir desta constatação a menina sofre com a dor de ter sido privada do falo. A menina vive a dor de uma privação, de uma perda. 

A menina sofre uma dor real - uma dor de ter sido privada de algo que ela julgava possuir. Ela responsabiliza a mãe por não ser portadora do falo, pois a mãe como ela, também é desprovida de falo. É nesse exato momento que a menina esquiva-se da mãe.

Entra em cena a figura do pai, o grande detentor do (pênis) falo. É quando a menininha se volta para o pai reivindicando seu poder e sua potência. Quer ser tão forte quanto o pai e ter de volta aquilo que nunca teve. Impossível!

É então que o pai lhe fala: "Não posso lhe dar o falo, simplesmente porque esse falo não existe! O falo que você me pede é um sonho, uma criação".. Claro que nenhum pai diz isso à filha; esse pai é um pai caricatural, fantasiado.  Essa recusa do pai é recebida pela filha  como perda, dor e fim a toda esperança de um dia possuir o mítico falo. 

Entretanto mesmo assim lança-se agora com todas as forças nos braços do pai não mais para lhe arrancar o poder, mas para ser ela mesma a fonte do poder. Sim, ela queria ter o falo, mas agora ela quer ir além, ela quer ser o falo, quer ser o próprio falo, a favorita do pai.

Em virtude do não, da primeira recusa paterna, surge agora o desejo incestuoso de ser possuída por ele, de ser o falo do pai. Assim, ao sexualizar o pai, a menina entra efetivamente no Édipo.  A fantasia de prazer que melhor ilustra o desejo edipiano de ser possuída pelo pai é geralmente expressa pela frase: "Quando crescer, vou me casar com o papai".

Essa entrada no Édipo é também o momento em que a mãe, após ter sido afastada, volta à cena e fascina a filha por sua graça e feminilidade. A menina então, espontaneamente, aproxima-se e identifica-se com a mãe. O comportamento edipiano da menina inspira-se completamente no ideal feminino encarnado pela mãe, na observação e no aprendizado de como seduzir um homem.

É nessa fase que as meninas adoram observar a mãe se maquiando ou se embelezando. Mas é aqui que a mãe é vista, além de como um ideal, como uma grande rival. Assim, realiza-se o primeiro movimento de identificação da filha com o desejo da mãe: o de ser a mulher do homem amado(pai) e dar-lhe um filho.

O pai faz uma nova recusa: - "Não a quero como mulher!" levando a filha a identificar-se com a pessoa do pai. Uma vez que a menina não pode ser o objeto sexual do pai, ela quer ser então como ele. "Já que você não quer saber de mim como mulher, então vou ser como você!". A menina aceita recalcar o seu desejo de ser possuída pelo pai, sem com isso renunciar à sua pessoa. 

A menina  obstina-se audaciosamente a se apoderar do pai. Ela mata seu pai fantasiado, mas o ressuscita como modelo de identificação. Identificada com os traços masculinos do pai após ter se identificado com os traços femininos da mãe, a menina enfim abandona a cena edipiana, abrindo-se agora para os futuros parceiros de sua vida como mulher.

Notem que as duas identificações constitutivas da mulher - identificação com a feminilidade da mãe e com a virilidade do pai - foram desencadeadas por duas recusas do pai: recusa de dar o falo à filha e recusa de tomá-la como falo.